O presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol pediu hoje à Liga, Federação e governo para que tomem uma posição sobre os contratos de imagem, uma «habilidade» a que recorrem alguns clubes para pagar parte dos salários aos jogadores.

«É importante que o caso suscite a intervenção de [Gilberto] Madail, da Liga e do secretário de Estado, que têm responsabilidades desportivas e que tiveram conhecimento hoje de um facto que abala o futebol português e que é recorrente, é preciso saber o que pensam», disse Joaquim Evangelista, em declarações à Agência Lusa.

Hoje, alguns jogadores da União de Leiria revelaram à Lusa que entregaram um pré-aviso de greve, alertando para a não participação do plantel do clube no jogo da 27.ª jornada da Liga, no domingo, em que recebe o Portimonense.

Em causa está o incumprimento dos contratos de representação de imagem, que significa cerca de metade do ordenado de boa parte dos jogadores da União de Leiria: os que chegaram de novo e os que renovaram contrato recentemente.

Evangelista questiona ainda a Liga se o organismo fica “satisfeito” quando tem documentos que atestam que os clubes cumprem com o pagamento dos salários dos jogadores e, no entanto, a realidade é outra.

«Será que a Liga fica satisfeita quando tem um documento a dizer que está tudo bem e depois a realidade é esta», questionou, alertando que «a verdade formal que aparece na Liga não é a realidade».

Para o responsável, a situação vivida na União de Leiria é “atípica”, pois o salário é pago em duas componentes: através de um contrato oficial – cujo pagamento está regularizado - e de um contrato de imagem pago através de uma "off-shore".

«O contrato oficial está regularizado com os jogadores, mas o clube não conseguiu regularizar a outra parte, que está em dívida desde o início da época», explicou.

Evangelista qualificou de “habilidade” este contrato de imagem que é realizado com os jogadores, não sendo somente a União de Leiria o único clube a utilizar, embora não tenha avançado com o nome de outras equipas.

«Trata-se de uma habilidade que não pode continuar a desestabilizar. Temos de fazer um esforço para garantir a estabilidade dos jogadores e o pagamento dos seus ordenados, já que esta é uma habilidade deliberada para não pagar aos jogadores», frisou.

E continua: «Não é aceitável para os jogadores, nem bom para a competição, porque há clubes que se esforçam para ter as contas em dia».

Para Evangelista, este é um problema conhecido dos responsáveis do mundo do futebol, que têm convivido com o mesmo, sem tomar medidas.

«O país desportivo não é diferente do país real, ambos têm problemas. Há que encontrar consenso, procurando dar credibilidade ao futebol português, onde há muita gente de má fé, o que inviabiliza ainda mais as mudanças e reformas», considerou.

Evangelista avança que os responsáveis desportivos têm de se empenhar em mudar as coisas, «não tudo, porque não há ilusões de que se possam mudar todas as questões».

«Os próprios jogadores, que têm alguma culpa em assinar estes contratos, têm consciência de que estão fragilizados com o desemprego, a concorrência de estrangeiros, e daí que assinem, já que a alternativa é ficarem sem emprego», disse.

O sindicalista defende que os contratos de trabalho têm de ser respeitados, referindo que quem decide é «o clube, o dirigente» e se estes «não podem pagar 100, que paguem 50 a horas certas, para não colidir com a vida pessoal de cada um».