O selecionador moçambicano de futebol, Abel Xavier, voltou a usar um vídeo para mobilizar a população "num momento difícil do país", no apoio à equipa nacional, que, na terça-feira recebe a África do Sul, em jogo particular.

No vídeo, o segundo do género que o ex-internacional português produz em dois meses, um assobio de Abel Xavier dá início à convocatória de dezenas de pessoas, entre anónimos e figuras públicas, que vão desfilando no filme ao som da música "o país fala mais alto".

Ao longo de um minuto e meio, o vídeo, preparado pelos alunos do Olhar Crítico, um projeto de formação em cinema e televisão, acompanha a viagem de um ‘chapa’ (carrinha de transporte público) rumo ao estádio do Zimpeto, arredores da capital, onde na terça-feira, diz a música, "chegou a hora de mostrar o veneno dos Mambas".

O objetivo, explica Abel Xavier, é mais uma vez "mobilizar e aglutinar os moçambicanos para uma causa transversal, de interesse nacional e única", quando Moçambique enfrenta uma grave crise económica e um conflito militar no centro do país.

É ainda a difusão de "uma mensagem de união de forma positiva, nestes momentos difíceis, em que a seleção acaba por ser o que se pretende: a expressão da alegria de um país", refere Abel Xavier à agência Lusa por telefone, a partir de Nairobi, que recebe, no sábado, o particular Quénia-Moçambique, antecedendo o embate com a África do Sul.

A ideia de união manifesta-se na sequência de personagens, entre negros, mestiços, brancos, albinos, indianos e muçulmanos, espelhando a diversidade de Moçambique, ou "milhões de braços, uma só força", como reza uma passagem do hino nacional, "Pátria Amada", e também reproduzida no vídeo de apoio aos ‘Mambas’.

O filme recorre ainda a figuras públicas, como o músico Xidiminguana, o saxofonista Moreira Chonguiça, a cantora Gabriela, a atriz Lucrécia Paco e o comediante Castigo Muchanga, além de apresentadores de televisão e jornalistas moçambicanos.

Já em setembro, o antigo futebolista tinha usado um insólito vídeo de convocatória para a receção às Maurícias, no último jogo da fase de grupo de qualificação para a Taça das Nações Africanas (CAN2017), chamando o Presidente da República, Filipe Nyusi, o ministro dos Desportos, Alberto Nkutumula, mas também a dona de casa Tina, o passageiro de ‘chapa’ Toninho, a jovem Olga, o operário Cossa, a vendedora informal Laura, o executivo Augusto, o menino Chavito, o pescador Chapepa e o vovô Pelembe.

Moçambique acabou por ganhar às Maurícias por 1-0, subindo ao segundo lugar do grupo, mas a vitória foi insuficiente para alcançar a qualificação para a CAN.

Para o futuro, Abel Xavier pretende cumprir com o que prometeu quando chegou à seleção, em janeiro passado, e usar "uma mentalidade diferente e uma abordagem mais competitiva" nos próximos desafios, além de trabalhar o "lado invisível" da gestão do grupo.

"Penso que existe uma nova empatia com a seleção, mas estamos sempre dependentes dos resultados", afirmou à Lusa.

Para os dois particulares, o selecionador, nascido há 43 anos em Nampula, norte de Moçambique, chamou 28 jogadores, entre os quais Geraldo, do Nacional da Madeira.

Abel Xavier começou a carreira de futebolista no Estrela da Amadora, passando depois pelo Benfica antes de rumar a vários campeonatos, em clubes como o Liverpool, Roma, PSV ou Galatasaray, terminando em 2008 nos Los Angeles Galaxy, dos Estados Unidos.

Principiou a carreira de treinador em 2013, no Olhanense, e passou pelo Farense e Desportivo das Aves.