Os hoquistas da Oliveirense Marc Torra e Jordi Bargalló têm dividido a preocupação entre Portugal – onde moram com mulheres e filhos – e a Catalunha, região espanhola que os viu nascer e uma das mais afetadas pela pandemia da Covid-19.

Os dois melhores marcadores da formação de Renato Garrido e Edo Bosch – Marc Torra leva quatro golos de avanço sobre o companheiro, com 40 remates certeiros – vivem há uma semana em confinamento, acompanhados pelas mulheres e os dois filhos, cada um, mas com atenções voltadas para a Catalunha, onde têm parte das famílias.

“A minha mãe esteve cá até domingo. Foi-se embora porque em Espanha iam fechar as fronteiras e ela já tinha voo para ir. Está com a minha irmã na Catalunha. Lá está um pouco mais complicado do que aqui, já estão em isolamento obrigatório há alguns dias, com um filho pequeno e é muito complicado. Mas é a situação que existe e é o que temos de fazer, não há outra opção”, afirmou Torra, que chegou a Oliveira de Azeméis na temporada passada.

Bargalló tem o pai e dois irmãos na região autónoma e confessou alguma preocupação pelo progenitor que é “doente de risco pela idade, já teve um ataque cardíaco e é fumador”, encorajando-o a não sair de casa e procurando o contacto regular, mesmo em tempos de quarentena.

“A Internet ajuda a manter as conexões, mas já tínhamos a expectativa de que isto ia acontecer e que vai durar muito tempo. Temos amigos em Itália que já estão há duas semanas a viver o que estamos a passar agora e é algo que toda a gente vai ter de fazer: ficar em casa para nos protegermos não só a nós, mas também às pessoas que têm mais dificuldades na sua vida e os idosos, que são os mais afetados”, afirmou o veterano jogador, de 40 anos, há quatro na Oliveirense.

A suspensão das competições a meio da temporada atirou os dois profissionais com uma carreira recheada de títulos nacionais e internacionais para o isolamento caseiro, em que se encontram há uma semana, algo que Marc Torra começou a antecipar ao receber notícias de Barcelona, com os filhos, de três e cinco anos, a ficarem em casa desde a passada terça-feira.

“Somos uma família tranquila que gosta de estar em casa. Estes dias com a minha mãe foram muito bons, porque agora não sei quando voltamos a estar juntos. Tentamos pôr o nosso grão de areia para ajudar a sociedade nesse sentido: ficar em casa, aguardar e fazer o que o Estado precisa para aguentar este vírus que é perigoso e deve ser levado a sério”, apontou.

Já Bargalló tem procurado manter uma “boa energia” e criar uma rotina com a mulher e os filhos, de cinco e 10 anos, tomando o pequeno almoço juntos, ajudando nos trabalhos de casa, enquanto a esposa se mantém a trabalhar desde o domicílio.

“Almoçamos, descansamos um pouco e depois do lanche faço a minha rotina desportiva que me ocupa entre uma hora e meia a duas horas e vamos passando os dias. Não estamos num momento dramático porque estamos os quatro bem, protegidos e, mais importante, a proteger os outros”, sublinhou.

Os treinos com a equipa – atualmente em terceiro lugar no campeonato – deixaram de ser feitos em conjunto e Bargalló tem aproveitado o espaço fora de casa, enquanto Torra faz alguns passeios matinais à beira-mar, antes de regressarem a casa para concluir os exercícios da equipa técnica.

Porém, não é nas atividades físicas que os dois hoquistas sentem a maior diferença, mas nas brincadeiras diárias entre colegas, que deixaram a pista e passaram agora para os ‘chats’ de grupo, onde entre “parvoíces, vídeos e brincadeiras” se tentam matar saudades do convívio diário no balneário.

“Estamos acostumados a estar com a equipa todos os dias, fazer viagens, treinos, partilhamos as vivências do dia-a-dia e passar disso para não haver nada é muito complicado. Sair apenas meia hora para ir às compras é muito diferente, mas quanto mais rápido interiorizarmos a situação em que estamos, vamos melhorar”, indicou Torra.

Manter as crianças ocupadas e afastar o aborrecimento é uma das tarefas mais complicadas para Bargalló que, apesar da personalidade calma e tranquila, confessou, em tom de brincadeira, ter momentos difíceis e ficar um “pouco maluco” com os trabalhos de casa dos “miúdos”.

“Brincadeiras à parte, toda a gente tem que ceder um pouco. Nós, como pais, cedemos. Os miúdos também têm de perceber que não pode ser só brincadeira todo o dia. Mas não me queixo, há coisas piores na vida e a nós tocou-nos dançar a música que está a soar e ela agora diz-nos para estarmos em casa a cuidarmos de nós e dos outros. É uma questão de mentalização, cada um ter o seu espaço e enfrentar o momento com paciência e alegria”, salientou.

A Espanha registou mais 169 mortos e 4.431 casos nas últimas 24 horas, de acordo com os números atualizados hoje pelo Ministério da Saúde espanhol.

Desde o início da pandemia em Espanha, o país regista um total de 17.147 pessoas infetadas com o novo coronavírus, das quais 767 morreram e 1.107 estão curados.

A região mais atingida pela Covid-19 é a de Madrid, com 6.777 infetados e 590 mortos, seguida da Catalunha, 2.702 infetados e 33 mortos.