Um FC Porto em reconstrução parte para a temporada 2016/17 com a espinhosa missão de tentar recuperar o título de futebol, que lhe foge há três épocas consecutivas, um longo jejum sem paralelo há mais de 30 anos.

Nuno Espírito Santo é o treinador em quem os ‘dragões’ confiaram a missão de tentar inverter o caminho do deserto de títulos, mas o antigo guarda-redes suplente dos portistas tem muitos obstáculos para superar, a começar o de não ter disponível a mesma matéria-prima dos adversários.

O tricampeão Benfica manteve o treinador Rui Vitória e fez, atempadamente, contratações cirúrgicas – e, aparentemente, acertadas - para compensar as milionárias vendas que dão alguma folga aos seus cofres e ambições.

Jorge Jesus vai também para a segunda época, mas no Sporting, solidificando um trabalho que na temporada passada quase resultou no título: até ver, mantém a estrutura da equipa e as contratações parecem equilibrar e reforçar a ambição dos ‘leões’.

Dos três ‘grandes’, o FC Porto foi o único a mudar de treinador – Julen Lopetegui, que agora é selecionador de Espanha, descaracterizou a equipa e José Peseiro, na segunda metade do campeonato, não conseguiu unir os cacos – que, apesar de conhecer bem a casa, tem à disposição um grupo com aparentes menos recursos do que os adversários.

As saídas do guarda-redes Helton e do defesa Maicon não desvalorizaram propriamente o grupo, ao contrário de outros três dos mais apetecíveis recursos do plantel, não inscritos na UEFA.

A travessia no deserto que o central Martins Indi, o criativo Brahimi e o ponta-de-lança Aboubakar estão a fazer nesta pré-temporada apenas tem desvalorizado estes ativos da SAD, sem capacidade para intervir no mercado em jogadores de inegável qualidade e classe.

Dos poucos reforços, apenas o defesa central Felipe (ex-Corinthians) parece talhado para a titularidade indiscutível.

O lateral esquerdo Alex Telles (ex-Galatasaray), o jovem médio João Teixeira (ex-Liverpool) e o avançado Depoitre (ex-Gent) não têm estatuto para entrar de ‘caras’ no ‘onze’.

O jovem ponta-de-lança André Silva, que tem marcado em todos os jogos de preparação, e o jovem Octávio, que regressou após uma época de empréstimo ao Vitória de Guimarães, têm sido o abono de uma equipa que, até ao momento, parece ainda muito curta e limitada.

Ao contrário dos principais rivais, os portistas iniciam a época ainda com várias incertezas, parecendo mais do que óbvio que o treinador precisa de mais matéria-prima de qualidade: os bracarenses Rafa e Boly são desejados, mas parecem um sonho cada vez mais inexequível.

A mudança de filosofia de jogo inerente ao novo treinador e a necessária boa ligação entre setores (exige tempo que a equipa não tem) são apenas dois dos desafios para Nuno Espírito Santos, que tem como prioridade evitar que o FC Porto fique em branco pela quarta época consecutiva.

Na era Pinto da Costa, só de 1980 a 1984 os ‘azuis e brancos’ estiveram quatro épocas sem serem campeões, sendo que as perspetivas atuais podem potenciar um inédito e indesejado para o presidente, que seria o ‘tetra-jejum’.

O FC Porto inaugura a temporada na sexta-feira, com a visita ao Rio Ave, mas depara-se ainda com outra missão nesta fase inicial da temporada, o acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões, tendo como adversário a Roma nos ‘play-offs’.