O antigo árbitro de futebol Martins dos Santos começou esta quarta-feira ser julgado em Gondomar por estar acusado de tráfico de influências, mas disse que foi tudo «montado» pelo presidente do S. Pedro da Cova, um clube local, para o incriminar.

Os factos remontam a maio de 2011 e envolvem Martins dos Santos, o então líder daquele clube, Vítor Silva, e um envelope com 1.110 euros que a Polícia Judiciária (PJ) encontrou no BMW do ex-árbitro, logo após este se ter encontrado com o dirigente desportivo, junto ao Pavilhão Multiusos de Gondomar.

O S. Pedro da Cova disputava então o campeonato distrital do Porto e corria o risco de ser despromovido, segundo Vítor Silva, devido aos "roubos" alegadamente cometidos pelos árbitros. Na altura, Martins dos Santos já não era árbitro.

«Não tive tempo de ver o envelope. Ainda hoje não sei o que tinha», disse o arguido durante o seu depoimento perante o tribunal.

Martins dos Santos afirmou que Vítor Silva lhe pôs o envelope diretamente num bolso do seu casaco, dizendo que continha «depósitos de clubes para o Carlos Carvalho», que na altura dirigia o Conselho de Arbitragem da Associação de Futebol do Porto (AFP).

«Nunca ia pensar que algo estivesse montado», afirmou, dirigindo-se ao juiz que o interrogou e que estranhou que ele não tenha procurado ver logo o que, afinal, estava no dito envelope.

Quando se preparava para entrar no seu carro, a PJ, que assistira a tudo, intercetou-o e gritou «droga, droga, droga».

Martins dos Santos contou que procurou desfazer-se do envelope, o qual, porém, veio a ser encontrado sob o banco do condutor da sua viatura. Na posse do agora arguido, a Judiciária encontrou ainda «uma pastinha» com informações sobre a situação dos clubes distritais na tabela classificativa.

«Pensei: estou lixado, é droga», disse ao tribunal. Olhando para trás, afirmou hoje: «Fui burro».

Árbitro da primeira categoria durante 13 épocas consecutivas, até 2003/04, Martins dos Santos manteve-se ligado à arbitragem, nomeadamente como observador da AFP e da própria Federação Portuguesa de Futebol, e foi entretanto condenado, com pena suspensa, no âmbito do processo conhecido por Apito Dourado.

Disse que conheceu Vítor Silva em 2011, quando este era o presidente do S. Pedro da Cova, que foi ele que lhe ligou e que depois disso encontraram-se várias vezes, ora junto ao Multiusos de Gondomar ora nas «bombas da Galp do Freixo», na saída do Porto para aquele concelho.

O dirigente daquele clube ligava-lhe «quando tinha problemas nos jogos», relatou.

Foi depois do jogo do Nogueirense-S. Pedro da Cova (1-1) apitado por Daniel Santos, filho de Martins dos Santos, que ambos mantiveram o encontro, que terminou com a detenção de Martins dos Santos.

Vítor Silva, com interesses na construção civil, também falou hoje ao tribunal. Disse que Martins dos Santos o contactou nessa altura, avisando-o de que «o S. Pedro da Cova ia descer», e que lhe pediu «cinco mil euros» para usar a sua influência e impedir que tal acontecesse.

Segundo Vítor Silva, o antigo árbitro insistiu: «Arranja o dinheiro que ele não desce».

«Depois disso, o S. Pedro da Cova não perdeu um jogo» dos cinco que restavam até ao fim da temporada, realçou.

Vítor Silva afirmou ao juiz que denunciou a situação a Carlos Carvalho e que este desafiou-o a fazê-lo também junto do então presidente da AFP, Lourenço Pinto. A partir daí, a PJ foi alertada.

Vítor Silva combinou depois um encontro com Martins dos Santos para lhe entregar 1.100 euros em notas, que a Judiciária fotocopiou previamente.

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