O economista João Duque defendeu hoje que a centralização dos direitos televisivos no futebol “vai ter um impacto grande nos clubes”, mas que só vai resultar "se houver uma redistribuição das receitas e não ficar tudo na mesma".
Em declarações à agência Lusa, João Duque colocou reservas na disponibilidade dos clubes 'grandes' abdicarem de parte das receitas em favor dos restantes, realçando que “muitos deles têm uma expectativa de continuar a ter a liberdade na negociação”.
Daí que o economista João Duque tenha manifestado “sérias dúvidas” na aplicação prática do memorando de entendimento assinado entre a Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) e a Federação Portuguesa de Futebol (FPF).
Este acordo, anunciado hoje pelas duas entidades, visa criar uma sociedade, nos próximos meses, tendo “como único propósito” a “gestão do processo de negociação centralizada dos direitos de transmissão televisiva das competições profissionais”.
“A propriedade da marca pertence à LPFP, mas não é dona de tudo. Daí a dificuldade da negociação, uma vez que as equipas, os jogadores e os estádios pertencem aos clubes, e são os principais emblemas que atraem o público”, salienta.
O economista reconhece que os 'grandes' - Benfica, FC Porto e Sporting – “não jogam sozinhos, pois têm de ter um adversário do outro lado, nem que seja para dar 20-0”, e “a concentração muito grande em apenas um ou dois” faz com que a competição seja desequilibrada.
“Os clubes precisam uns dos outros para jogar e a concentração excessiva numa equipa acaba com o interesse dos campeonatos. Os campeonatos mais disputados, mais renhidos e mais imprevisíveis são os que mantêm maior atratividade”, defendeu.
João Duque admite que esta medida pode contribuir para um maior equilíbrio, “mas para que resulte tem de haver uma distribuição das receitas, pois se continuarem a dar a mesma coisa a Benfica, FC Porto e Sporting não dá em nada”.
O economista aponta o presidente da LPFP, Pedro Proença, como “a ‘chave’ para desbloquear este acordo”, pois é sobre ele que recai a tarefa de congregar as vontades díspares dos vários clubes, sob pena de o projeto não ter aplicação prática.
“Não sei como é que Pedro Proença geriu isto tudo. E se, com a renegociação, o afastamento dos clubes 'grandes' e pequenos ficará na mesma ou não, daí que tenha algumas dúvidas na sua aplicação e se irá contribuir para trazer equilíbrio”, refere.
João Duque considera que “a competitividade e a incerteza” são bons para a modalidade e quanto mais houver campeonatos que são ganhos por outras equipas”, além dos crónicos candidatos ao título, “mais fortalecido fica o futebol”.
“Não sei se os portugueses gostam de incertezas, ou se querem sempre os 'grandes' a ganhar e que os clubes pequenos não passem de bombos da festa. As pessoas querem é isto: três a ganhar sempre, um ou dois a ganhar 80% das vezes e os outros bombos da festa”, disse.
A LPFP e a FPF acreditam que, no limite, até à época de 2027/28, a alteração do atual modelo de negociação dos direitos televisivos das competições profissionais estará concluída.
Comentários