O especialista em questões de corrupção desportiva, o holandês Pim Verschuuren, considera que o fenómeno em Portugal “não é grave”, mas alerta para o perigo de “ganhar maiores proporções em curto espaço de tempo”.
“Cá vocês têm sorte, porque não se tem conhecimento, para já, de casos graves, como acontece em França, na Alemanha, na Áustria, na Finlândia, no Reino Unido, na Hungria, na Suécia, na Polónia, na Estónia. Mas todo o cuidado é pouco”, alertou, em declarações à agência Lusa, Pim Verschuuren, que participou no seminário hoje realizado em Lisboa, por iniciativa da Santa Casa da Misericórdia da capital, sob o tema “Criação de uma rede de contactos contra a manipulação de resultados desportivos”.
Esta iniciativa teve a parceria da IRIS (Instituto de Relações Internacionais e estratégicas), representado por Pim Verschuuren, e participaram representantes da Federação Portuguesa de Futebol, da Liga de clubes, do Comité Olímpico de Portugal, do Ministério da Justiça, da Secretaria de Estado do Desporto e Juventude, do Ministério da Administração Interna e da Polícia Judiciária, entre outras instituições.
Pim Verschuuren lembrou que, em França, há dois anos, “chegaram à conclusão que estavam protegidos” contra a manipulação de resultados desportivos, e “agora o fenómeno é um escândalo no país”.
“Na Áustria acontece o mesmo, quando há seis meses nem sequer era encarado como uma ameaça. Não podemos esquecer-nos que existe uma rede internacional, uma máfia que procura estender os seus tentáculos a outros países europeus”, referiu Pim Verschuuren, para quem o fenómeno “cresceu muito nos últimos anos, devido às grandes quantidades de dinheiro que as apostas desportivas envolvem”.
Por essa razão, o especialista holandês realçou a necessidade de “cooperação entre os todos os países europeus para coordenarem programas e políticas de combate a este fenómeno, de regulamentar as apostas desportivas e de impor restrições e obrigações”, combate esse que passa “não só pela ação das autoridades criminais e judiciais, mas também de instituições desportivas como as federações e o Comités Olímpicos”.
No cerne do problema, para Pim Verschuuren, estão “as apostas desportivas na internet”, mas alertou para o facto de as respostas no combate ao fenómeno “terem de ser distintas de país para país, visto que há uns que têm uma regulação forte e outros que não”.
Já o vice-presidente da Santa Casa da Misericórdia, Pais Afonso, resumiu o seminário a uma “primeira iniciativa para permitir que os agentes desportivos portugueses fossem despertados para a realidade da manipulação de resultados desportivos”.
“Queríamos que todos os interlocutores desta área trocassem impressões sobre as metodologias de controlo, de monitorização, de compreensão do fenómeno da corrupção desportiva, o qual, infelizmente, é crescente”, disse Pais Afonso à agência Lusa, reconhecendo que Portugal tem “poucos instrumentos de monitorização do fenómeno, tal como acontece com outros países”.
Questionado sobre se existe algum estudo que revele a extensão do problema em Portugal, Pais Afonso admitiu que “é difícil quantificar o fenómeno” e que a iniciativa da Santa Casa da Misericórdia visou abordar “a questão essencial das apostas desportivas e da existência ou não de corrupção desportiva”.
“Percebeu-se que as apostas desportivas em si mesmo, se não devidamente reguladas e fiscalizadas pelo Estado, são um motor de incremento da corrupção desportiva”, disse Pais Afonso, consciente da preocupação crescente de todos os estados europeus “em refletir sobre o modelo a adotar, caso se decida pela introdução das chamadas apostas desportivas à quota”.
Um segundo aspeto que o responsável focou foi a assimilação geral dos participantes no seminário da ideia de que “o desporto desaparecerá se este fenómeno não for combatido”.