O ‘clássico’ do campeão nacional FC Porto com o ‘vice’ Sporting, no sábado, da terceira jornada da I Liga, “nem sempre será bem jogado”, mas deverá apresentar “muito fervor à flor da pele”, projeta o ex-futebolista Fernando Nélson.

“Se for a dar um ligeiro favoritismo, seria ao FC Porto, porque joga em casa e diante dos seus adeptos. Só por isso. Em termos de futebol jogado, ainda é muito prematuro poder dizer quem está melhor e pior. Sinceramente, espero muita luta. Os últimos ‘clássicos’ têm sido caracterizados sobretudo por jogos com muita entrega, vivacidade, luta e paixão”, perspetivou à agência Lusa o ex-defesa de ‘leões’ (1991 a 1996) e ‘dragões’ (1998 a 2002).

O FC Porto, um dos líderes da I Liga, a par de Benfica, Boavista e Vitória de Guimarães, todos com seis pontos, recebe o Sporting, quinto, com quatro, no sábado, às 20:30, no Estádio do Dragão, no Porto, no primeiro embate entre ‘grandes’ da temporada 2022/23.

“Independentemente do resultado que acontecer, nada fica decidido. Estamos apenas e só na terceira jornada do campeonato. Se nos recordarmos do passado recente, alguns clubes tinham margens de atraso bastante substanciais para a liderança e sagraram-se campeões. De vez em quando, o futebol português é pródigo em surpresas, mas uma derrota no ‘clássico’ será mais prejudicial para o Sporting”, enquadrou Fernando Nélson.

Acreditando que “as equipas se vão tentar anular uma à outra em todos os pontos do terreno”, o vencedor de uma Taça de Portugal e uma Supertaça pelos lisboetas vê uma oportunidade para a equipa de Rúben Amorim “ganhar confiança para os jogos que se seguem”, após ter desperdiçado três vantagens em Braga (3-3) e batido o Rio Ave (3-0).

“Há pouco a distinguir entre este início de campeonato e a temporada passada, na qual o treinador experimentou jogar só com elementos móveis na frente. Por força da lesão do Paulinho, o Sporting encarou o Rio Ave sem avançado fixo e fez uma exibição excelente. Projeta-se que seja usado o mesmo modelo no Dragão. Ofensivamente, o Sporting tem sido muito criativo e fica mais difícil para o adversário poder anular jogadores”, explanou o antigo lateral.

Fernando Nélson, de 50 anos, adverte que a “preocupação maior” reside na “segurança defensiva” dos ‘leões’, que encaixaram “demasiados golos num curto espaço de tempo”, apesar de serem “difíceis de bater” desde que Rúben Amorim assumiu o comando da equipa, em 2019/20.

“Do meu ponto de vista, e hipoteticamente, pode estar relacionado com a saída do [João] Palhinha. Se nós recordarmos os jogos em que atuou pelo Sporting, era aquele jogador mais incisivo. Ou seja, quando o adversário chegava à zona defensiva, já ia um pouco a cambalear, sabendo que o João Palhinha tratava de fazer metade do trabalho defensivo. Foi muito importante em toda a estrutura do Sporting durante os últimos anos”, argumentou à Lusa.

No ‘clássico’ já estará ausente Matheus Nunes, que na quarta-feira foi confirmado como reforço dos ingleses do Wolverhampton, com o antigo internacional luso a notar que “a possibilidade existiu sempre, mas a questão do ‘timing’ é difícil de explicar”.

“É muito difícil para o Rúben Amorim e para os sportinguistas ver um jogador destes fora de um clássico tão importante. De momento, o Sporting não tem um atleta com aquelas características, que não são fáceis de se encontrar, e vai ser difícil preencher esse lugar no imediato. Agora, como clube grande que joga para ganhar títulos e tem sempre nas suas fileiras jogadores de muita qualidade, seguramente vai encontrar alguém”, desejou.

Considerando que a disputa da fase de grupos da Liga dos Campeões “era uma montra mais do que suficiente para se valorizar ainda mais”, o campeão mundial de sub-20 em 1991 ressalva a faceta económica na saída de Matheus Nunes para a Premier League.

“Pode haver outras equações que não consideramos, como as questões financeiras [do clube] e as questões projecionais para o atleta. Não sabemos de todos os pormenores e, portanto, haverá razões que seguramente levaram a que este negócio acontecesse. Do meu ponto de vista, acho que desportivamente ele ficaria melhor no Sporting”, assumiu.

Priorizando a aquisição no mercado do sucessor de Matheus Nunes, que fez um golo e uma assistência nas duas jornadas iniciais, e de uma alternativa a Paulinho, Fernando Nélson crê que o reforço Morita “pode estar na linha da frente” para ser titular no Dragão.

“O Pedro Gonçalves destacou-se essencialmente como médio ao serviço do Famalicão. No entanto, sobressaiu no Sporting como avançado. Nunca se sabe se eventualmente poderá também recuar um bocado no terreno e preencher a antiga posição que ocupou quando se afirmou no futebol português. Está tudo no campo das hipóteses”, adicionou, aludindo ao autor de metade dos seis golos feitos pelos ‘verdes e brancos’ em 2022/23.

O vencedor de um campeonato e duas Taças de Portugal pelo FC Porto vê os ‘dragões’ como “os favoritos para a revalidação do título”, numa época em que “não modificaram nada a nível de ADN”, ao preservarem uma “equipa super agressiva e muito ambiciosa”.

“Tiveram duas saídas que de certa forma mexeram um pouco com a dinâmica da equipa. O Fábio Vieira e o Vitinha eram jogadores fulcrais no meio-campo e, claro está, não é de estranhar que o Sérgio Conceição depois se ressinta um bocadinho. Agora, com aquilo que tem na mão, tem estado à imagem do que é apanágio nas suas equipas”, concluiu.