Faltam seis pontos. Duas vitórias nas três jornadas que faltam. Isto se o FC Porto não escorregar segunda-feira, em Arouca. Porque, se tal acontecer, a festa do Benfica pode ser até já no próximo fim de semana, em Portimão. O tão desejado 38.º título de campeão da história das águias, que escapou nas últimas três temporadas, parece agora estar ao virar da esquina, depois de uma suada mas merecida vitória sobre o Braga.

O jogo era de extrema importância para as duas equipas e a ambas só a vitória interessava. Ao Benfica para, pelo menos, manter a vantagem sobre o FC Porto e afastar os minhotos da corrida pelo título, ao Braga para dar seguimento à aproximação das últimas semanas às águias e para manter aceso o sonho.

Mas foi o Benfica quem mais procurou essa vitória. Uma vitória que acabou por lhe sorrir. Mas não foi fácil. Depois de uma primeira parte de domínio dos homens da casa, mas em que as ocasiões de golo não foram muitas, o único golo da partida acabou por surgir a meio do segundo tempo. Assinou-o Rafa, numa fulgurante arrancada em que correu meio campo isolado antes de finalizar com êxito. A forma como foi festejado, quer pelos adeptos na bancada, quer por jogadores, suplentes e staff encarnado em campo, mostra bem a sua importância.

Demasiado na expectativa, sobretudo, na primeira metade da primeira parte, só quando se viu em desvantagem o Braga partiu realmente para a frente e ameaçou verdadeiramente o golo. Teve algumas oportunidades para empatar - ainda que Vlachodimos não tenha feito qualquer defesa digna de registo - mas não conseguiu e o Benfica está agora a nove pontos de distância, com nove pontos por jogar. O sonho do título ruiu para os minhotos, mas ficou bem mais perto para as águias.

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O jogo: Serenidade de Rafa fez a diferença e serenou a Luz

O encontro começou com o Benfica a acentuar, aos poucos, o domínio no jogo. Porém, só aos 16 minutos se viu uma primeira oportunidade de golo. Desmarcado por Grimaldo, Gonçalo Ramos chegou primeiro do que Matheus à bola, resistiu à tentação de cair no duelo com o guarda-redes do Braga e, de ângulo apertado, rematou, mas viu Borja cortar perto da linha de golo.

O mesmo Borja teve, depois, novo corte providencial, desta feita para evitar que Rafa marcasse, em novo lance das águias pela esquerda, o lado preferencial para os seus ataques (do outro lado, Aursness voltou a ser o lateral direito). O Benfica vivia, então, um período de algum fulgor, chegou a pedir uma grande penalidade por mão na bola de um defesa contrário dentro da grande área, mas esse fulgor foi-se esmorecendo e o Braga deu um ar da sua graça, com Bruma (de longe o mais irrequieto do lado dos visitantes) a dar algumas dores de cabeça à defesa do Benfica. Perto do intervalo, Ricardo Horta também ficou a pedir uma grande penalidade, mas acabou por ver amarelo por simulação e os últimos minutos da primeira parte voltaram a ser de maior domínio do Benfica.

A segunda parte começou mais aberta, com o jogo algo partido e muitas transições rápidas de parte a parte. Ainda assim, o Benfica continuava a mostrar-se mais dominante e acabou mesmo por marcar. Um grande passe de David Neres isolou Rafa e este, com a velocidade com bola que todos lhe reconhecem, disparou isolado rumo à baliza de Matheus. E, se muitas vezes Rafa peca por não mostrar a serenidade necessária no momento da finalização, desta feita, num momento tão decisivo, não errou e fez o único golo da partida.

Curiosamente, Rafa falhou depois uma oportunidade semelhante, tentando um chapéu que saiu demasiado alto. Mas o mais importante estava feito. O Benfica resistiu, depois, apesar de um ou outro calafrio, à reação do Braga, que em desvantagem mostrou então que tinha de facto capacidade para importunar o líder do campeonato. Os minutos finais foram de muito nervosismo de parte a parte, com passes falhados, más decisões e desentendimentos entre elementos das duas equipas. Nada que impedisse a festa do Benfica e dos seus adeptos.

O momento: Arrancada para a glória

Decorria o minuto 67 e Gonçalo Ramos tinha acabado de desperdiçar uma oportunidade de golo de forma quase inacreditável pouco antes. Os adeptos do Benfica desesperavam, quando numa transição rápida, aproveitando um raro momento de maior adiantamento do Braga no terreno, David Neres, com um passe rasteiro fantástico, desmarcou Rafa e este fez o resto.

O melhor: Rafa não perdoou quando não podia perdoar e João Neves continua a dar que falar

Foi, sem dúvida, o homem do jogo, porque foi ele que o resolveu. Rafa - que muitas vezes é acusado de decidir mal no momento da finalização - decidiu bem no lance que fez a diferença no resultado e que pode fazer a diferença nas contas do título. Só por isso, foi figura do jogo. Mas houve outros homens do lado do Benfica em excelente plano: David Neres criou, como sempre, desequilíbrios; Grimaldo esteve muito ativo pelo corredor esquerdo; e o jovem João Neves, outra vez titular no centro do terreno, voltou a mostrar aquilo de que é capaz: sem nunca virar a cara à luta, recuperou inúmeras bolas para as colocar, depois, quase sempre jogáveis nos pés de um colega.

Do lado do Braga, o destaque só pode ser Bruma. Numa equipa que pecou por arriscar pouco no ataque, sobretudo enquanto não estava a perder, o extremo internacional português foi a exceção. Sem medo de partir para cima do adversário, deu muitas dores de cabeça ao lado direito da defesa do Benfica e foi dos seus pés que nasceram praticamente todos os lances de perigo dos minhotos.

O pior: Braga devia ter mostrado mais e, no Benfica, há dois 'homens golo' desaparecidos

Vindo de uma série de excelentes resultados, o Braga precisava de ganhar na Luz para dar asas ao sonho de chegar, enfim, ao título de campeão nacional. Mas não fez - ou não foi capaz de fazer - por isso. Viu o Benfica ser superior e só quando se viu a perder partiu realmente para a frente sem medos. E aí até causou alguns calafrios ao adversário, o que mostra que se calhar podia ter arriscado mais e mais cedo.

Do lado do Benfica, João Mário e Gonçalo Ramos, os dois grandes goleadores da equipa, voltaram a ficar em branco, O médio esteve bastante apagado e o avançado falhou mesmo uma ocasião clamorosa, que mostra que atravessa efetivamente um momento menos bom, que lhe afeta a confiança.

As reações

Schmidt fala num jogo "à campeão" e João Neves confessa estar a viver um sonho

Artur Jorge queixa-se de um penálti por assinalar e Ricardo Horta não esquece a Taça de Portugal

O resumo