A antiga glória do Sporting, Manuel Fernandes, descreve a célebre goleada por 7-1 ao Benfica de 14 de dezembro de 1986 como um momento de «descrença anímica» que se abateu sobre os adversários «como nunca tinha visto na vida».
«Senti-os sem capacidade de reação, apáticos, bloqueados, nós movimentávamo-nos e não éramos acompanhados. O nosso terceiro golo aniquilou-os, depois do entusiasmo com que procuravam chegar ao 2-2», recordou Manuel Fernandes 25 anos depois em entrevista à agência Lusa, na qual conta algumas histórias desconhecidas do público que rodearam um dos mais famosos “derbies” de todos os tempos.
Uma delas teve a ver com Manuel José, então treinador dos leões, quando se preparava para substituir Manuel Fernandes com o resultado em 5-1, para este «levar uma ovação dos sócios do Sporting», quando alguém veio ao ‘banco’ avisá-lo de que Fernando Mendes «não estava em condições para continuar».
Manuel Fernandes ficou em campo e somou mais dois golos à sua conta pessoal, agravando o descalabro “encarnado”: «Nos últimos quinze minutos senti que em vez de sete golos podiam ter sido oito, nove, dez ou onze, porque o Benfica, que na altura liderava o campeonato, era uma equipa entregue e sem reação».
Paradoxalmente, o Sporting, segundo Manuel Fernandes, jogou «muito melhor» na primeira parte, que chegou ao fim com 1-0, através de «um golo meio trapalhão» de Mário Jorge «em recarga a um remate» do capitão, que «Silvino defendeu», do que na segunda, em que os “leões” marcaram «seis golos».
«Estávamos a dominar o jogo, eu e o [Rafhael] Meade num dia endiabrado, em colaboração com os quatro médios que jogavam nas nossas costas, pois nessa altura jogávamos num 4x4x2 puro», recordou Manuel Fernandes, justificando o golo solitário da primeira parte com o facto de Meade ter falhado «dois ou três golos» e ele próprio «um ou dois».
Porém, na segunda parte tudo mudou em matéria de eficácia: «Fiz o segundo golo logo no início, num pontapé de canto em que – nunca contei isto – eu e o Zinho combinámos onde eu ia aparecer, não foi uma situação treinada, ele meteu a bola exatamente no sítio combinado e surpreendi a defesa do Benfica, desviando-a de cabeça fora do alcance do Silvino».
No entanto, o Benfica ainda esboçou uma reação que o levou a reduzir para 2-1, altura em que o Sporting «oscilou um pouco», mas o terceiro golo marcado por Meade «aniquilou» o rival, Mário Jorge fez o 4-1, Manuel Fernandes o 5-1 e, a partir daí, este sentiu que «nunca mais iria parar» porque os jogadores do Benfica «já não acompanhavam» os adversários.
Reconhece ter sido um «feito inédito, marcante e histórico», que «não se vai repetir tão cedo», mas sempre que é abordado nos núcleos pelos sportinguistas, que «jamais esquecerão esse dia 14 de dezembro de 1986», a propósito do jogo, Manuel Fernandes diz-lhes que quer ser, acima de tudo, lembrado pelo que fez no Sporting «ao longo de 12 anos».
«Sou o terceiro jogador da história do clube com mais jogos, a seguir ao lendário Vítor Damas e ao Hilário, e com mais golos, a seguir ao Peyroteo, a quem ninguém conseguirá bater porque naquela época o Sporting ganhava com goleadas», reivindica Manuel Fernandes.
Comentários