O antigo presidente do Sporting Bruno de Carvalho disse hoje que, em diversas ocasiões, elementos das claques do clube entravam na academia para falar com os futebolistas, mesmo sem a autorização do ex-líder 'leonino'.

Em depoimento no Tribunal de Instrução Criminal (TIC), em Lisboa, na fase de instrução do processo relacionado com os ataques à academia do Sporting, em Alcochete, cujos factos remontam a 15 de maio de 2018 e no qual foi constituído arguido, Bruno de Carvalho falou que a entrada dos adeptos era autorizada por Jorge Jesus ou pelo responsável de segurança, à sua revelia.

"Assisti a vários momentos de adeptos que se encontravam à porta da academia porque não eram autorizados por mim a entrar, mas que acabavam por aceder com autorização do funcionário Jorge Jesus, que depois teve de pedir desculpa à sua entidade patronal. Acho que as idas das claques à academia ocorrem algumas vezes", disse.

O ex-líder 'leonino', que no momento do ataque justificou estar reunido com o gabinete jurídico do clube no estádio José Alvalade, afirmou que Jorge Jesus o tentou impedir de ir à academia após a invasão.

"Infelizmente, não estive presente na academia àquela hora e só fui alertado quando José Ribeiro irrompeu pela sala. Solicitei-lhe que ligasse a Jorge Jesus, que pediu para eu não ir à academia. Nunca me passou pela cabeça que fosse algo de grandes proporções", explicou.

Bruno de Carvalho confirmou também ter havido uma reunião com o então treinador do Sporting, no dia anterior aos ataques, para o informar de uma futura rutura contratual.

"Foi comunicado a Jorge Jesus que, no futuro, não contaríamos mais com ele. Ao ser confrontado com uma reunião no dia seguinte, de manhã, Jorge Jesus disse que preferia mudar o treino para a tarde, o que teve lógica", contou, em relação à mudança do horário do treino que antecedeu as agressões ao plantel 'leonino'.

O arguido esclareceu também que, na véspera do ataque, aquando de uma reunião com o plantel sportinguista, não tinha conhecimento do teor da troca de palavras entre jogadores e adeptos no aeroporto da Madeira, após o jogo com o Marítimo.

"A notícia legendada surgiu muito depois do incidente e não consegui decifrar o teor da conversa. Lamento que as pessoas presentes não me tenham informado do que tinha acontecido. Na reunião, pedi especificamente aos jogadores para me dizerem se tinham sido alvos de ameaças. Acuña, Battaglia e William Carvalho disseram que estava tudo resolvido", mencionou.

Como testemunhas do processo, Bruno de Carvalho contou com os depoimentos de José Ribeiro, antigo assessor do Sporting, Carlos Vieira, antigo vice-presidente, e de Naciolindo Martins, testemunha da chegada dos adeptos à academia, com o ex-diretor de comunicação Nuno Saraiva a prescindir da presença devido a problemas de saúde.

O debate instrutório terá lugar em 10 de julho, às 10:00, no Tribunal de Instrução Criminal, em Lisboa.

Em prisão preventiva mantêm-se 36 dos 44 arguidos no processo, incluindo o líder da claque Juventude Leonina (Juve Leo), Nuno Vieira Mendes, conhecido como 'Mustafá', que viu em 06 de junho o Supremo Tribunal de Justiça negar-lhe uma providência de 'habeas corpus' (pedido de libertação imediata) e o ex-oficial de ligação aos adeptos Bruno Jacinto.

Em janeiro deste ano, o TIC do Barreiro declarou a especial complexidade do processo da invasão à Academia do Sporting, pedida pelo MP, o que, consequentemente, dilatou o prazo de prisão preventiva dos arguidos que se encontram presos.

Esta decisão teve como consequência direta o alargamento do prazo (até 21 de setembro) para que o TIC do Barreiro profira a decisão instrutória (se o processo segue para julgamento), sem que 23 dos arguidos sejam colocados em liberdade.

Os primeiros 23 detidos pela invasão à Academia e consequentes agressões a futebolistas, técnicos e outros elementos da equipa 'leonina' ficaram todos sujeitos à medida de coação de prisão preventiva em 21 de maio do ano passado.

Aos arguidos que participaram diretamente no ataque à Academia do Sporting, em Alcochete, em 15 de maio de 2018, o MP imputa-lhes na acusação a coautoria de crimes de terrorismo, de 40 crimes de ameaça agravada, de 38 crimes de sequestro, de dois crimes de dano com violência, de um crime de detenção de arma proibida agravado e de um de introdução em lugar vedado ao público.

Bruno de Carvalho, Mustafá e Bruno Jacinto estão acusados, como autores morais, de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 de ofensa à integridade física qualificada, de 38 de sequestro, de um crime de detenção de arma proibida e de crimes que são classificados como terrorismo, não quantificados. Mustafá está também acusado de um crime de tráfico de droga.

*Artigo atualizado às 20h30

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