O Sporting recebe este sábado o Benfica em jogo a contar para a 33ª jornada do campeonato nacional naquele que é apelidado de 'dérbi eterno' e que já conta com 110 anos de grande rivalidade entre os dois maiores clubes de Lisboa.
Independentemente do atual momento de ambas equipas, a história centenária dos confrontos entre Benfica e Sporting prova que nestes dérbis entre 'águias' e 'leões' o resultado final é sempre imprevisível.
O SAPO Desporto recorda-lhe alguns dos momentos que marcaram esta acesa rivalidade entre Benfica e Sporting que começou, curiosamente, fora das 'quatro linhas' quando oito jogadores abandonaram o Sport Lisboa (clube que daria origem ao SL Benfica) para integrar o recém formado Sporting Clube de Portugal com a promessa de melhores condições de trabalho, nomeadamente banhos quentes e equipamento lavado ao intervalo.
Como tudo começou...
Mas comecemos pelo primeiro jogo 'dentro das quatro linhas' entre Benfica e Sporting realizado a 1 de dezembro de 1907 a contar para o Campeonato de Lisboa. Nas crónicas da altura o jogo foi realizado entre o Sporting Clube de Portugal e o Sport Lisboa em Carcavelos com a vitória a sorrir aos 'leões' por 2-1.
A formação do Campo Grande apresentou-se no Campo da Quinta Nova com oito 'reforços' do rival e venceu o primeiro dérbi com golos de Cândido Rodrigues e um autogolo de Cosme Damião já na segunda parte. Antes do intervalo, os encarnados tinham empatado por intermédio de Corga sendo que o início da segunda parte teve um episódio caricato. Segundo os relatos da época, a segunda parte começou debaixo de chuva forte o que obrigou os jogadores a refugiarem-se nos balneários.
Com o resultado em 1-1, a equipa do Sport Lisboa apresentou-se em campo para disputar o segundo tempo, mas sem adversários pela frente, uma vez que os jogadores do Sporting recusaram-se a sair do balneário devido à forte chuva, o que obrigou o árbitro do encontro a usar a pedagogia para obrigar a equipa leonina a regressar ao jogo. Os 'leões' lá disputaram a segunda parte e acabaram mesmo por vencer com um autogolo de Cosme Damião, um dos fundadores do Sport Lisboa e Benfica.
Curiosamente, o primeiro golo do Sporting foi apontado por um dos oito jogadores que saíram do Sport Lisboa em busca de melhores condições.
Apesar desse desaire, os 'encarnados' ganharam (4-2) o conjunto dos poucos jogos (seis) realizados na primeira década do século XX, assumindo uma superioridade ainda maior na segunda, com 13 triunfos, contra apenas cinco dos 'leões'.
As 'águias' chegaram a ter mais 10 vitórias, só que o Sporting respondeu: foi melhor nas quatro décadas seguintes e no final da temporada 1949/50 já tinha dado a volta ao histórico (56 triunfos, contra 54).
O melhor período do Sporting foi a década de 40, com mais de 50% de vitórias (21, em 40) e 101 golos - recorde em qualquer década -, em pleno reinado dos 'cinco violinos' (Peyroteo, Vasques, Albano, Travaços e Jesus Correia).
Os 'leões' acabariam a década de 50 do século passado na liderança do histórico, mas, nos anos 60, o Benfica assumiu o comando e não mais parou de se distanciar. Depois, o clube da Luz passou a dominar por completo e reinou nas quatro décadas seguintes, sobretudo na de 70, ainda como o 'pantera negra' Eusébio da Silva Ferreira a ditar leis: 15 triunfos em 27 jogos (55,6 por cento).
O Sporting equilibrou na primeira década do século XXI (oito triunfos para cada lado e outros tantos empates), mas, na segunda, a liderança do Benfica é, para já, clara, com 10-4 em vitórias e 26-17 em golos.
Desde o dérbi de dezembro de 1907, Benfica e Sporting já disputaram mais de 300 jogos entre si, com muitos desses dérbis a decirem diretamente títulos, desde os Campeonatos de Lisboa de 1918/1919, 1927/1928 e 1935/1936, conquistados pelos 'leões', ao Campeonato de Portugal de 1934/1935, conquistado pelo Benfica, e o de 1937/1938, conquistado pelo Sporting. Já em finais da Taça de Portugal, Benfica e Sporting defrontaram-se em oito ocasiões com os 'encarnados' a conquistarem seis títulos à custa dos rivais leoninos. Ao nível de títulos em campeonatos nacionais, os dérbis entre Benfica e Sporting foram muitas vezes decisivos em determinar o campeão ou mesmo afastar o rival do tão ambicionado troféu.
Histórias de outros dérbis entre Benfica e Sportina a marcar a maior rivalidade desportiva de Portugal
Salazar dá origem à Supertaça
Dia solene. Decorria o dia 10 de junho de 1944, dia de inauguração do estádio Nacional no Jamor. Obra do governo liderado por Oliveira Salazar. Os convidados de honra são os dois maiores clubes de Lisboa. O Sporting, vencedor do campeonato contra o Benfica, que foi o vencedor da Taça de Portugal. Os leões vencem por 3-2, com golos de Peyroteo (2) e um de Eliseu. Mesmo sem querer, Salazar acabou por fundar a primeira versão da Supertaça. A competição 'à séria' só veria a luz do dia em 1979.
Brinco de Vítor Baptista
É uma das grandes histórias do futebol português e do dérbi entre Benfica e Sporting em particular. Decorria o ano de 1978. O dia: 12 de fevereiro. O golo do triunfo foi apontado por Vítor Baptista um dos 'bons malandros' do nosso desporto rei. Durante os festejos o jogador perdeu o brinco e fez com que os companheiros estivessem durante alguns minutos a procurar o dito, mas nada. Mais tarde Vítor Batista explicou o motivo da preocupação: "O brinco custou-me 12 contos, o prémio de jogo era oito. Perdi dinheiro".
Caniggia foi expulso, partida teve que ser repetida, mas o Sporting acabou por ver reconhecido o triunfo
Decorria o ano de 1995. O Sporting venceu o encontro na Luz (2-1) com golos de Balakov e Iordanov, sem apelo nem agravo. Mas o caso do jogo foi a expulsão de Caniggia que motivou decisão inédita. Jorge Coroado mostrou primeiro o cartão amarelo ao jogador argentino e depois o vermelho. O problema é que Canniggia não tinha visto um primeiro amarelo. O Benfica queixou-se e a partida foi repetida. Algum tempo mais tarde a FIFA acabou por dar razão ao Sporting e atribuiu o triunfo aos leões.
A mãozinha de Paulo Bento e a medalha de Pedro Silva
É uma episódio relativamente recente datado de 2009. O Sporting vencia por 1-0, quando ao minuto 73 foi assinalada uma grande penalidade por suposta mão de Pedro Silva. A bola bateu-lhe no peito. O jogador acabou expulso e perdeu a cabeça, dando um empurrão ao árbitro Lucílio Baptista. Paulo Bento, técnico dos leões, fez na altura um gesto com a mão queixando-se de 'roubo' nesse lance. O Benfica empatou a partida e acabou por vencer a Taça da Liga nas grandes penalidades. Na cerimónia de entrega das medalhas, Pedro Silva atirou a medalha para o relvado.
*Artigo atualizado. Publicado originalmente a 1 de janeiro de 2018, aquando do dérbi na Luz, da 16.ª jornada
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