Apresentado, esta segunda-feira, como novo treinador do Sporting, Marcel Keizer é um perfeito desconhecido para a grande maioria dos sportinguistas. Por isso, é de todo pertinente, uma conversa com quem conhece o seu trabalho. Falámos com Bart Hinke, jornalista do diário holandês 'NRC Handelsblad', após a apresentação do novo técnico do Sporting no Auditório Artur Agostinho do estádio José Alvalade.

Se há palavra que melhor descreve o impacto da transferência de Marcel Keizer para a imprensa local é a "surpresa". Na Holanda não entendem como é que o Sporting não optou por um treinador português, dado o seu prestígio internacional além fronteiras.

"Estou muito surpreendido, como toda a gente na Holanda, que ele tenha sido o escolhido para ser o treinador do Sporting, com a qualidade e a quantidade de treinadores portugueses que existe. Os técnicos lusos são vistos na Holanda como a grande referência . Há uma grande fornada nos últimos anos".

Bart Hinke percebe que se possa criticar a escolha de um treinador que não conta com títulos e teve uma experiência mal sucedida no Ajax. Se fosse na Holanda, e se tratasse de um português, o sentimento seria o mesmo.

"Na Holanda, pensa-se que ele tem capacidade para orientar clubes de top, consigo imaginá-lo a fazer isso. Mas não deixou de ser uma surpresa o Sporting ter ido buscar um treinador que não tem um currículo internacional que falasse por ele. Penso que os adeptos do Ajax também não iriam aprovar a contratação de um treinador português sem títulos, é essa a perspetiva", explicou, advertindo, no entanto, que o técnico precisa de tempo para se dar a conhecer aos adeptos do Sporting.

"É um treinador que embora não tenha experiência nas ligas de topo, tem currículo nas ligas secundárias na Holanda. É um treinador cerebral e acho que ele pode conseguir fazer um bom trabalho. Espero que pelo facto das pessoas não conhecerem o seu trabalho, não o julguem".

Questionado sobre as reais razões que levaram o treinador de 49 anos a deixar o Ajax, o jornalista sublinhou que se tratou de uma saída "controversa" de um 'grande nome' do futebol holandês.

"Ele [Marcel Keizer] tem boa imagem na Holanda. Os pouco meses em que orientou o Ajax foram ofuscados pela tragédia que envolveu o jogador Abdelhak Nouri, que colapsou no relvado [e saiu agora do coma] e isso afetou o grupo. Ele já era um grande nome na Holanda e teve que lidar com esta tragédia, o que afetou o seu trabalho. Em dezembro, [quando ele saiu], o Ajax estava a praticar um bom futebol, mas a direção nessa altura já se queria livrar dele. Foi estranho para mim a forma como demitiram um treinador que estava a colocar a equipa no caminho certo. Foi uma decisão muito controversa", argumentou.

Conhecido pelo seu trabalho na Academia do Ajax, Bart Hinke acredita que Marcel Keizer poderá potenciar as pérolas da academia leonina, mas alerta que a urgência e o 'resultadismo' poderão prejudicar esse processo.

"Espero bem que ele possa fazer isso. Mas ele está no meio da temporada e por isso ele tem que apresentar resultados imediatamente. Não sei que talentos estão a aparecer [no Sporting], mas não acredito que ele lance já cinco miúdos da Academia, como ele fez no Ajax, porque as circunstâncias são diferentes", finalizou.