Vem aí mais um clássico do futebol português. No domingo, pelas 18h00, Benfica e FC Porto sobem ao relvado do Estádio do Dragão para aquele que é um dos jogos mais aguardados do ano em Portugal. Os ´encarnados` entram em campo líderes e com cinco pontos de vantagem sobre os ´dragões`, segundo colocados, pelo que a maior pressão está do lado dos da casa.

No Dragão estarão em campo dois treinadores portugueses, com ideias diferentes mas ambos a atuarem no 4-4-2. Aliás este é dos poucos aspetos que mais aproxima os dois técnicos, mas ao mesmo tempo os afasta, tantas são as diferenças entre os dois esquemas táticos.

Nuno: 4-4-2 losango e mais segurança defensiva

Durante a pré-época Nuno Espírito Santo foi ensaiando o 4-4-2, embora que de forma tímida. Um esquema tático nada familiar no Dragão, onde sempre imperou o 4-3-3. O técnico defendeu que ia saltar entre um e outro, dependendo do adversário, dos jogadores e das circunstâncias de cada encontro. O 4-4-2 de ´à costa` no Dragão no empate com a AS Roma, nos play-off de acesso a Liga dos Campeões. Otávio é o ´vagabundo` neste esquema tático, que nesse jogo teve André Silva e Adrian Lopez na frente. Repetiu a dose fora de casa, na vitória por 3-0 em Roma.

Mas na Liga NES optava sempre pelo 4-3-3, com Corona, Otávio e André Silva, embora Otávio derivasse muito para o meio. A versão mais ofensiva do 4-4-2 apareceu frente ao Tondela, numa equipa que teve, ao mesmo tempo, André Silva, Depoitre, Otávio e Brahimi. Correu mal já que o FC Porto empatou. Não tanto pelo esquema mas pela falta de eficácia e do facto de haver demasiados criativos na equipa e pouca mobilidade.

Tudo mudou a partir da vitória frente ao Boavista por 3-1 no Dragão, onde o FC Porto assumiu de vez o 4-4-2 na Liga. Até aí Adrian Lopez vinha fazendo companhia a André Silva mas no jogo fora com o Nacional, Diogo Jota assumiu protagonismo na frente, ao lado do jovem avançado. A sua maior mobilidade e o facto de jogar bem entrelinhas atirou o ex-Paços de Ferreira para a titularidade, numa equipa que pouco ou nada tem mudado. No 4-4-2, os únicos resultados negativos foram a derrota por 1-0 com o Leicester e empate com o V. Setúbal na ronda anterior.

O 4-4-2 dá mais dinâmica defensiva ao FC Porto, já que a equipa raramente está exposta e não permite que o adversário crie tanto perigo. O FC Porto consegue recuperar a bola mais cedo, já que tem quatro jogadores prontos para pressionar na zona intermédia, mais os dois avançados móveis e defensivos. A profundidade nos corredores é dada pelos laterais, muito importantes neste esquema tático. Há muito jogo interior, o que acaba também por ser negativo às vezes, já que os adversários tendem a concentrar muitos jogadores nessa área. É um esquema tático que vive da mobilidade dos avançados, da leitura e dos apoios dos laterais e da chegada de, pelo menos dois médios na zona de finalização. Por isso pede rapidez na circulação da bola para desposicionar o adversário.

Rui Vitória: 4-4-2 clássico pelas alas e muito jogo ofensivo

Desde que chegou à Luz que Rui Vitória trazia em mente um esquema tático: assumiu o 4-4-2 do anterior técnico, Jorge Jesus, dando-lhe muitas vezes maior pendor ofensivo. Na temporada passada, em alguns jogos em que a equipa precisava de ganhar e não estava a concretizar, o técnico chegou mesmo a ter três avançados, dois extremos e Gaitán a lateral esquerdo. Resolveu alguns jogos assim, numa altura em que o Benfica já ataca sem organização.

Mas a matriz está lá: dois laterais que sobem muito no terreno, dois médios, um mais posicional e outro que ajuda nos corredores consoante onde está a bola. Dois extremos que desequilibram muito e dois avançados, sendo um mais móvel (Jonas) e outro mais fixo. Nesta época, com a lesão do brasileiro, tem sido Gonçalo Guedes a assumir esse papel, ficando Mitroglou mais preso. Ao ter Pizzi num dos corredores, Rui Vitória consegue equilibrar um pouco o jogo na zona central já que o ex-Atlético Madrid, adaptado a ´8` por Jesus, deriva para a zona central, ajudando os médios.

Esta forma de jogar faz com que o Benfica tenha um grande volume de jogo ofensivo, criando muitas oportunidades mas a equipa expõe-se muito. Ao ter apenas dois jogadores na zona intermédia, o Benfica sente dificuldades em travar os ataques adversários. Basta que o adversário consiga três ou quatro passes nessa área para ultrapassar essa zona de pressão e entrar no último reduto ´encarnado`. O FC Porto mostrou isso na temporada passada na Luz quando venceu por 2-1. Com esta forma de jogar, um dos avançados, neste caso o mais móvel, tem de recuar para se juntar aos dois do meio e tentar equilibrar a balança nessa zona. Outra dificuldade está também a defender mas agora nos corredores. Os laterais do Benfica estão muitas vezes expostos ao um-contra-um e algumas vezes até ao um-contra-dois, quando os extremos não acompanham os laterais contrários. Daí que quem joga com o Benfica crie algumas oportunidades de golo, embora nos últimos jogos da I Liga isso não tenha sido visível.

Resumindo, dois esquemas idênticos mas diferentes na sua forma de atacar e defender. O FC Porto com mais segurança defensiva e menos presença na área adversária, o Benfica mais permeável a defender mas mais forte no ataque, onde chega sempre com muitos elementos. No domingo, logo se verá qual destes 4-4-2 sairá vencedor.

O FC Porto-Benfica, da 10.ª jornada da I Liga, está marcado para as 18h00 deste domingo, no Estádio do Dragão. Lidera o Benfica com 25 pontos, mais cinco que o FC Porto e mais sete que o Sporting.