Tiago Neves foi o segundo arguido do caso da invasão à Academia do Sporting, em Alcochete, a ser ouvido no julgamento que decorre no tribunal de Monsanto, depois de Bruno Jacinto ter falado logo nas primeiras sessões.

Depois de começar por se afirmar "arrependido", Tiago Neves revelou que foi marcado um encontro para depois rumarem à Academia e confirmou que tapou a cara no caminho até lá, entrando depois nas instalações em passo de corrida. Confirmou que, já lá dentro, lhe passaram uma tocha.

O arguido confessou que acendeu a tocha no exterior do edifício e que depois entrou para a ala do futebol profissional, onde a porta estava aberta, explicando que procurou os jogadores em várias portas até chegar ao balneário.

"Sabia que era irregularidade. Foi estupidez condenável, mas achei que me podia safar assim", admitiu.

Tiago Neves referiu que viu Bas Dost já caído, a tentar levantar-se com a ajuda de um colega, mas afirmou que não notou qualquer marca na cabeça do jogador holandês. Quando entrou no balneário, disse o arguido, "havia fumo e muita confusão". Garantiu que ficou na zona da porta, visto que estava muita gente dentro do balneário e ouviu várias ofensas serem proferidas, como "filhos da p*** joguem a bola", embora tenha garantido que não disse nada.

O arguido disse-se "estupefacto", e garantiu que nunca teve a intenção de agredir ninguém, afirmando que queria apenas ouvir justificações por parte dos jogadores. "Só queria assustá-los e dizer que deviam ter dado mais quando falharam a Liga dos Campeões no jogo com o Marítimo", frisou no seu depoimento no tribunal de Monsanto.

Tiago Neves frisou que não bateu nem ameaçou alguém e, confrontado pela juíza com mensagens de violência garantiu que "eram mais palhaçada, ditas da boca para fora".

O arguido, que disse ter sido membro da Juve Leo mas revelou já não o ser na altura da invasão à Academia, voltou a fazer questão de frisar o seu arrependimento no final do depoimento. "A minha intenção nunca foi agredir alguém. Estava triste. Ia lá dar uma espécie de aperto, pedir justificações. Queria saber porque não ganhavam e não davam mais. A intenção seria possivelmente assustá-los para que percebessem que deviam ter dado mais e ter ganho", disse.

O processo do ataque à Academia de Alcochete - onde, em 15 de maio de 2018, jogadores e equipa técnica do Sporting foram agredidos por adeptos ligados à claque ‘leonina' Juve Leo - tem 44 arguidos, acusados de coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.

Bruno de Carvalho, à data presidente do clube, ‘Mustafá', líder da Juventude Leonina, e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos do Sporting, estão acusados de autoria moral de todos os crimes.

Na tarde desta quarta-feira será ainda ouvido Bas Dost, agora jogador do Eintracht Frankfurt, cujo depoimento se reveste de extrema importância para o processo.