"É essencial valorizarmos cada experiência que a vida de treinador nos proporciona, mesmo aquelas que parecem insignificantes. São esses momentos que moldam o nosso carácter e nos ensinam lições valiosas para crescermos como indivíduos e profissionais. Devemos aprender com as nossas experiências e usá-las como fonte de inspiração para seguir em frente. A vida de treinador é uma montanha russa, repleta de altos e baixos, mas é através destas experiências que construímos a nossa carreira e deixamos a nossa marca no mundo do futebol. Siga!".

É desta forma que Pepa termina uma longa publicação na rede social Facebook, na qual começa por recordar a sua chegada ao Paços de Ferreira, clube que treinou ente 2019 e 2021 antes de rumar ao V.Guimarães, fala das vicissitudes da carreira de um treinador e, sob o título "nunca desistas dos teus sonhos", tece muitos elogios à estrutura diretiva do clube da Capital do Móvel, razão que o leva a acreditar que César Peixoto vai ainda conseguir salvar os castores da descida de escalão na presente temporada.

"O clube tem um forte presidente e uma boa estrutura para o futebol, motivos que me fazem acreditar que esta época também conseguirá a manutenção ao leme de César Peixoto", sublinha.

Pepa orientou o Paços de Ferreira em 72 jogos entre setembro de 2019 e maio de 2021. Conduziu o clube a 30 vitórias e ao 5.º lugar (e consequente apuramento para as provas europeias) na temporada 2020/21. Atualmente encontra-se sem clube, depois de ter, recentemente, deixa o o comando técnico os sauditas do Al-Tai.

Leia a mensagem de Pepa na íntegra

Nunca Desistas dos Teus Sonhos 17/20 Paços Ferreira

Depois de três épocas em Tondela, sempre a atingir o principal objetivo - a manutenção na Primeira Liga - sentia que era hora de seguir em frente e encontrar novos desafios. Infelizmente, durante o verão nenhum convite apareceu. Faz parte da carreira de treinador.

Apesar das sondagens, nada se concretizou e houve apenas uma abordagem, que não se materializou. Com o início da temporada a aproximar-se e todos os 18 clubes da Liga já tendo os seus treinadores, começava a sentir falta da rotina diária de trabalho. Normal. Estava habituado a passar longas horas com a minha segunda família. Saudades das pré-épocas em que jogadores e técnicos trabalham juntos das sete da manhã à meia-noite.

Nesse verão, decidi reforçar a nossa equipa técnica e foi assim que conheci o Samuel, um técnico que se mostrou extremamente confiante em trabalhar comigo. Teve convites de outros clubes da primeira liga e ainda assim preferiu esperar para trabalhar comigo num futuro desafio. Só que não havia desafio nenhum e ele ficou ao nosso lado. Não podia adivinhar que ia encontrar no Paços de Ferreira o Hugo, que se mantém na nossa equipa técnica até hoje. Naquela altura, tínhamos a equipa formada e pronta para começar a trabalhar, só faltava o projecto certo.

No dia do aniversário da minha filha, Noa, jogava-se a quarta jornada do campeonato. Tinha organizado um churrasco à beira da piscina com família, amigos e a equipa técnica quando soubemos que o Paços de Ferreira tinha perdido com o Marítimo. No final da festa, reparei que tinha uma chamada não atendida do Carlos Carneiro. Ou era para me dar os parabéns pelo aniversário da minha filha ou para me convidar a treinar o Paços de Ferreira. Confirmou-se a segunda opção. Marcámos logo reunião com o presidente, Paulo Meneses, e o diretor de futebol, Jaime para a manhã seguinte.

Acertámos tudo na hora. O Paços de Ferreira, um clube familiar, onde já havia jogado, e onde me sentia identificado com as pessoas e o ambiente do clube. Naquele momento, estava em último lugar na tabela mas a motivação era imensa. Só houve tempo para analisar rapidamente o plantel e começar a trabalhar em campo.

