O adiamento da venda do futebolista internacional português Otávio para a reta final da janela de transferência de verão causou um resultado líquido consolidado negativo de 47,627 milhões de euros (ME) da FC Porto SAD em 2022/23.

“O Otávio tinha uma cláusula de rescisão fora do comum, já que tinha um valor até 15 de julho, que era de 40 ME, e outro a partir daí, de 60 ME. Ou seja, se o tivéssemos vendido até 30 de junho, receberíamos 40 ME. Depois dessa data, iríamos encaixar 60 ME. Foi o risco que a administração, e sobretudo, o nosso presidente [Jorge Nuno Pinto da Costa], correu”, expôs o administrador com o pelouro financeiro, Fernando Gomes, na sessão de apresentação do último relatório e contas da SAD, decorrida no Dragão Arena, no Porto.

Em comunicado emitido no sítio oficial da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) na Internet, o FC Porto explicou a inversão de uma trajetória de lucro visível em 2020/21 - 19,3 ME - e em 2021/22 - 20,765 ME - com a “inexistência de mais-valias de vendas de direitos desportivos de jogadores relevantes no período em análise”.

“Para se alcançar uma mais-valia acrescida, incorremos deliberadamente num resultado negativo, sabendo que não haverá consequências em termos de fair play financeiro [da UEFA]. Sob o ponto de vista económico e financeiro, o défice apresentado a 30 de junho vai ser compensado até ao final do ano com a receita [da saída] do Otávio e da Liga dos Campeões. Evidentemente, não gostaria que assim fosse. Gostava de mostrar aqui um resultado positivo e, ainda assim, vender Otávio por 60 ME, mas isso não existe”, notou.

O médio assinou pelos sauditas do Al Nassr em agosto e tornou-se a venda mais cara da história dos ‘dragões’, ao sair pelos 60 ME associados à respetiva cláusula de rescisão.

“[O negócio] Foi um jogo de póquer do presidente. A corda poderia ter rompido. Foi uma gestão de risco, que acabou por ter resultados positivos. Apesar das dúvidas, houve uma persistência muito forte na aquisição do Otávio perto do fim do mercado. Ao deixar correr dois meses, o FC Porto conseguiu adicionar 20 ME ao passe”, vincou Fernando Gomes.

Reconhecendo alguma “preocupação” de que a gestão financeira “possa pôr em causa a boa execução dos objetivos desportivos” da SAD, o administrador antecipa melhorias no balanço do primeiro semestre, em 31 de dezembro, para esbater o prejuízo de 2022/23.

“Fazendo um exercício prático: existindo 60 ME do Otávio, mais 43 ME do acesso à Liga dos Campeões, só aqui já estão 103 ME. O segundo semestre começou com resultados positivamente fortes, algo que não se conseguiu em outros anos. Isto leva-me a crer que, se as coisas correrem conforme estão previstas, vamos ter um excelente resultado. Até dezembro, ainda há aquilo que pode resultar das vitórias e da passagem aos ‘oitavos’”, recordou, apontando à continuidade dos ‘dragões’ na principal prova europeia de clubes.

Confrontado com a necessidade de o FC Porto vender ativos na reabertura do mercado, em janeiro de 2023, Fernando Gomes admitiu que a SAD “só terá contas equilibradas no atual quadro económico e financeiro do futebol português” com as transações de passes, estando mesmo orçamentada para 2023/24 a obtenção de “mais-valias de 40 a 50 ME”.

“Esperamos não ter necessidade de fazer qualquer venda em janeiro. Agora, o mercado funciona em janeiro e temos jogadores com cláusulas de rescisão que podem ser batidas pelos concorrentes. Nunca podemos assegurar que não vendemos em janeiro”, avaliou.