Quem protagonizou, afinal, o melhor mercado de inverno entre os clubes portugueses? Não é fácil responder a esta questão, até porque, para o fazer, devemos analisar o desempenho das equipas a diferentes níveis durante a janela de transferências. Nomeadamente, se foram colmatadas as lacunas dos respetivos plantéis com a contratação de reforços ou se os jogadores-chave permaneceram no clube. Além disso, importa analisar se uma determinada equipa melhorou do ponto de vista desportivo ou se, por outro lado, foi dada primazia à venda de atletas por valores avultados, contribuindo para a saúde financeira do clube, mesmo que o plantel tenha saído prejudicado.

Se priorizarmos a realização de um encaixe económico significativo numa perspetiva de equilíbrio de contas, então podemos dizer que o FC Porto foi quem teve o melhor mercado de inverno em Portugal. Afinal, estamos a falar de uma equipa que faturou 110 milhões de euros com a venda de dois jogadores por valores manifestamente superiores aos seus valores de mercado. Vender Nico González por 60 milhões de euros e Galeno por 50 milhões é muito positivo de um ponto de vista meramente económico, na medida em que dificilmente o FC Porto conseguiria esticar ainda mais a corda e receber uma quantia superior por qualquer um deles, por muita qualidade que tenham – e têm, apesar de, na minha opinião, não valerem tanto. Há, no entanto, um senão: os dragões ficaram, indubitavelmente, mais fracos no plano desportivo, pois perderam dois titulares indiscutíveis que foram substituídos por dois jovens – Tomás Pérez e William Gomes – cujo rendimento, sobretudo no curto prazo, é uma enorme incógnita. Aliás, o expectável é que ambos passem por períodos de adaptação e que não consigam, para já, ter o mesmo impacto que tanto Nico como Galeno já possuíam na equipa azul e branca.

Contrariamente ao FC Porto, o Benfica não perdeu nenhum habitual titular, tendo-se limitado a vender Niklas Beste, mas não foi capaz de ‘limpar a casa’, mantendo no seu plantel vários excedentários que aparentam não entrar nas contas do treinador Bruno Lage. Mais do que isso, reforçou-se com jogadores para posições que já se encontravam saturadas, nomeadamente as de extremo e ponta de lança. Se não, façamos as contas: com a chegada de Andrea Belotti, os encarnados já têm quatro opções para o centro de ataque, pois Vangelis Pavlidis, Arthur Cabral e Zeki Amdouni continuam na Luz. Ao passo que a contratação de Bruma aumenta para sete o número de soluções para as alas: além do ex-SC Braga, há que contar também com Ángel Di María, Kerem Aktürkoğlu, Andreas Schjelderup, Tiago Gouveia, Gianluca Prestianni e Benjamín Rollheiser.

Bem mais tranquilo foi o mercado de inverno do Sporting, que viu sair apenas um jogador, Marcus Edwards, que perdeu espaço em Alvalade e que dificilmente vai deixar saudades, principalmente se tivermos em conta a importância praticamente nula que teve na presente temporada, na qual esteve apenas 106 minutos em campo, distribuídos por seis jogos no campeonato. Ao nível do reforço do plantel, chegaram apenas Rui Silva e Biel, e a verdade é que o Sporting realmente estava a precisar de um guarda-redes – Franco Israel e Vladan Kovačević continuam sem me convencer – e de um extremo, mesmo que Edwards permanecesse no clube. Faltou, contudo, contratar, no mínimo, um lateral-direito, uma vez que Ricardo Esgaio e Iván Fresneda não dão as garantias necessárias para um clube que luta pelo título, razão pela qual, muitas vezes, tem sido Eduardo Quaresma, um central de raiz, a fazer a posição. No meu ponto de vista, o Sporting também poderia ter contratado um médio mas, neste caso, dou o benefício da dúvida, até porque aceito que a estrutura leonina queira esperar para perceber se o jovem João Simões, de apenas 18 anos, tem o que é preciso para continuar a ser uma opção válida no imediato.

Por fim, gostaria de destacar o mercado de inverno mais lucrativo da história do Vitória SC, que realizou um encaixe de mais de 35 milhões de euros com as vendas de Alberto Costa, Manu Silva e Kaio César (além de Jorge Fernandes e Nélson da Luz, mas estes por valores significativamente inferiores). Não é comum vermos um clube fora da esfera dos chamados ‘grandes’ valorizar os seus jogadores desta forma e isso é, naturalmente, de enaltecer. Agora, e voltando novamente as atenções para a vertente desportiva, resta perceber de que forma o emblema de Guimarães se vai ressentir destas saídas dentro das quatro linhas, até porque, a nível interno, as coisas não estão fáceis para o Vitória SC, que ocupa o sétimo lugar da Liga Portuguesa mesmo tendo uma equipa com qualidade para estar numa posição mais elevada.