O Presidente do Benfica, Rui Costa, concedeu esta terça-feira uma entrevista à BTV na qual explicou aos benfiquistas todas as movimentações de mercado do Clube na janela de transferências de verão em 2024, aproveitando ainda para olhar para a atualidade do clube da Luz.

Neste mercado de transferências do passado verão o Benfica venceu João Neves ao Paris Saint-Germain, Marcos Leonardo ao Al Hilal, David Neres ao Nápoles, Morato ao Nottingham Forest e Paulo Bernardo ao Celtic, num encaixe financeiro perto dos 150 milhões de euros, tendo Rafa Silva saído a custo zero.

Em sentido inverso, o Benfica contratou Vangelis Pavlidis, Kerem Akturkoglu, Jan-Niklas Beste, Álvaro Carreras, Leonardo Barreiro, Zeki Amdouni, Issa Kaboré e Renato Sanches.

Objetivos do mercado alcançados

"Tentámos um pouco o que sempre tentámos desde o início do meu mandato: criar um plantel de qualidade, algo que procurámos sempre. Com base em vários itens: curto - temos um plantel mais uma vez de 25 jogadores, sem jogadores em excesso; com forte presença da formação - 8 ou 9, se contabilizarmos o João Rego - mas acima de tudo com qualidade, homogéneo e mais competitivo do que o ano passado. Equilibrado do ponto de vista desportivo e financeiro.

Numa análise geral do que foi feito, colmatando saidas que foram necessárias colmatar, apetrechando o plantel, acredito plenamente que conseguimos o que pretendíamos. Vejo um plantel competitivo, forte, equilibrado, com dois jogadores por posição. Com todos prontos para a titularidade. Era isso que nos guiava. Mas procurando dar mais equilíbrio"

Saídas

Plantel construído a pensar nas várias competições

"Temos cinco competições para fazer este ano, sabemos da exigência que é representar este clube e procurámos que o plantel estivesse pronto para todas as competições. Acho que nos apetrechámos bem, colmatámos as saídas que tínhamos para colmatar e criámos competitividade diferente no seio do plantel. O trabalho foi bem realizado, agora os resultados vão ditar se foi bem ou mal feito".

Saída de João Neves

"Eu e o João já explicámos na altura qual era a ideia das duas partes. Quando se fala de um jogador com o carisma do João é sempre uma dor perdê-lo. Fomos rejeitando propostas que tinham chegado mais cedo e de menor valor e fomos fazendo subir as propostas. Chegámos a um valor que era inevitável quer para um lado, quer para o outro. O João não queria sair do Benfica, mas há números que se tornam inevitáveis para o jogador e para o clube. Todos achamos que o João não tem preço, no sentido objetivo, mas temos de olhar para o mercado e perceber como ele está a funcionar.

Este foi o mercado mais baixo desde 2016 ou 2017, o primeiro em que não houve uma transferência acima dos 100 milhões de euros. Não estamos aqui para bater recordes, mas sim para valorizar os nossos jogadores. Se num outro ano os 60 milhões eram baixos, na atualidade está no top cinco das transferências mais altas deste mercado. Custa sempre ver partir um dos nossos meninos, mas são necessidades às quais não podemos dizer que não".

Saídas de Marcos Leonardo e David Neres

"A saída do Marcos Leonardo é diferente, tem que ver com opções estratégicas do plantel. Contratámos o Pavlidis, que até agora parece ter justificado a sua aquisição. Na nossa estratégia desportiva quisemos ficar com apenas dois pontas de lança na área mais um que pudesse fazer outras posições. Por isso saiu o Casper e ficámos com o Pavlidis, com o Arthur Cabral e com o Amdouni. Fomos evitando as propostas pelo Marcos Leonardo até que chegou uma de 40 milhões de euros. Sejamos muito claros, apesar de toda a margem de progressão do jogador, essas só aconteciam se ele jogasse. Ter uma proposta de 40 milhões por um jogador que é suplente torna quase inevitável que a aceitássemos.

O Neres, apesar de toda a sua qualidade e do que de bom fez no Benfica, não deixa de ser um jogador de 27 anos e que oscilou muito na titularidade. Já no ano passado surgiram propostas por ele e ele queria mudar de ares. Este ano houve mais propostas até chegar a do Nápoles, para um campeonato que ele lhe agradava e considerámos que em posicionamento de plantel podíamos ter jogadores de outras características. Veio o Kerem Aktürkoğlu, que joga nos dois flancos, ao contrário do Neres, que gostava mais de jogar pela direita. Aceitámos a saída do Neres por um valor substancial tendo em conta que era um jogador que não era titular indiscutível".

Morato rumou a Inglaterra e Paulo Bernardo ficou na Escócia

"O Morato é mais um jogador formado por nós, que nos deu bastante. No ano passado até foi muitas vezes sacrificado a jogar numa posição que não era a sua e cumpriu sempre. Com a continuidade do Otamendi, com a afirmação de António Silva e com a ascensão do Tomás Araújo, arriscávamo-nos a ter o Morato como quarto central. Há dois anos o Morato tinha outra projeção, mas entendemos não desvalorizar o ativo e prejudicar a sua carreira ao mantê-lo como quarto central. Era provável ter poucos minutos, daí a saída. Ficaram os três centrais, mais um da formação.