O nosso primeiro jogo foi contra o Famalicão. Começámos a perder por 4 a 0, mas ainda conseguimos reduzir com dois golos. 4-2. É em momentos de competição que percebemos as diferenças reais entre as equipas. Mas se as coisas fossem fáceis, talvez eu não estivesse ali. A mensagem que eu passei no balneário foi de máxima união, esforço e trabalho, trabalho, trabalho.

Na semana seguinte, enfrentávamos o Aves e sofremos logo um golo. No entanto, conseguimos virar o jogo e vencer por 2-1. Embora tenha sido a primeira vitória, não fiquei satisfeito com a qualidade de jogo apresentada. Vencemos na raça e com alguma sorte. No treino do dia seguinte, reuni toda a equipa e lancei um desafio: “Malta, nós até podemos perder por azar, mas não vamos ganhar apenas na sorte. Assumimos o compromisso com os jogadores, para adoptar uma proposta de jogo que ia mais ao encontro das suas caracteristicas, para nos valorizarmos e divertirmos em campo e fazer as bancadas do Estádio da Mata Real vibrarem com o nosso jogo. Acredito que, com trabalho árduo e um plano de jogo sólido, podemos alcançar grandes resultados e fazer uma época de sucesso”.

Depois de vencer o Aves, olhei para o calendário do Paços e percebi que ainda tínhamos 28 jornadas pela frente. Foi nesse momento que percebi que teríamos condições para assumirmos um compromisso coletivo com uma ideia de jogo arrojada, dando protagonismo aos nossos jogadores e ao Clube. Se os jogadores e a estrutura acreditavam em mim, eu também tinha de acreditar que poderíamos jogar para mais do que apenas o empate.

Trabalhámos arduamente numa proposta de jogo mais ofensiva e tornámo-nos uma equipa temida pelos nossos adversários. Para isso, precisámos de acreditar muito nas nossas capacidades, jogo a jogo.

Outra mudança crucial para a época positiva foi o bom aproveitamento do mercado de inverno. Trabalhámos em conjunto com a direção para afinar o plantel e tivemos uma grande resposta da estrutura. O clube tem um forte presidente e uma boa estrutura para o futebol, motivos que me fazem acreditar que esta época também conseguirá a manutenção ao leme de César Peixoto.

Naquela altura, conseguimos realizar contratações cirúrgicas. O Marcelo, um central experiente e um líder autêntico, entrou para reforçar a defesa. O Stephen Eustáquio, um craque que vinha de lesões. Numa reunião mostrei-lhe que o queria muito no clube, e acabou por ser a minha extensão dentro do campo no resto da época. O Adriano Castanheira, que estava a ser a revelação no Sporting da Covilhã, trouxe muita qualidade técnica. O João Amaral, um jogador com qualidade e muita vontade de vencer. E o Denilson que trouxe competitividade para o lugar de ponta de lança e ajudou a espicaçar o titular, Douglas Tanque.

Com estas contratações, fortalecemos a competitividade e o aumento da qualidade dos treinos diários e do onze inicial foi notória. Ficámos mais próximos de ganhar e com isso conseguimos acabar a época em 11º lugar, com 39 pontos. Acredito que a mudança de mentalidade e o mercado de inverno foram fundamentais para alcançarmos os objetivos da época.

É essencial valorizarmos cada experiência que a vida de treinador nos proporciona, mesmo aquelas que parecem insignificantes. São esses momentos que moldam o nosso carácter e nos ensinam lições valiosas para crescermos como indivíduos e profissionais. Devemos aprender com as nossas experiências e usá-las como fonte de inspiração para seguir em frente. A vida de treinador é uma montanha russa, repleta de altos e baixos, mas é através destas experiências que construímos a nossa carreira e deixamos a nossa marca no mundo do futebol. Siga!

#NuncaDesistas #PaçosdeFerreira

Seja o melhor treinador de bancada!

Subscreva a newsletter do SAPO Desporto.

Vão vir "charters" de notificações.

Ative as notificações do SAPO Desporto.

Não fique fora de jogo!

Siga o SAPO Desporto nas redes sociais. Use a #SAPOdesporto nas suas publicações.