Jogar futebol com um elefante na sala tem muito que se lhe diga. É incómodo e os jogadores acabam por tropeçar nele, mesmo sem quererem. É quase como uma inevitabilidade, um destino ao qual não podem fugir. Podem sempre saltar por cima dele, contorná-lo, fintá-lo, mas no final permanecerá ali, evidenciando-se sobretudo quando as coisas não correm de feição.

Depois de terminar a época passada sob fogo, Schmidt iniciou esta temporada com uma margem de erro praticamente nula. E o elefante na sala de que vos falo é exatamente esse: o perigo de deixar cair o treinador já no tiro de partida. O campeonato começou mal onde já tinha acabado mal há uns meses: em Famalicão. Uma derrota digna desse mesmo nome, por 2-0,  fez tornar o gigante elefante mais perceptível no balneário da Luz. Mas verdade seja dita, nos dois jogos seguintes - ambos em casa - as águias lá conseguiram afastar os agoiros premonitórios do adeus a Schmidt, aparentemente seguro com estacas de dois metros marteladas por Rui Costa em pleno relvado da Luz. Primeiro com o Casa Pia, por 3-0, no último sábado com o Estrela da Amadora, por 1-0.

O jogo, como habitual, acabou sob um coro de assobios, mais ou menos discreto, mas sempre audível. Este sábado, o Benfica, mas sobretudo Schmidt, terão um teste de fogo. Depois do percurso assinalável na última época, com um formidável sexto lugar, a equipa minhota agora orientada por César Peixoto até vem de uma derrota, com o SC Braga, por 3-1, mas entrou no campeonato com dois triunfos. Apesar da saída de Rui Borges para o Vitória SC, os cónegos têm deixado boas impressões.

Ninguém sabe ao certo se os assobios vão acabar por se dissipar antes, durante ou depois dos jogos do Benfica. Há algo que é claro como água: ao público encarnado não basta vencer. Querem sentir que os triunfos são conquistados com a tranquilidade exigida e, sobretudo, assente num futebol alegre e galvanizante (tudo o que não tem acontecido). Assobiar para o lado não resulta, Schmidt, nunca resultou. Mas neste jogo de assobios, já se sabe, ganha sempre quem tem mais gente do seu lado. E analisando bem a questão, até dá jeito para chamar um novo treinador. Porque o elefante vai crescendo, crescendo, crescendo, até chegar a uma altura em que já não dá para não reparar nele. Nem mesmo Rui Costa. Qual a melhor forma para o evitar? Vencendo de forma categórica e atrativa o Moreirense com golos, muitos golos. Até porque ao fazê-lo, os encarnados acomodam-se no sofá para assistir ao clássico de sábado, sabendo que ao somar pontos, aproveitarão sempre para se aproximar de um dos rivais diretos, ou até dois dois, em caso de empate.

Momento de forma

Benfica

Em três jogos, o Benfica soma uma derrota e duas vitórias. Como já foi referido, os encarnados estrearam-se para o campeonato com uma derrota por 2-0, em Famalicão. Seguiram-se dois jogos na Luz, ambos treinaram com a conquista dos três pontos. 3-0 frente aos gansos. 1-0 diante dos estrelistas. Resultados que colocam o Benfica na 6.ª posição da tabela, um lugar acima do Moreirense, que soma os mesmos 6 pontos que os encarnados. Apesar das duas vitórias consecutivas, a deslocação a Moreira de Cónegos perfila-se extremamente difícil, para além de se realizar na reta final do mercado de transferências, o que deixa sempre alguma incógnita em torno dos jogadores mais cobiçados. João Mário, por exemplo, atual sub-capitão das águias, ficou de fora do encontro com o Estrela da Amadora por estar prestes a deixar o Benfica.

Segundo Schmidt, o antigo internacional português ficará novamente afastado da convocatória, na qual também não devem contar os nomes de Ausrnes e Tiago Gouveia , em ambos os casos por lesão.

Moreirense

Às equipas-sensação das épocas anteriores costuma traçar-se um cenário ruinoso. Porque sai quase sempre o treinador, como saiu, porque saem peças importantes, como saíram. Mas verdade seja dita, ninguém diria. Em três jogos, o Moreirense perdeu apenas um, o último. A derrota em si foi justa, mas pela frente estava o SC Braga, equipa visivelmente em crescendo desde a chegada de Carlos Carvalhal. Não deixa de ser uma derrota, é certo, mas quero com isto dizer que este Moreirense, tem um projeto. Nota-se que os responsáveis do clube minhoto sabem o que estão a fazer.

Antes de conhecer o sabor da derrota, a equipa agora orientada por César Peixoto venceu diante do Farense (1-2) e do Arouca (2-1). Hernâni Infande, a recuperar de operação ao pé esquerdo e Alan, também lesionado, estão em dúvida para o encontro desta sexta-feira, no Minho.

Histórico de confrontos

Em 32 confrontos em todas as competições, os cónegos somam apenas duas vitórias. A mais recente aconteceu na Luz, por 3-1 para o campeonato, a 2 de novembro de 2018. Uma exceção: em 24 ocasiões, o jogo acabou com a vitória do Benfica.

Quanto aos encontros no Estádio Comendador Joaquim Almeida Freitas, casa dos cónegos, a equipa encarnada nunca perdeu. As 18 vitórias e os 4 empates são gasolina para a máquina encarnada, apesar de tudo ainda por olear. A última vez que o Benfica se deslocou a Moreira de Cônegos foi a 3 de dezembro de 2023, numa partida a contar para a 12.ª ronda do campeonato. Terminou com um nulo.  César Peixoto, que como jogador representou, entre outros, o Benfica e o FC Porto, nunca venceu o antigo clube. Ao serviço do Paços de Ferreira, o agora técnico do Moreirense nunca bateu as águias.

O que disseram os treinadores

Roger Schmidt: "Já jogámos duas vezes lá, num estádio pequeno, não é fácil. Nas duas vezes empatámos, o que significa que é muito difícil de ganhar. Começaram muito bem esta época, ganharam os dois primeiros jogos, fizeram também um bom jogo em Braga. É por isso que o nosso foco completo, mesmo neste momento do mercado de transferências, tem de estar totalmente neste jogo".

César Peixoto: “A equipa percebeu o que não correu tão bem em Braga e está hoje [quinta-feira] completamente focada no Benfica, uma grande equipa. Não acredito nesta coisa das crises. Joguei em equipas grandes e sei qual é o pensamento que têm: é o de que não podem facilitar em nada. Vamos ter um Benfica forte. Temos de ser competitivos”.

Arbitragem

André Narciso, árbitro da AF Setúbal, foi nomeado pelo Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol para apitar o encontro. O jogo disputa-se no Estádio Comendador Joaquim de Almeida Freitas, às 20h15 de sexta-feira, 30 de agosto.

O juiz do encontro vai ter Gonçalo Freire e Luís Viegas como assistentes e Gonçalo Neves no papel de quarto árbitro.

O videoárbitro (VAR) será Vasco Santos, e o assistente (AVAR) Nuno Manso.