Portugal perdeu com Cabo Verde pela primeira vez, após três amigáveis entre as duas seleções "irmãs". O jogo era de caráter solidário mas os homens de Fernando Santos resolveram levar a solidariedade também para o relvado, numa exibição que deixou muito a desejar, principalmente no primeiro tempo. Os golos de Odair e Gegê premiaram uma equipa que mostrou mais vontade em ganhar e que teve a sorte do seu lado. Ganhou o futebol e as vítimas da erupção vulcânica na Ilha do Fogo, Cabo Verde, que vão receber um cheque de 50 mil euros, oferecido pela Federação Portuguesa de Futebol.
O jogo era amigável mas Portugal não precisava de ser tão amigo. Se para Cabo Verde a motivação estava no máximo, por defrontar Portugal, do lado dos lusos parecia mais um jogo. Pelo menos foi isso que se viu nos primeiros 15 minutos, com Heldon a dar que fazer a Cédric na direita e Júlio Tavares a ganhar quase todas as bolas aos centrais de Portugal. A equipa comandada por Rui Águas criava muito perigo nas alas, onde era sempre perigoso no um-contra-um. Heldon, que conhece bem Cédric, deu muito trabalho.
Com quatro estreias absolutas na seleção A no onze inicial (Anthony Lopes, André Pinto, Paulo Oliveira e Bernardo Silva), Portugal só "acordou" para o jogo aos 15 minutos. E criou três soberanas oportunidades mas falhou o alvo. Primeiro Vieirinha a ver Vozinha negar-lhe o tento numa grande defesa. Depois João Mário a falhar o remate em zona privilegiada. E mais tarde Bernardo Silva a ver Vozinha, mais uma vez, negar-lhe o golo com uma grande estirada.
Num António Coimbra da Mota quase lotado, com sete mil nas bancadas a festa ia sendo feita pelos crioulos, com incentivos e muita batucada, dando um colorido diferente à "casa" do Estoril-Praia. Sempre que Odair ou Heldon acelerava pelas alas (os mais perigosos de Cabo Verde no primeiro tempo), os adeptos (cabo-verdianos em clara maioria) iam à loucura.
A cara de Fernando Santos no banco dizia tudo. O selecionador luso via os "Tubarões Azuis" mais rápidos sobre a bola, mais agressivos, com mais paixão em campo e a ganhar quase todos os lances divididos. Como se não bastasse, a defesa e o meio-campo estavam a sentir dificuldades para travar as transições rápidas dos cabo-verdianos. Numa delas, Nuno Rocha falhou o golo por pouco.
Em cinco minutos fez-se o resultado do jogo. O primeiro golo é uma mistura de sorte e talento, mais sorte que talento. Num rápido contra-ataque, Odair Fortes fez um centro/remate, a bola fez um efeito estranho e traiu Anthony Lopes, aos 38 minutos. Era a loucura nas bancadas, com os jogadores de Cabo Verde a fazerem a festa junto dos milhares de cabo-verdianos que se deslocaram ao António Coimbra da Mota, apesar do muito vento e frio. O desnorte luso sofreu nova "dentada" dos "Tubarões" aos 43, num livre lateral marcado por Heldon. Júlio Tavares desviou no primeiro poste, Gegê apareceu no segundo para confirmar o tento.
Fernando Santos deve ter pedido outra atitude à equipa, principalmente na última fase de construção, já que Portugal voltou determinado em dar a volta ao resultado. Vieirinha e Hugo Almeida deram os primeiros avisos, com Vozinha a continuar a brilhar na baliza. Mas uma perda de bola no meio-campo obrigou André Pinto a travar Heldon que ia isolado para a baliza. Vermelho para o central que joga no Braga e Portugal a jogar mais de meia hora com menos um e a perder. Com menos um e com o jogo a baixar de ritmo devido as muitas substituições, Portugal foi perdendo gás e só acordou na parte final do jogo.
Mesmo assim, a equipa de Fernando Santos criou três soberanas oportunidades para marcar mas André André, Éder e Pizzi não tiveram arte e engenho para bater Vozinha. O facto de os jogadores apenas terem feito um treino e muitos deles não se conhecerem pode servir de atenuante para a derrota.
Dos estreantes, destaque para Bernardo Silva, um dos poucos que acelerava o jogo pelas alas. Danilo Pereira entrou bem no segundo tempo para jogar a central. Ukra mexeu com o jogo no segundo tempo. André Pinto não esteve bem: foi expulso e também batido por Gegê no lance do segundo golo. Anthony Lopes, com pouco trabalho, parece mal batido no primeiro golo. João Mário esteve apagado, tal como André Gomes e Adrien. Hugo Almeida e Éder desesperam os adeptos e fazem acreditar que a solução para chegar ao golo não passa por eles.
Do lado dos cabo-verdianos, Heldon foi dos mais perigosos, tal como Odair Fortes. Júlio Tavares deu muito trabalho aos centrais. No meio, Nuno Rocha e Semedo controlaram as operações. Gegé fez um grande jogo na defesa, tal como o lateral Jeffrey. Vozinha foi enorme na baliza e negou o golo luso em quatro ocasiões.
Na conferência de imprensa, Fernando Santos lamentou que a sua equipa não tenha igualado Cabo Verde na agressividade. O técnico sublinhou, no entanto, que nem tudo foi mau e que o futuro da seleção está garantido. Já Rui Águas não escondeu que este foi um jogo estranho para si, ele que foi avançado da seleção lusa e agora comanda Cabo Verde. O técnico sublinhou ainda que a sua seleção teve a sorte que faltou para vencer os jogos no CAN2015.
Ao fim de três jogos, Cabo Verde consegue finalmente vencer Portugal, depois de uma derrota (4-0) e um empate (0-0).
Comentários