Quanto ao Paulo Bernardo, fizemos algo à imagem do que fizemos com o Jota, com o mesmo clube, deixando uma percentagem futura para o Benfica. Não cortamos as pernas aos jogadores e deixámo-los prosseguirem as suas carreiras".

Elogios no adeus a João Mário

"O João Mário foi um dos homens mais extraordinários que encontrei no futebol, deu-nos muito, foi muito influente no ano do título, mas houve um elo de ligação que se partiu. Nós e o jogador entendemos que era melhor seguirmos caminhos diferentes. Como foi visível, houve alguma coisa que se partiu pelo meio".

Entradas

Pavlidis brilhou na pré-época, Akturkoglu brilha desde que chegou

"O Pavlidies fez mais golos na pré-teporada do que agora, mas tem tido prestações altíssimas. Os golos vão aparecer com naturalidade, como sempre fez toda a sua vida. Queríamos um ponta de lança com uma média de golos mais elevada do que os que tínhamos no ano passado. Estava referenciado há muito tempo e estamos muito satisfeitos com a dupla Pavlidis/Arthur Cabral.

"O negócio do Akturkoglu foi concluído nos últimos instantes do mercado, mas não deixa de ser jogador que já seguíamos muito antes. Só chega no último dia por causa das novas leis da imigração, mas vai de encontro ao que acabei de dizer do Neres. Perdemos um criativo que privilegiava jogar pela direita e precisávamos de um jogador capaz de jogar em várias posições. Nos três jogos que fez deixou marca em todos eles e esperamos que continue assim. Vai ao encontro do equilíbrio do plantel. Sentíamos que do lado esquerdo tínhamos menos criadores. Assim libertamos o Aursnes para outras posições e ainda queremos apostar no Schjelderup e no Prestianni".

Contratação de Leandro Barreiro e regresso de Renato Sanches

"Acabámos a época com três médios de raiz e já o conhecemos há muito tempo. Ia ficar livre, conseguimos antecipar o mercado e tivemos facilidade em contratá-lo. O Leandro queria muito vir para o Benfica porque tem raízes portuguesas. É um jogador de plantel, vem complementar a zona de meio-campo que era uma lacuna que entendemos que poderíamos melhorar.

Com a saída do João Neves havia a necessidade de colmatar a posição. Perdemos um jogador da casa e queríamos contratar outro jogador da casa. Nos últimos anos não teve o mesmo fulgor, mas o Renato tem muita 'fome' de voltar a ser o Renato. Hoje está aleijado, mas tenho confiança que ainda vamos ter muito Renato este ano".

Amdouni referenciado desde a época passada

"Estava referenciado desde a época passada, aproveitámos agora que a sua equipa desceu de divisão. É muito forte, pode fazer as quatro posições ofensivas, mas gosta mais da posição de segundo avançado. Foi o jogador ideal para essa posição. Pode entrar para o lado esquerdo, tem muita presença perto da área. Chegou na última semana de mercado, depois houve seleções, está a entrosar-se, mas vai ser importante. Fizemos um empréstimo com opção de compra".

Outros temas

Questões financeiras

"Esta época vendemos mais do que comprámos. Tivemos 114,7 milhões de receita e 40 milhões de investimento, sendo que poderão acrescer jogadores que vieram com opção de compra. Tivemos um resultado negativo nas contas acima dos 30 milhões de euros e não vou embelezar, não é isso que pretendemos fazer, mas as pessoas têm de perceber que o 'timing' da venda influencia muito. Podia estar aqui facilmente com um resultado positivo, mas optámos, de forma racional e pensada, em prescindir do resultado e trabalhar muito melhor em termos económicos.

Já perdemos muitos milhões de euros por vender mais cedo ou à pressa. O mercado começou mais tarde, fruto do Campeonato da Europa e da Copa América, e não fizemos nenhuma venda até 30 de junho, daí o resultado negativo acima dos 30 milhões. Se tivesse aceitado a primeira proposta do João Neves tínhamos tido um resultado positivo. Digo isto para tranquilizar os sócios do Benfica. Não estamos aqui sem saber o que estamos a fazer".

Plantel à imagem de Lage

"Ele chegou e já tinha acabado o mercado, não teve influência nessa parte. Quando se faz um plantel, faz-se à imagem do treinador. Mas sabia que este plantel se moldava muito à imagem do Bruno Lage, sei como ele gosta de ter os plantéis montados e o plantel podia ter sido construído pelo Bruno Lage, acho que ele está satisfeito e a dar rendimento ao mesmo".

Demissão de Fernando Seara e a próxima Assembleia Geral

"Lamento sobre o que aconteceu. A demissão do Dr. Fernando Seara. Lamento profundamente. Sei o sentimento que ele tem pelo Benfica e tenho muita pena que tenha acontecido isto. Deixo-lhe um grande abraço e um agradecimento por tudo o que ele deu ao clube. A proposta global foi aprovada, agora quero que seja discutida tema a tema, não só para o atual, mas para o futuro presidente do Benfica, para que vá ao encontro do que são as necessidades do clube e dos sócios.

A próxima AG é diferente. Espero uma AG à Benfica, com o respeito e dignidade que este clube tem. Cá estarei para ouvir a crítica, mas, também, dentro do respeito a que este clube obriga".