A prevenção do risco de lesões dos jogadores é uma das principais preocupações das estruturas médicas e técnicas dos clubes da I Liga portuguesa de futebol, tendo em vista a retoma do campeonato.

Apesar de nunca terem cessado atividade física durante o confinamento provocado pela pandemia de covid-19, os atletas estão sem competição há mais de dois meses, algo que poderá ter interferência na capacidade de resposta dos organismos às cargas a que, agora, vão ser sujeitos.

"É natural que em termos físicos os jogadores estejam um pouco mais fragilizados. Foi um tempo longo de paragem e, independentemente de terem feito atividade individual, nunca é mesma coisa do que o treino no campo e das cargas nos jogos", afirmou à agência Lusa Vítor Pimenta, fisioterapeuta e recuperador físico do Desportivo das Aves.

O responsável, que também já desempenhou funções em clubes com Gil Vicente, Rio Ave ou Varzim, lembrou que as exigências físicas em contexto de jogo são "essenciais" para o fortalecimento do organismo, recordando que tal não aconteceu nos últimos meses.

"Os jogadores estão a fazer uma espécie de pré-época, mas sem os habituais jogos de preparação nesses períodos, em que se trabalham intensidades que não são possíveis de replicar no contexto de treino. Neste regresso, não houve esses jogos em que se estimulam as fibras, fazendo elevar os riscos de lesões", partilhou o fisioterapeuta.

Vítor Pimenta não se surpreendeu com o número anormal de mazelas musculares ocorridos no regresso da Bundesliga, em 16 de maio, considerando "fundamental haver um trabalho com sintonia total entre as equipas técnicas e os departamentos clínico".

"A aplicação das cargas, o acompanhamento dos treinos e os planos de recuperação têm de funcionar com um enorme sincronismo entre todos. O facto de haver pouco tempo entre os jogos poderá piorar a situação das lesões, por isso é preciso muita inteligência nos processos de recuperação dos atletas", completou o fisioterapeuta do Aves.

Vasco Seabra, treinador de futebol que esta época orientou o Mafra, da II Liga, concordou que "mais que nunca é fulcral o acompanhamento diário do estado físico dos jogadores", admitindo que o risco de lesões "é, nesta fase, maior".

"Nenhum treinador quer ter um jogador em sobrecarga e com o risco de perder o seu contributo para as restantes partidas. Será preciso ativar todos os mecanismos de avaliação e proteção para os que atletas estejam o mais aptos possível e com um menor risco de lesões", realçou o técnico.

Para Vasco Seabra, que conhece a exigência da I Liga depois de já ter orientado o Paços de Ferreira, os treinadores têm "experiência e conhecimento" para perceberem os limites físicos dos seus atletas, embora considerado que a adaptação a esta realidade "será um grande desafio".

"Esta nova forma de preparar os jogos é diferente de tudo o que estávamos habituados, mas tanto os nossos técnicos, jogadores e departamentos médicos estão, por norma, preparados para superar desafios e adversidades, que, desta vez, serão transversais a todas as equipas", vincou o técnico de 36 anos.

Essa transversalidade de desafios para o reinício do campeonato, tem proporcionado uma troca de experiências frequente entre os corpos clínicos dos clubes, algo que é incentivado pela Associação Nacional de Médicos de Futebol (ANMF).

"Desde o princípio desta pandemia que os médicos dos cubes têm falado muito entre eles. Inclusive, estivemos juntos na execução do documento para a retoma dos treinos e da competição. Acreditamos que esse contacto permanente é útil para um regresso, sem dramas e com todas as condições", sublinhou João Pedro Mendonça, médico especialista em ortopedia e medicina desportiva e presidente da ANMF.

O clínico, responsável por esta área no Nacional, reconheceu que pode haver um menor fulgor na forma física dos jogadores devido às anormais condições de treino nestes últimos meses, mas considerou "exagerado" falar-se num risco elevado de lesões na retoma da I Liga.

"Poderá acontecer um ou outro caso, mas, na generalidade, os atletas estarão preparados. Na prática nunca estiveram verdadeiramente parados. Trabalharam de outra forma, mas sempre orientados e muito monitorizados", referiu João Pedro Mendonça, concluindo que os clubes "tiveram e continuarão a ter, nestes tempos, um acompanhamento médico diário de excelência.

A I Liga vai ser reatada sob fortes restrições e sem público nos estádios na quarta-feira, com o encontro entre Portimonense e Gil Vicente, naquele que vai ser o primeiro dos 90 jogos das últimas 10 jornadas, até 26 de julho

Após 24 jornadas, o FC Porto lidera a competição, com 60 pontos, mais um do que o campeão Benfica.

Além do principal escalão, também a final da Taça de Portugal, entre Benfica e FC Porto, integra o plano de desconfinamento face à pandemia de covid-19, ainda em data e local a designar.

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