A época conturbada do lanterna-vermelha Desportivo das Aves dentro e fora dos relvados deixou a "verdade desportiva" da I Liga de futebol "completamente falseada", defendeu hoje o treinador do Gil Vicente.
“É uma situação de alerta, mas não é nova. Arrasta-se há três ou quatro meses e as pessoas já tiveram tempo mais que suficiente para julgá-la. A verdade desportiva está completamente falseada e não há por onde fugir”, apontou Vítor Oliveira, na conferência de antevisão ao duelo com o Paços de Ferreira, na sexta-feira, da 34.ª e última jornada.
O experiente técnico considerou que os organismos reguladores do futebol português “terão de estar extremamente atentos nos tempos mais próximos”, agindo “rapidamente e de uma forma séria e forte” em prol de “um futuro mais risonho”, sob pena de serem multiplicados casos de “incumprimentos dos pressupostos” por parte de outros clubes.
“O Desportivo das Aves jogou com uma equipa na primeira volta e com outra completamente diferente na segunda. Por diversas razões falseou os pressupostos a que estava obrigado e que deviam ser devidamente atendidos, fiscalizados e penalizados quando não existe a devida correspondência por parte das SAD”, argumentou.
A administração de Wei Zhao informou no domingo que não iria comparecer ao duelo com o Benfica, na terça-feira, no encerramento da 33.ª jornada, que as ‘águias venceram por 4-0, devido à anulação da apólice de seguro de acidentes de trabalho, situação resolvida pelo clube no dia seguinte, quando venceu o terceiro mês de salários em atraso.
Essas dívidas despoletaram as rescisões unilaterais dos guarda-redes Quentin Beunardeau e Raphael Aflalo, dos defesas Jonathan Buatu e Mato Milos, dos médios Aaron Tshibola, Estrela e Pedro Delgado e dos avançados Kevin Yamga, Rúben Macedo e Welinton Júnior, reduzindo as opções do treinador Nuno Manta Santos.
“As pessoas foram empurrando com a barriga e chegámos a esta triste situação, num clube com uma história fantástica e de gente séria e cumpridora, que gosta de futebol e se vê metida no meio disto por pessoas menos corretas na gestão e sem ter qualquer responsabilidade”, atirou Vítor Oliveira, que comandou os nortenhos na época 2010/11.
Os jogadores defrontaram o Benfica pouco depois de a SAD do Aves ter sido absolvida de um processo disciplinar associado ao incumprimento salarial de março a abril, numa decisão do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) idêntica ao desfecho sobre o atraso de vencimentos entre dezembro de 2019 e fevereiro de 2020.
“Nem os jogadores nem a massa associativa merecerem passar por isto. Se fôssemos suficientemente competentes na análise dos problemas do futebol, certamente já teríamos resolvido atempadamente e poupado toda a gente desta situação. O futebol merecia mais respeito dos prevaricadores e de quem possibilitou que isto acontecesse”, concluiu.
A decisão do Conselho de Disciplina da FPF impede uma penalização de dois a cinco pontos, face aos 17 somados em 33 jornadas pelo Desportivo das Aves, que confirmou a despromoção à II Liga em 29 de junho e despede-se com a visita ao Portimonense, num encontro da 34.ª jornada, que será arbitrado por Hugo Miguel, da associação de Lisboa.
A SAD ameaçou na sexta-feira faltar à partida marcada para domingo, às 19:30, no Portimão Estádio, de forma a “salvaguardar a transparência na luta pela permanência”, receando “não reunir jogadores suficientes e que garantam uma equipa competitiva”.
Cinco dias depois, a administração recuou na intenção e frisou “estar a desenvolver todos os esforços” para assegurar a visita do Desportivo das Aves ao Algarve e “terminar a temporada com a dignidade e respeito que a instituição merece”, após a direção de António Freitas referir que já estava a tratar da preparação logística do encontro.
Os nortenhos começaram hoje a preparar o embate com o Portimonense, 17.º e penúltimo colocado e primeiro clube abaixo da zona de salvação, com 30 pontos, que luta com Vitória de Setúbal (16.º, com 31 pontos) e Tondela (15.º, com 33) pela permanência.
Ao longo do dia, a Guarda Nacional Republicana rebocou os dois autocarros do Aves e arrestou outros bens no estádio, com base numa providência cautelar movida pela construtora Engimov à SAD, que enfrenta uma ação judicial no Tribunal da Comarca de Santo Tirso, assente na destituição dos órgãos sociais desejada pela direção do clube.
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