A pandemia de covid-19 está a ter impacto em fases importantes na formação de jovens futebolistas, mas os agentes desportivos destacaram hoje que os jogadores inseridos em equipas secundárias vêm esse impacto minimizado ao manterem a sua atividade.
O diretor da formação do Sporting, Tomaz Morais, explicou hoje que o clube reduziu o impacto da pandemia nos jogadores em idade júnior pois já os integrava na equipa ‘B’ ou sub-23 o que permitiu “minimizar o impacto da pandemia nesses jogadores”.
Tomaz Morais falava durante o webinar ‘Thinking Football Summit’, com o tema ‘da formação ao alto rendimento’, promovido pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), que teve moderação do jornalista Carlos Daniel e contou ainda com a presença dos treinadores Nelo Vingada e Renato Paiva, e do ex-jogador e embaixador da LPFP, Nuno Gomes.
O responsável pela formação dos leões salientou ainda que os jovens, entre os sete e os 17 anos, que puderam durante o primeiro confinamento fazer exercício físico na rua ou em casa apresentaram-se melhor quando retomaram a atividade na Academia.
“Estes jovens [sem competição] podem estar a criar ‘handicaps’, a nível físico e mental, com dificuldade de recuperar no futuro”, alertou.
O antigo internacional português Nuno Gomes lembrou que a existência de competição nas equipas ‘B’ ou sub-23 fará com que a curto prazo não se sinta tanto a falta de competição na formação.
Mas apontou ainda que há muitos jogadores de clubes sem esse tipo de escalões que estão “parados” e que essa “fatia de jovens irá ter o processo [de aprendizagem] atrasado”.
Já Nelo Vingada frisou o “tempo fundamental de formação” que está a ser perdido para jovens entre os 14 e os 16 anos.
“Estamos a perder tempo que nunca mais vai ser recuperado, mas isso não está a acontecer só em Portugal, mas no mundo inteiro”, destacou o técnico que orientou seleções jovens portuguesas, acrescentando que o talento natural do jogador em Portugal permitirá uma melhor recuperação.
Nelo Vingada, que orientou o Marítimo, deu como exemplo os madeirenses que sempre tiveram equipa ‘B’ e lançaram jogadores como Pepe e Dany.
“Criámos um espaço não só competitivo, mas sobretudo de treino. Sendo Portugal um país tão pequeno, algumas equipas conseguem ter equipas ‘B’, sub-23 e primeira equipa e jogam tão bem. Temos hoje condições muito melhores para chegar ao topo e para formar melhores jogadores”, vincou.
Para o atual treinador do Independiente del Valle, do Equador, Renato Paiva, que representou por várias épocas a formação do Benfica, é necessário olhar para a reformulação dos quadros competitivos e mudar a “filosofia do resultadismo”.
“Perguntem ao Bernardo Silva [atual jogador do Manchester City, de Inglaterra] quantos minutos jogou nos juvenis [do Benfica]. Jogava um Bakary, que agora não sei onde anda e o Bernardo teve aquele hiato em que não competiu e hoje seria um jogador ainda melhor. Houve durante algum tempo a filosofia do resultadismo de ganhar títulos na formação”, salientou.
Renato Paiva considerou que atualmente os clubes grandes olham “quase ao mesmo tempo para a formação do jogador como prioridade e não pelo resultado”, apesar da vontade em vencer estar sempre presente.
Como mudanças necessárias para a formação em Portugal, o treinador alerta que nas equipas grandes os jogadores passam mais tempo a atacar e chegam a seniores sem saber defender.
“Nos juvenis [do Benfica] senti isso na pele. Trocava uma unidade de treino por jogos contra seniores para que nos obrigassem a defender e os jogadores que marcavam muitos golos a serem obrigados a caírem na realidade”, explicou.
Tomaz Morais referiu que é necessário olhar para o interesse global e não para o particular e acrescentou que no Sporting tem sido debatido o número de equipas e jogadores com o objetivo de “crescer no aspeto qualitativo e não no quantitativo”.
“Andamos sempre à procura do melhor caminho e isso é muito importante para nós. Não podemos arranjar modelos fixos, temos de estar sempre a repensar, pois tudo é muito dinâmico e muda muito”, atirou.
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