Benfica e Sporting “chegam mais ou menos nas mesmas circunstâncias” ao dérbi de sexta-feira, da 13.ª jornada da I Liga, avalia o ex-futebolista internacional português Pacheco, sem memória recente de ter previsto tanto equilíbrio.
“Os dérbis são sempre difíceis de antever. As duas equipas estão em bons momentos e têm jogadores que podem desequilibrar a qualquer momento. Teoricamente, há já muito tempo que não me recordo de antever um dérbi tão equilibrado como este. Se calhar, o resultado vai desmentir-me”, frisou à agência Lusa o ex-avançado de ‘águias’ e ‘leões’.
O Benfica, terceiro colocado, com 31 pontos, recebe o campeão nacional Sporting, segundo, com os mesmos 32 do líder FC Porto, na sexta-feira, às 21:15, no Estádio da Luz, em Lisboa, logo após a visita dos ‘dragões’ ao Portimonense no arranque da ronda.
“O Sporting joga com confiança, acredita muito e isso dá alguma estabilidade emocional, fazendo com que a equipa se mantenha sempre muito coesa e segura de si em todos os jogos que tem feito. Já o Benfica tem-se aproximado desse nível. Nota-se que está mais confiante e as exibições também têm sido bem melhores que há uns tempos”, analisou.
António Pacheco realça a aquisição de João Mário, que se sagrou campeão nacional pelos ‘leões’ em 2020/21, emprestado pelo Inter Milão, como “determinante” para dar consistência aos ‘encarnados’ durante a segunda passagem de Jorge Jesus pela Luz.
“Ao quase obrigar a equipa a manter a bola, torna-a mais forte e com menos percalços. Quem detém a posse, está sempre menos próximo de sofrer contra-ataques ou jogadas perigosas. Creio que o João Mário trouxe muito isso à equipa e até a contagiou. Qualquer jogador à volta dele hoje em dia falha bem menos passes do que em 2020/21”, ilustrou.
O médio, que venceu o Euro2016 pela seleção nacional, ingressou na Luz no verão a custo zero, um dia depois de ter rescindido com o campeão italiano, que o contratara ao Sporting em 2016, potenciado por Jorge Jesus, atual treinador das ‘águias’, em Alvalade.
“Depende muito de jogador para jogador e da mentalidade de cada um em situações de grande pressão. Aparentemente, o João Mário parece uma pessoa que sabe lidar - ou, pelo menos, disfarça muito bem -, perante este tipo de contexto. Quanto à pressão propriamente dita, lamento. É uma estupidez e já não devia existir esta clubite”, notou.
Se João Mário trocou diretamente Alvalade pela Luz, Pacheco fez o caminho inverso no célebre ‘verão quente’ de 1993, acompanhado Paulo Sousa na travessia da Segunda Circular, na sequência de uma polémica rescisão com o clube ‘encarnado’, pelo qual venceu dois campeonatos, uma Taça de Portugal e outra Supertaça, de 1987 a 1993.
“É de muito mau tom misturar outro tipo de sentimentos e a história com as decisões que os atletas têm de tomar a nível profissional. A partir do momento em que há ou não acordo, a vontade é muito subjetiva. O João Mário nunca deu a entender que queria ir para o Benfica ou outro clube. Apenas não chegou a acordo com o Sporting”, lembrou.
Quase oito dezenas de jogadores na história do futebol português alinharam pelos dois rivais lisboetas ao longo da carreira, sendo que 22 trocaram o Benfica pelo Sporting na mesma época ou em temporadas seguidas, ao passo que 16 fizeram o trajeto oposto.
“A partir desse momento, o jogador é livre para poder escolher o clube e qualquer outro clube é livre de poder contratar o João Mário. Neste caso, foi o Benfica e, por si só, a situação fica resolvida. Não fazem sentido nos dias de hoje outras questões por parte dos diretores dos clubes ou dos atletas para justificar certas e determinadas coisas”, vincou.
Pacheco, de 55 anos, “não está surpreso” pelo elevado rendimento dos ‘leões’ sem João Mário, considerando que a “preponderância mental” incutida por Rúben Amorim desde a época anterior “não mudou assim tão rapidamente” em prol de uma “equipa consistente”.
“Todos vimos na época passada que tinha pernas para dar passos mais largos. Não será surpresa nenhuma tudo aquilo que o Sporting fizer este ano no bom sentido, porque tem uma equipa com bastante qualidade e muita capacidade de se tornar cada vez melhor, já que os jogadores são mais experientes e têm mais conhecimento entre si”, descreveu.
O ex-avançado, que venceu uma Taça de Portugal durante a permanência em Alvalade, entre 1993 e 1995, relativiza a influência de uma possível menor condição física do Sporting face ao Benfica, que pouco se desgastou num jogo bizarro diante do Belenenses SAD e teve quase 24 horas de descanso a mais face à vitória ‘leonina’ sobre o Tondela (2-0).
Os ‘azuis’, afetados por um surto de covid-19, iniciaram a partida com nove jogadores, dois dos quais guarda-redes, e recomeçaram com sete após o intervalo, tendo a lesão de João Monteiro antecipado o fim aos 48 minutos, quando as ‘águias’ venciam por 7-0.
“Como ex-profissional e pessoa que ainda vive o futebol de forma bastante intensa, é completamente impossível conceber uma situação destas numa das melhores ligas da Europa. A estrutura do futebol e as pessoas com responsabilidades teriam de cair em conjunto. Arriscaria dizer que foi a jornada mais negra do futebol português”, concluiu.
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