Foi neste dia, há precisamente 16 anos, que a seleção de Portugal de futebol viveu um dos seus momentos mais memoráveis e o guarda-redes Ricardo entrou para sempre a História do futebol português, com um gesto que para permanecerá eternamente na memória de todos os que a ele assistiram.

Estávamos em pleno EURO 2004. Portugal albergava pela primeira vez na sua história a fase final de uma grande competição e por todos o país as janelas das casas dos portugueses exibiam a bandeira nacional, respondendo a um apelo do então selecionador nacional, o brasileiro Luiz Phyllipe Scolari. Como nunca antes, o país estava unido em torno da sua Seleção. E esta ia respondendo.

Depois de um início turbulento, com uma inesperada derrota ante a surpreendente Grécia - mau prenúncio para o que aí viria - Portugal tinha acabado por superar a fase de grupos, graças a vitórias sobre Rússia e Espanha. E eis que chegamos, então, a 24 de junho de 2004. Dia de jogar os quartos-de-final, no Estádio da Luz. Pela frente uma seleção de Inglaterra repleta de estrelas, talvez com um dos melhores conjuntos de jogadores alguma vez apresentados pelo futebol inglês: Terry, Lampard, Gerrard, Scholles, Beckham, Rooney, Owen...estavam todos no 'onze' titular apresentado pelo então selecionador Sven-Göran Eriksson, que tão bem conhecia o futebol português.

Mas Portugal tinha as suas armas: Deco, Figo, e um Cristiano Ronaldo a despontar. Na baliza, claro, estava Ricardo.  O jogo esteve difícil para as cores nacionais. Michael Owen cedo deu vantagem aos ingleses e foi preciso esperar até aos dez minutos finais para ver o empate chegar. O golo da igualdade foi assinado por Postiga, com um 'cabeceamento' com o ombro.

A decisão segui para prolongamento. Aí, começou por brilhar Rui Costa. O 'maestro' tinha saltado do banco no decorrer do encontro e, com um lance individual verdadeiramente genial, colocou Portugal na frente a dez minutos do fim do tempo extra. Portugal a caminho das meias-finais, pensou-se. Mas não, ainda não. O herói haveria de ser outro e ainda faltava algum tempo para o seu momento épico.

É que ainda houve tempo para Frank Lampard, a cinco minutos dos 120, voltar a empatar a partida e colocar o resultado em 2-2. A decisão iria chegar apenas nos penáltis. O coração dos portugueses tinha de aguentar mais um pouco.

Depois de um jogo emocionante, o desempate por pontapés da marca de grande penalidade viria a ser lendário por si só, repleto de momentos épicos. Começou com um remate de Beckham para a bancada. Portugal ganhava vantagem. Mas Rui Costa viria a falhar também, pouco depois. Tudo empatado outra vez. A seguir, mais um momento inesquecível: Postiga partia para a bola e, se falhasse, era o fim do sonho luso. Mas não falhou. Com toda a calma do mundo, com um penálti à 'Panenka', enganou David James.

O empate teimava em não ser desfeito. E eis que chega o momento mais épico de todos. Darius Vassel prepara-se para bater mais uma grande penalidade para a Inglaterra e Ricardo pede para esperar. Tira as luvas. O que é que se passa, pensaram todos os que estavam no relvado, no estádio - "Tinha de fazer alguma coisa para mexer comigo e desestabilizar o Vassel [que mais tarde até viria a ser seu colega]", explicaria depois o guarda-redes inúmeras vezes, sempre que instado a recordar o momento. O gesto teve o efeito desejado. Ricardo lançou-se para a sua esquerda e defendeu o remate do avançado inglês.

Mas ainda faltava marcar um penálti para confirmar a passagem às meias-finais. E quem melhor para o bater que o próprio Ricardo? O guardião não perdoou e ganhou para sempre estatuto de herói naquela noite no Estádio da Luz. Portugal acabaria por não conquistar o tão desejado título - teria de esperar mais 12 anos para se sagrar campeão europeu - mas isso são outras histórias. Esta, foi a do herói Ricardo e de uma noite inesquecível para o futebol português.