Manuel Faria, Manuel Góis Custódio e Duarte Ferreira, testemunhas do Ministério Público (MP), confirmaram telefonemas com o arguido António Azevedo Duarte, membro do Conselho de Arbitragem (CA) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) de 1998 a 2004.

"Fui contactado por Azevedo Duarte. Entendi que era para dar ao árbitro nota muito alta", testemunhou o observador, função que manteve até 2006, confrontado com avaliação de 25 de Janeiro de 2004, no Portomosense-Académica B (II B).

Observador nas épocas de 2002/03 e 2003/04, Manuel Custódio disse que foi contactado "uma vez por António Henriques", do CA da FPF e também arguido, e "algumas vezes por Azevedo Duarte".

Sem lembrar "os pormenores", o antigo avaliador de árbitros recorda-se que Azevedo Duarte lhe pediu para "melhorar ou dar a nota mais baixa".
Duarte Ferreira, que deixou o quadro de observadores em 2005, lembrou que foi "contactado talvez por duas vezes" por Azevedo Duarte, mas sem se recordar em que jogo.

O antigo observador garantiu que "o objetivo do telefonema foi o de descer a pontuação", pedido que recusou.

A testemunha, uma das seis ouvidas na sessão, aludiu ainda aos factores de correcção, sem especificar em que parâmetros funcionavam.
João Mesquita, assessor na altura dos factos em julgamento, admitiu igualmente a existência de factores de correcção, embora tivesse salientado que não conhecia "a grelha que admitia esses factores que alteravam as pontuações" dos árbitros.

Mesquita aceitou depor em tribunal, depois de João Medeiros, advogado de Pinto de Sousa, ter alertado para o facto de o antigo árbitro ter sido constituído arguido neste processo, acabando por o MP retirar a acusação.

Confrontado pelo procurador da República, Mesquita disse que Luís Nunes da Silva, também arguido e dirigente do CA da FPF à altura dos factos, lhe "pediu protecção de um jovem árbitro que tinha acabado de subir" de escalão.

O recurso do magistrado às conversas telefónicas dos autos levou João Medeiros a pedir para ser exarado em ata a utilização "irregular" de escutas, por o colectivo de juízes ainda não se ter pronunciado sobre requerimento para invalidar as escutas, estando a aguardar certidão do Tribunal de Gondomar, onde foi julgado o Apito Dourado.

Neste processo, os arguidos estão acusados de crimes de falsificação de documentos para a promoção e despromoção de categoria de árbitros.
Pinto de Sousa, presidente do CA da FPF de 1983 a 1989 e de 1998 a 2004, é outro dos arguidos, indiciado da prática de 144 crimes de falsificação de documentos.

Na sessão de hoje do julgamento, originado pela certidão 51 do Apito Dourado, Pinto de Sousa esteve ausente devido a doença.

A próxima audiência na 2.ª Vara Criminal de Lisboa realiza-se a 17 de Março.