Os sócios do Belenenses aprovaram, na sexta-feira, em assembleia geral (AG), a criação de uma Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas (SDUQ), de forma a poder disputar as competições profissionais de futebol a partir da próxima temporada.

No Pavilhão Acácio Rosa, junto ao Estádio do Restelo, em Lisboa, um universo de 230 votantes aprovou, com larga maioria, a constituição de uma SDUQ, com 221 votos a favor, dois contra e sete abstenções, seguindo a intenção demonstrada pela direção.

“O Belenenses tem capacidade para levar para dentro de uma SDUQ um conjunto de valências que mais nenhum clube em Portugal consegue neste momento. Está limpa de dívidas, tem um estádio extraordinário, tem a nossa história, marca e identidade, e a nossa massa adepta, que leva a equipa ao colo”, explicou o presidente do Belenenses.

Patrick Morais de Carvalho lembrou todo o percurso que teve nos nove anos em que preside a direção do clube da Cruz de Cristo, com o litígio e consequente separação da antiga SAD, agora designada BSAD e que disputa a II Liga, e todos os problemas que se ultrapassaram em termos financeiros e desportivos, desde a terceira distrital de Lisboa.

“A SDUQ é uma quota única detida a 100% pelo clube, enquanto a SAD pode ter muitos investidores e várias ações. Há um princípio que, para mim, é sagrado: um clube com a dimensão do Belenenses, centenário e um dos quatro maiores de Portugal, tem de ter sempre a maioria do capital social da sociedade desportiva, dê por onde der”, afirmou.

Lembrando que se encontra a decorrer uma revisão da lei das sociedades desportivas no parlamento, Patrick Morais de Carvalho elogiou o trabalho do secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Correia, mas deixou um reparo à proposta de lei.

“É com felicidade que vejo que tudo o que o Belenenses apresentou [ao Governo] está plasmado na lei, só um ponto não conhece a ‘luz do dia’. Gostava que um clube ou uma associação desportiva pudesse competir livremente nas competições profissionais, sem ser obrigado a constituir uma SAD ou SDUQ. As razões que me foram transmitidas não me convencem, mas não temos outro remédio, teremos de obedecer à lei”, expressou.

A AG extraordinária decorreu poucos dias depois de garantida a subida à II Liga e horas antes da final da Liga 3, diante da União de Leiria, porque a Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) atribui apenas um prazo de 15 dias, a partir da final, para os clubes constituírem uma sociedade desportiva, sendo o Belenenses a única equipa, entre as que disputaram a fase de apuramento, que não dispunha ainda dessa obrigatoriedade.

“A SDUQ tem uma coisa extraordinária. Com SAD, ainda que fosse detida pelo clube na sua maioria, rapidamente voltaríamos a falar de dois Belenenses. Com SDUQ, é apenas um instrumento de um clube, pois o Governo assim nos obriga. O que deve passar do clube para a SDUQ é o mínimo dos mínimos que a lei obriga”, argumentou o dirigente.

Na AG, foi ainda aprovada a criação de uma quota suplementar única, facultativa e de valor variável, dirigida a todos os sócios, para fazer face às despesas de investimento do clube para poder licenciar o Estádio do Restelo para as competições profissionais.

Já no final, e depois de algumas questões feitas por associados, o presidente abordou a possibilidade de o primodivisionário Casa Pia poder usar o Estádio do Restelo durante a próxima época, pois não poderá ainda utilizar o Estádio Pina Manique e sairá do Jamor.

“Temos vindo a negociar com o Casa Pia. Vejo com bons olhos essa parceria por várias razões. Existe uma relação histórica de muita amizade entre os dois clubes e o terreno do estádio até já foi do próprio Casa Pia. Hoje é o Casa Pia a precisar, amanhã podemos ser nós”, frisou, garantindo que o Restelo será licenciado “contra tudo e contra todos”.

No entanto, essa parceria com o Casa Pia terá de ser negociada em termos financeiros, nos mesmos moldes em que se propôs, em 2018, a continuidade da BSAD no Restelo, a troco de um pagamento de 15 mil euros por cada partida disputada, que foi recusado.

“Não fazia qualquer sentido o Belenenses fazer melhores condições a outro clube do que àquela que era a nossa SAD. Ainda estamos a pedir um esforço suplementar, para que façam um pagamento que nos possa permitir licenciar o nosso estádio com maior facilidade. Entendemos que é um ato de gestão e gostaríamos de chegar a acordo com o Casa Pia. Já esteve mais fácil, está mais difícil, vamos ver se se concretiza”, sublinhou.

O Belenenses defronta hoje a União de Leiria, na final da Liga 3, a partir das 16:15, no Estádio Nacional, em Oeiras, num encontro em que definirá o campeão entre equipas que garantiram já o acesso direto à II Liga e aos campeonatos profissionais de futebol.