Bruno de Carvalho completa esta sexta-feira 100 dias como presidente do Sporting depois de uma “entrada a pés juntos” na direção do emblema de Alvalade. Com a vitória contundente sobre José Couceiro, depois de ter perdido as eleições presidenciais do Sporting em 2011 para Godinho Lopes, Bruno de Carvalho prometeu desde logo arrumar a casa e devolver o clube aos sócios, outrora refém de alguns “barões”.

Sobrinho-neto de Pinheiro Azevedo, figura incontornável da Revolução de Abril de 1974, e conhecido por «Almirante Sem Medo», Bruno Carvalho assumiu, desde o primeiro dia como presidente dos leões, uma rutura com o passado recente do clube e uma postura reivindicativa sobre o estatuto do Sporting no desporto nacional.

Criado numa família de sportinguistas, o gestor de 41 anos tornou-se oficialmente no 42.º presidente do emblema de Alvalade a 27 de Março de 2013 com cerca de 57% por cento dos votos, cumprindo assim o sonho de infância que tinha desde os seis anos.

Pela frente, Bruno de Carvalho tinha uma tarefa de proporções épicas: renegociar com a banca a dívida do clube, fazer uma auditoria de gestão e reduzir a massa salarial do Sporting, para além do aspecto desportivo do clube que passará obrigatoriamente por vitórias e títulos.

Reestruturação da dívida

Do final de março, altura em que foi eleito, até ao início de abril, Bruno de Carvalho não teve muito tempo para celebrar a vitória nas eleições, recebendo, da anterior direção, uma pesada herança que incluía salários em atraso, jogadores em risco de rescindir contrato e necessidade urgente de renegociar a dívida com os credores do clube devido a um passivo financeiro “monstruoso” de 260 milhões de euros.

No entanto, Bruno de Carvalho, avançou sem medo com o seu programa eleitoral, que incluía uma auditoria de gestão e a reestruturação financeira da SAD. As negociações com a banca começaram por não ser fáceis e a 10 de abril, o presidente do Sporting viu-se obrigado a convocar uma conferência de imprensa para explicar aos sócios que «está tudo dado como garantia», o que significava que o clube estava excessivamente dependente da banca.

Apesar dos contratempos, Bruno de Carvalho conseguiu, passados alguns dias, chegar a um entendimento com os credores para desbloquear, de imediato, 4 milhões de euros para pagar os salários em atraso.

Redução de custos

Depois de conseguir as condições financeiras básicas para que o clube pudesse terminar a época desportiva, a direção de Bruno de Carvalho passou então para a área desportiva e para a reestruturação interna que incluía cortes nas despesas e a redução da massa salarial.

Desde o controlo dos gastos desmedidos da direção anterior, por exemplo o sistema de luz para o relvado no valor de um milhão de euros por mês, gastos da eletricidade e da água, passando pela limitação das fotocópias a cores, Bruno de Carvalho não esqueceu nenhum pormenor para reduzir as despesas. Antigas glórias do clube como Manuel Fernandes ou Vidigal abandonaram a estrutura do futebol, alegadamente, devido aos elevados salários.

Revitalização da posição do clube no panorama desportivo

Sem nunca esquecer o plano desportivo, Bruno de Carvalho passou a ser mais interventivo nas questões relacionadas com o clube, e mais incisivo nas críticas. Num jogo entre as equipas B de Sporting e Benfica, a 30 de março, o líder leonino não gostou da prestação da equipa de arbitragem e não perdeu tempo e passou ao ataque, apelidando os árbitros de «bando de pássaros».

No final da época, a equipa principal do Sporting não conseguiu apurar-se para as competições europeias mas ganhou alguma alma na reta final do campeonato com Bruno de Carvalho sempre a apoiar o grupo a partir do banco de suplentes.

Nas modalidades, o Sporting acabaria por conquistar a Taça de Portugal de futsal e, mais tarde, o título de campeão de futsal, frente ao rival Benfica, sem esquecer a Taça de Portugal, em Andebol, frente ao FC Porto.

Jesualdo Ferreira acabou por abandonar o comando técnico da equipa no final da época e o seu sucessor não demorou muito a ser apresentado por Bruno de Carvalho: Leonardo Jardim.

Uma das bandeiras eleitorais da direção de Bruno de Carvalho foi a revitalização do estatuto do Sporting no desporto português e, desde logo, o presidente leonino não mostrou subserviência a certos poderes instituídos nas últimas décadas.

As trocas de palavras entre Bruno de Carvalho e Pinto da Costa, na altura da venda de João Moutinho para o Mónaco, abaixo da cláusula de rescisão, demonstraram bem que o “novo” presidente leonino está dotado de uma ironia populista à altura do sarcasmo regionalista do líder portista. Passados cem dias como presidente do Sporting, pode dizer-se que Bruno de Carvalho correspondeu às expectativas da maioria dos sócios e adeptos do clube de Alvalade.

O “Presidente Sem Medo” apresentou um plano de reestruturação financeira para reduzir o passivo do clube, e que foi aprovado por mais de 90 por cento dos sócios em Assembleia Geral, reorganizou o clube internamente, acabando com gastos supérfluos, e enfrentou de frente os poderes instituídos no futebol português: nomeadamente a liderança de Pinto da Costa e o peso dos empresários de futebol na gestão de jogadores formados em Alvalade.