Sérgio Conceição confidenciou há meses, creio que na época passada, que os jogadores tinham o hábito de acompanhar as conferências de imprensa de antevisão das partidas. Segundo o técnico, após o treino, alguns atletas juntavam-se e acompanhavam pela televisão as perguntas da comunicação social e as respostas do mister.

Posto isto, há uma pergunta que se impõe: Terá Mehdi Taremi visto a forma como Sérgio Conceição descontruiu a má fase do iraniano a propósito da escassez de golos, elogiando o compromisso em campo noutras tarefas igualmente relevantes para o processo de jogo da equipa? Não sabemos. Mas pela exibição que assinou em Famalicão, talvez sim. A resposta aos críticos está dada. Taremi voltou a marcar, jogou e fez jogar, e no final foi considerado o melhor jogador em campo.

Evanilson disse mata, Taremi gritou esfola. Mas pelo meio houve muito Famalicão

A noite gélida em Famalicão, com os termómetros a tocarem nos cinco graus celsius, pedia um jogo vivo. Na ressaca de derrotas - Famalicão na Luz, FC Porto na Catalunha, ambas as equipas queriam regressar aos triunfos. Apesar disso, o encontro arrancou algo molengão com poucas oportunidades de perigo. Os dragões assumiram o jogo com algum ascendente sobre a equipa da casa e a pressão alta surtiu efeito mais rápido do que desejavam os adeptos anfitriões.

Aos 8 minutos, estava o Famalicão ainda a descobrir a melhor forma de sair a jogar - algo de que nunca abdica - quando Evanilson inaugurou o marcador. Na sequência de um cruzamento de Pepê e de uma bola mal aliviada para a entrada da área, Evanilson encheu o pé e atirou sem hipóteses para Luís Júnior. É o 10.º golo da época para o ponta de lança brasileiro.

O Famalicão reagia bem ao golo sofrido e crescia em campo, respondendo da melhor forma com uma sucessão de ataques perigosos, mas sem a clarividência necessária para os concretizar em golo. Cádiz, avançado venezuelano, era um ponto de luz no ataque famalicense, que só não brilhou mais por culpa própria. Com ele, Francisco Moura ia dando pano para mangas a Jorge Sanchéz, em clara dificuldade em acompanhar as arrancadas do jovem lateral ex-SC Braga, titular em todos os jogos esta época.

Já perto do intervalo, contra a corrente de jogo, aos 41 minutos, João Mendes disparou de fora da área para uma defesa de Luíz Júnior, que sacudiu para canto. Logo de seguida, Alan Varela colocava o guardião da formação famalicense em sentido com um remate forte para nova defesa apertada. Tentava responder o FC Porto à enorme cadência ofensiva da equipa da casa, que viria a pedir penálti por alegada mão na bola de Eustáquio.

Depois de uma sequência de remates perigosos de José Luís Rodríguez e Francisco Moura, prensados no firme bloco defensivo azul e branco, Gustavo Sá disparou com a bola a tocar no médio luso-canadiano. António Nobre esperou indicação do VAR, mas acabou por mandar seguir sob um ruidoso coro de protesto vindo das bancadas.

Ainda se reclamava dentro e fora do campo, quando em tempo de compensação da primeira parte, o jogo agressivo do Famalicão provava do próprio veneno. Saída muito rápida, Eustáquio a ganhar nas alturas, que lançou Galeno e descobriu Taremi em posição privilegiada. No frente a frente com o guarda-redes a tarefa para o avançado iraniano não era propriamente hercúlea, mas perante Luiz  Júnior fez o que lhe competia. O iraniano não se fez rogado e atirou sem hipóteses para Luíz Júnior com um remate certeiro.

Francisco Conceção e a sentença de uma partida desde cedo sentenciada

No segundo tempo, o Famalicão sabia que tinha que continuar a pegar no jogo, mas fê-lo sem a mesma energia. Com muita bola, mas sem criar perigo, o primeiro lance de aperto para Diogo Costa foi aos 64 minutos. Tudo bem feito pelo conjunto minhoto: Gustavo Sá abriu para Nathan, que cruzou rasteiro para o remate venenoso de Topic. A bola saiu ligeiramente por cima, mas esteve à vista o primeiro da equipa da casa.

Já com várias alterações, quer de um lado, quer do outro, destaque para aquela que viria a ser mais recompensadora de ambos os treinadores. Francisco Conceição saltou do banco a vinte minutos do final da partida e a aposta do treinador portista mostrou-se acertada.

Já com a equipa minhota reduzida a 10 jogadores após a expulsão de Zaydou ao minuto 81, a ver o segundo cartão amarelo, a aposta de Sérgio Conceição mostrou-se acertada. Mesmo ao cair do pano, e já com o Famalicão visivelmente desgastado física e psicologicamente, Chico Conceição correu meio-campo desenfreadamente para fazer o 3-0, que sentenciou (ainda mais) a partida.

O melhor

Mehdi Taremi. Pelo que trabalhou, pelo que fez jogar, mas sobretudo pelo golo marcado. Numa altura crucial do encontro, o avançado iraniano sacudiu o peso da falta de eficácia pessoal ao longo de mais de um mês e ajudou o FC Porto a sair para o intervalo com uma vantagem de ouro, apesar de algo injusta pelo que o Famalicão criou ao longo do primeiro tempo. Sérgio Conceição tem razão quando diz que Taremi é muito mais do que os golos que faz, mas frente ao Famalicão foi também o remate certeiro que empurrou o iraniano para uma exibição de encher o olho. Galeno, importa dizê-lo, foi uma vez mais um agitador de excelência, que ajudou e muito na obtenção dos três pontos.

Nota de elogio, e não podia ser de outra forma, para Cádiz. O avançado venezuelano fez uma exibição enorme. Foi uma autêntica dor de cabeça para Fábio Cardoso e Pepe, mas a falta de assertividade no último terço afastou-o de uma noite épica. Foram muitas oportunidades conquistadas a pulso, mas golos nem vê-los. E o que é um avançado sem golos?

O pior

Não é fácil escolher um elemento de ambas as equipas em destaque pela negativa, a avaliar pelo enorme compromisso coletivo de ambos os lados, também alcançado pelo acerto individual de quase todos os jogadores, inclusive os que vieram do banco. A ter que destacar, talvez a exibição pouco conseguida da equipa de arbitragem.

António Nobre revelou várias desatenções com alguns lapsos técnicos, a maior parte sem grande interferência no resultado final. Exceção feita ao lance em que os homens da casa pediram penálti por mão na bola de Eustáquio. Nas imagens, o médio do FC Porto parece, de facto, ganhar volumetria para travar o remate de Gustavo Sá. Responsabilidade de António Nobre, mas sobretudo do VAR, que tinha obrigação de fazer melhor com recurso às imagens,

O momento

Inevitavelmente, o golo de Taremi aos 45' + 4. É verdade que o golo madrugador de Evanilson ofereceu algum conforto aos dragões, mas o facto do Famalicão nunca ter perdido a esperança ao longo do intervalo foi um duro golpe para a equipa famalicense o remate certeiro do iraniano numa altura chave do jogo.

Em cima do intervalo, e quando a vantagem de um golo já era um excelente resultado para os azuis e brancos dada a produção das duas equipas, o avançado iraniano voltou aos golos e ofereceu a Sérgio Conceição uma gestão inteligente do resultado no segundo tempo.

Foi no final da primeira parte, mas o golo significou praticamente o fim do jogo.

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