Chega para lá, Lionel Messi, que há um novo rei dos goleadores da Europa (pelo menos até ao próximo jogo do Barcelona). Depois do póquer em Tondela, Bas Dost tinha afiançado, quiçá, chegar à ‘manita’ num só jogo. Não o conseguiu frente ao Nacional, mas o ‘bis’ apontado na noite passada concedeu-lhe a liderança do ‘ranking’ da Bota de Ouro, com 24 golos, à frente do argentino e de Aubameyang (ambos com 23).

E numa semana marcada por jogadas de bastidores, processos disciplinares, acusações de queixinhas e afins, o avançado holandês provou que o que interessa mesmo é o que se faz dentro das quatro linhas. Aliás, se há alguém que tem razão para fazer queixinhas, só mesmo as equipas que têm Bas Dost pela frente.

O jogo:

Numa altura em que todas as atenções estão viradas para a luta entre Benfica e FC Porto rumo ao título, não é fácil ser o ‘grande’ que, por força das circunstâncias, acaba por estar à margem de tudo isto. Ainda mais difícil deve ser motivar uma equipa quando o objetivo máximo da época vai ficando cada vez mais distante. Posto isto, e com o terceiro lugar praticamente garantido, restam ao Sporting duas missões nesta reta final do campeonato: dar minutos aos jovens da formação resgatados neste mercado de inverno e ajudar Bas Dost a chegar até onde puder no que toca a golos.

No primeiro caso, Jorge Jesus voltou a apostar em Matheus Pereira para o encontro com um Nacional ‘aflito’ na classificação, deixando desta vez Podence no banco, para a entrada de Alan Ruiz, que havia cumprido castigo na jornada anterior. Na conferência de antevisão a esta partida, o técnico ‘leonino’ tinha afirmado, em resposta a Rui Jorge, selecionador dos sub-21, que justificou a ausência de Podence da sua convocatória com a pouca utilização em Alvalade, que era preciso ter calma e dar tempo aos jovens para evoluírem.

A verdade é que Jesus não aposta nos jovens apenas porque sim, mas antes a pensar nas exigências do jogo. Só que enganou-se quando pensou que Podence, ao entrar para o lugar de Alan Ruiz ao minuto 60, iria imprimir velocidade a um jogo que já tinha dado tudo o que tinha a dar e a iniciativa estava entregue ao Nacional. Matheus Pereira saiu 13 minutos depois e João Palhinha nem teve tempo de mostrar serviço. Não foi uma noite dourada para a prata da casa, mas ainda há oito jornadas (e 720 minutos) pela frente.

A noite, essa, estava reservada para Bas Dost. Seis golos em apenas oito dias, 24 em 23 jogos cumpridos na Liga. Só mesmo o holandês para agitar um jogo com pouco tempero e poucas oportunidades de golo, até porque o Nacional não conseguiu provocar os ‘leões’ o suficiente para que isso acontecesse, e quando o fez já era tarde demais. O primeiro chegou logo ao minuto 13, na sequência de um canto cobrado por Bryan Ruiz, que voltou a fazer de Adrien, com Bas Dost a cabecear certeiro para o fundo da baliza de Adriano. Aos 34 minutos, novo canto, e Bas Dost, aproveitando a passividade da defensiva insular, surpreende o guardião da equipa adversária com um remate já praticamente sem ângulo.

Pelo meio ainda houve um golo anulado ao holandês (bem anulado, diga-se de passagem), mas dois já foram suficientes para garantir a vitória frente ao atual ‘lanterna vermelha’ e a liderança da Bota de Ouro. A continuar neste registo – média superior a um golo por jogo - o ex-jogador do Wolfsburgo não vai mesmo desarmar na corrida pelo galardão, o mesmo que só Jardel e Yazalde venceram de leão ao peito. O Sporting até pode estar afastado da luta pelo título, mas a luta individual de Bas Dost é merecedora de todas as atenções até ao final do campeonato. Mesmo com um clássico aí à porta.

O momento:

Golo de Bas Dost ao minuto 34: É certo que o primeiro golo é sempre aquele que provoca maior explosão nas bancadas, mas pela dificuldade do remate, quase sem ângulo, do holandês, que mesmo depois de ter tido um golo anulado minutos antes, não baixou os braços, o lance do 2-0 tem tudo para ser o momento da noite.

A polémica:

Golo anulado a Bas Dost: Ao minuto 26, remate de Gelson, a bola desvia num defesa e o avançado holandês encosta junto ao poste, mas em posição irregular. A decisão gerou um coro de protestos nas bancadas de Alvalade – até mesmo Jorge Jesus reclamou – mas o jogador dos ‘leões’ estava efetivamente adiantado. Boa decisão da equipa de Jorge Ferreira.

Os melhores:

Bas Dost: Com mais dois golos para a conta pessoal, o holandês é a personificação do pragmatismo do Sporting. Não interessa se as oportunidades para marcar abundam, interessa é que o avançado está lá para fazer o que melhor sabe: marcar. Temos candidato à Bota de Ouro (sim, porque da Bola de Prata nem vale a pena falar).

Bryan Ruiz: O novo número oito dos ‘leões’ voltou a justificar a aposta de Jorge Jesus, sobretudo pela primeira parte, ainda que não tenha estado ao mesmo nível que em Tondela. Apontou os dois cantos que deram origem aos dois golos da partida.

Tiago Rodrigues: O médio criativo tentou correr atrás do prejuízo como pôde, procurando impulsionar o ataque dos insulares, mas sem grande ‘feedback’. Foi dele a melhor oportunidade do encontro para a equipa forasteira, com um remate forte que deixou Rui Patrício em sentido.

Os piores:

Defesa do Nacional: Houve muita permissividade por parte da defensiva insular, sobretudo nos lances de bola parada, paga bem caro com os dois golos de Bas Dost. Jokanovic tem muito trabalho a fazer neste sentido, se quiser assegurar a permanência da equipa no primeiro escalão. Basta olhar para os números: é a segunda defesa mais batida da prova, com 43 golos sofridos, menos um que o Tondela.

As reações:

Jorge Jesus: "A partir da saída do Alan Ruiz, perdemos qualidade de jogo"

Jokanovic: "A primeira parte resume-se a dois golos de bola parada"

Bryan Ruiz: "Jogo onde o 'mister' quiser"

Salvador Agra: "Acabou o ciclo dos três grandes"

Curiosidades:

- Pela primeira vez esta época, o Sporting marcou dois golos no mesmo jogo na sequência de um canto. No total, os ‘leões’ faturaram neste tipo de lances de bola parada em seis ocasiões na Liga.

- Bas Dost apontou 49% dos golos do Sporting na Liga.

- Bryan Ruiz fez a sua quinta assistência neste campeonato. Não fazia um passe para golo desde a sétima jornada, a 1 de outubro, frente ao Vitória de Guimarães.

- Os ‘leões’ não perdem há seis jornadas (16 pontos em 18 possíveis), sendo este o segundo melhor registo da época.

- O Nacional não marca fora de casa há seis jogos e Jokanovic continua sem vencer no comando técnico da equipa madeirense (11 jogos).