Uma antiga dirigente da Académica - Organismo Autónomo de Futebol (OAF) disse ontem no Tribunal de Coimbra que, em 2015, o clube passou por dificuldades financeiras acrescidas devido a dois patrocinadores que falharam os pagamentos.
"A situação já não era boa, como nunca foi, mas na época desportiva 2014/15 as dificuldades financeiras foram agravadas por patrocinadores que não pagaram o estipulado no contrato, que a Académica cumpriu", referiu a advogada Maria José Vicente, que integrou a direção do ex-presidente José Eduardo Simões, que está a ser julgado por abuso de confiança fiscal.
O antigo dirigente é acusado, juntamente com outros dois dirigentes e a própria Académica, da prática de um crime de abuso de confiança fiscal, por falharem o pagamento dos valores de retenção na fonte de IRS relativo aos salários de atletas e funcionários, entre janeiro e setembro de 2015, num total de 820 mil euros.
Na audiência de quarta-feira de manhã, Maria José Vicente disse que a falta de pagamento das duas empresas, uma da área da saúde e outra do setor das bebidas energéticas, na ordem dos 250 mil euros, deixaram a "Briosa" numa "situação financeira ainda mais complicada".
A antiga dirigente, que tratava da parte jurídica e recursos humanos do clube, disse ainda ao tribunal que até à saída da direção liderada por José Eduardo Simões, em 2016, o município de Coimbra também não tinha ressarcido o clube pelos gastos com outras modalidades que usavam o Estádio Cidade de Coimbra e consumiam água, eletricidade e gás.
Salientando que se tratou de "um ano terrível", tal como já tinha dito o arguido José Eduardo Simões na primeira audiência, Maria José Vicente salientou que, em 2015, a Académica tentou "pagar os salários a todos os funcionários e cumpriu".
"Como as receitas previstas não entraram, houve atrasos no pagamento das dívidas fiscais", frisou a advogada, referindo que houve um acordo com o Estado para o seu pagamento em prestações, "que estavam a ser pagas até” a direção sair.
Na primeira audiência do julgamento, no dia 16, José Eduardo Simões já tinha dito que foi feito um acordo com a Autoridade Tributária para um pagamento do valor em falta em 24 prestações, tendo a sua direção pago cerca de 350 mil euros, até sair.
Na sessão de quarta-feira, em que esteve o atual presidente, mas que não quis prestar declarações ao tribunal, foram também ouvidos o presidente e vice-presidente da Câmara de Coimbra, Manuel Machado e Carlos Cidade, respetivamente, que acabaram por não adiantar grandes informações sobre o atraso no pagamento das despesas de outras modalidades à Académica.
Sem conseguir precisar os anos em que o clube esteve sem receber essas verbas, Carlos Cidade disse que após acordado o valor dos pagamentos, com base em cálculos efetuados por uma comissão em vigor desde 2009, o município passou a pagar regularmente e tem a situação toda regularizada.
Ouvido também como testemunha, o antigo presidente da Câmara de Coimbra, João Paulo Barbosa de Melo, que liderou o executivo entre final de 2010 e outubro de 2013, reconheceu que no seu mandato a questão não foi resolvida, salientando que "não tinha lógica ser a Académica a arcar com despesas" que não pertenciam ao clube.
Na sua intervenção, e depois de confrontado pelo advogado dos arguidos, Barbosa de Melo admitiu também a falta de um pagamento até 2013 relativo à compra de bilhetes para um jogo da meia-final da Taça de Portugal de 2012, que os "estudantes" venceram após uma vitória sobre o Sporting por 1-0 no Jamor.
Foram ainda ouvidos como testemunhas abonatórias o professor Manuel Nogueira Serens e o médico António Preto, antigos elementos de direções lideradas por José Eduardo Simões, que destacaram o trabalho, o caráter e a honorabilidade dos arguidos à frente da Académica.
A próxima audiência do julgamento está agendada para terça-feira, dia 29, às 09:30.
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