28 de abril de 2002. O Sporting ficava no 'sofá' a olhar atentamente para o desenrolar dos acontecimentos no Estádio da Luz. A casa do 'eterno rival' recebia o Benfica - Boavista, com os axadrezados a estarem proibidos de perder se não queriam entregar o título aos 'leões'.
A equipa de Alvalade tinha perdido a oportunidade no dia anterior de se sagrar (matematicamente) campeã, na visita ao Bonfim que terminou num empate a duas bolas (Jardel 31', 49' para o Sporting, Sandro 39' e Hugo Henrique 41' para o Vitória de Setúbal).
Mas voltemos uns meses atrás.
O Sporting nem começou bem a época: apesar da vitória na 1.ª jornada por 1-0, em Alvalade, frente ao FC Porto, os 'leões' só voltariam a vencer na 5.ª jornada, depois de duas derrotas consecutivas (3-0 frente ao Belenenses e 0-1 frente ao Alverca) e um empate a uma bola em casa do União de Leiria que deixaram os 'leões' na 14.ª posição do campeonato à 4.ª jornada, com apenas quatro pontos.
As três vitórias consecutivas frente a Gil Vicente, Farense e Vitória de Guimarães, colocavam os 'leões' na 3.ª posição, a três pontos do Boavista, de Jaime Pacheco, que se tinha sagrado campeão na época anterior e que lutava pelo 'bicampeonato'.
A derrota frente ao SC Braga na 8.ª jornada seguida de empate a zeros contra o Santa Clara, fez o Sporting voltar a cair na classificação para o 6.º lugar, com cinco pontos de desvantagem para o 1.º, o Boavista. Mas o que se seguiu, foi uma campanha notável. Digamos que o Sporting de 2001/2002, meteu a 'quinta' na 10.ª jornada, ao golear o Paços de Ferreira por 6-0, naquela que foi a maior goleada da época da equipa treinada por Laszlo Bölöni.
Seguiu-se um 1-5 frente ao Salgueiros e uma vitória frente ao Boavista por 2-0 em Alvalade que colocou o Sporting a dois pontos da liderança, liderança essa que os 'leões' garantiram à 14.ª jornada beneficiando das derrotas de FC Porto, Benfica e Boavista.
O 'leão' sentiu-se bem no 1.º lugar e lá se manteve até à 34.ª jornada, a última, com exceção da 22.ª jornada, quando o Boavista aproveitou o empate 'leonino' frente ao Gil Vicente para subir à liderança, lugar que viria a perder de novo depois do empate com o Gil Vicente e da vitória do Sporting frente ao Farense.
Contudo, a vantagem de apenas um ponto do Sporting sobre o Boavista não dava margem de manobra para os 'leões' falharem e só na 31.ª, depois do Boavista empatar com o Marítimo, o Sporting começou a 'respirar' melhor.
Na jornada 32, o Sporting podia mesmo sagrar-se campeão na Luz: o Boavista tinha perdido no dia anterior com o Varzim e a vitória em casa do 'eterno rival' dava o segundo título em dois anos aos 'leões'. O que é certo é que da Luz o Sporting regressou 'só' com um empate tirado a ferros já aos 90+6 graças a uma grande penalidade convertida com sucesso por quem mais que... Mário Jardel.
Eis que voltamos ao 'sofá': o Boavista chega à vantagem na Luz aos 40 minutos graças a livre direto de Erwin Sánchez (graças a uma falha de Moreira, guarda-redes do Benfica). As águias chegaram ao empate aos 54' por Argel e Mantorras aos 81' deu a vitória ao Benfica, que ao mesmo tempo lançava a festa do outro lado da 2.ª circular.
Uma festa que, segundo a Agência LUSA escreveu na altura, provocou "mega-engarrafamentos" no caminho para a Praça do Município em Lisboa, local onde a equipa, que viu o jogo da Luz num hotel junto ao antigo Estádio de Alvalade, foi recebida por Pedro Santana Lopes, na altura presidente da câmara da capital, repleta de " milhares de adeptos empunhando bandeiras e cachecóis com as cores do clube".
O título do Sporting ficou inevitavelmente marcado pelos 42 golos de Mário Jardel, que nos festejos deixou a 'dica' a Scolari pela sua não-convocação para a seleção do Brasil que ia disputar o Mundial de 2002.
"Eu faço o meu trabalho, se as pessoas reconhecem ou não... Eu estou tranquilo. Independentemente de me terem convocado ou não, vou continuar a fazer o meu trabalho. Porque toda a Europa sabe o que eu sei fazer - não jogo 'porra' nenhuma, mas sei fazer golos!"
Jardel foi, de resto, responsável por mais de metade de todos os golos marcados pelo Sporting nessa época (marcou 55 dos 105 golos 'leoninos'), entre Liga (Melhor marcador), Taça de Portugal e Taça UEFA. Tudo numa época que ficou ainda marcada pela conquista da Taça de Portugal, que deu uma 'dobradinha' que fugia aos 'leões' desde 1982.
Desde então, o Sporting não voltou a festejar um campeonato, estando a caminho de ultrapassar o seu pior jejum de 17 anos (entre 1982/1983 e 1998/1999) e de igualar a mais longa 'seca' entre os três grandes do futebol português, o jejum do FC Porto de 1959/1960 a 1976/1977.
Nesta altura, enquanto a Liga está suspensa, o Sporting está já a 18 pontos do líder FC Porto, a 17 do Benfica e a quatro do SC Braga, além de estar já fora da Taça de Portugal depois de cair na 3.ª eliminatória frente ao FC Alverca. Será preciso um autentico milagre para os 'leões' não chegarem ao maior jejum da sua história.
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