“Foi um troféu conquistado com sangue suor e lágrimas, como costumo dizer sempre que passo pelo troféu conquistado na Mini Copa do Mundo de 1970, que está patente na sala de troféus do Vitória de Setúbal”, disse à agência Lusa o antigo jogador sadino.

Fernando Tomé recorda que o Vitória de Setúbal tinha estado três dias à espera que a equipa do Santos (Brasil) chegasse, mas acabou por se atrasar cerca de hora e meia, porque o autocarro onde seguia viagem foi apedrejado no percurso para o estádio.

“Fomos apedrejados, partiram-nos os vidros todos, houve alguém que se feriu, chegámos uma hora e meia depois e fomos recebidos pelo público com uma assobiadela monstra. Mas depois do jogo, que vencemos por 3-1, ficou toda a gente surpreendida pela forma como jogámos”, disse.

“No outro dia, os jornais, que já sabiam o que nos tinha acontecido, reconheciam que tínhamos jogado muito e bem e diziam na primeira página: “Como jogam estes portugueses assustados”.

Para Fernando Tomé, ao ‘sangue’ derramado nos ferimentos provocados pelo apedrejamento do autocarro, juntou-se o ‘suor’ necessário para vencer a equipa do Chelsea, por 2-0, no segundo jogo do torneio, equipa que tinha acabado de vencer a Taça de Inglaterra.

“No último jogo, com o Werder Bremen [Alemanha] perdemos 2-1, mas, entretanto, já tínhamos ganho o torneio. A organização decidiu então fazer um jogo de desforra e aí não perdoámos e vencemos por 3-1, para satisfação dos portugueses e vitorianos que se encontravam naquela cidade.

“Foi o delírio e houve ‘lágrimas’ de alegria”, disse Fernando Tomé.

O ex-dirigente Nicolau da Claudina, um dos vitorianos que viveu intensamente esta e outras conquistas do clube do Bonfim, continua a sentir com muita intensidade tudo o que diz respeito ao Vitória de Setúbal e mostra-se entusiasmado pela oportunidade de celebrar o primeiro Centenário do clube já no próximo sábado.

“Ver o clube comemorar o Centenário com este vigor, este ânimo, esta alegria, é das melhores coisas que me poderiam acontecer”, disse à Lusa Nicolau da Claudina.

Com a voz a reflectir um entusiasmo de quem prefere valorizar os aspectos positivos da história do clube, Nicolau da Claudina espera que o clube seja capaz de consolidar um “historial riquíssimo que foi construindo ao longo dos anos, com o apoio da massa associativa, dos atletas e dos dirigentes”.

Ao mesmo tempo que destaca o trabalho desenvolvido por antigos dirigentes como Mário Ledo, Joaquim Venâncio e Fernando Pedrosa, entre outros, Nicolau da Claudina também recorda com saudade o desempenho daquela que terá sido a melhor equipa de sempre do Vitória de Setúbal, em finais da década de 60 e no princípio dos anos 70.

“Foi a fase mais brilhante do clube em termos desportivos, com a equipa a marcar uma presença muito honrosa nas provas europeias e, a nível nacional, com a conquista de Taças de Portugal e de um segundo lugar no campeonato Nacional da I Divisão”, disse.

Nicolau da Claudina recorda também alguns jogadores que se destacavam na equipa verde-branca, como JJ (Jacinto João), Octávio, José Maria, Wagner, Fernando Tomé e muitos outros, que “deixaram um rasto brilhante na vida do Vitória de Setúbal”.

“Temos esperança de que ainda poderemos voltar a ter outras épocas de grandes êxitos, assim os nossos sócios e apoiantes consigam manter a chama acesa com este entusiasmo todo”, acrescentou.