É costume dizer que só a vontade não chega...tal até pode ser verdade, mas o facto é de que, sem ela, muito dificilmente se chega lá. A equipa do FC Porto foi este sábado um exemplo paradigmático disso mesmo.

A perder por três golos aos 25 minutos, e perante o campeão nacional em aparente grande forma, muitos eram aqueles que davam o jogo por perdido, mas nenhum deles era jogador dos azuis e brancos. Os comandados de Vítor Bruno entraram mal, mas souberam reagrupar, acalmar, e perceber que o jogo só acaba quando o árbitro apita e que até lá tudo pode acontecer.

A crença azul e branca acabou por ser premiada, com alguma felicidade à mistura, perante um Sporting que tirou o pé do acelerador na segunda parte, mas que não contou com uma solidez defensiva adequada a essa postura, e cujos erros custaram bem caro.

O jogo

Sem muitas das suas principais figuras, o FC Porto entrou a pressionar alto um Sporting que, nos primeiros minutos, mostrou muitas dificuldades em construir o seu jogo a partir da defesa. Contudo, os leões lá conseguiram encontrar uma saída e estava no lado esquerdo.

Foi por ali que os comandados de Rúben Amorim construíram os seus três golos; aos seis minutos, um canto trabalhado na esquerda levou Pedro Gonçalves a cruzar para Gonçalo Inácio inaugurar o marcador de cabeça. Três minutos depois Gyokeres arrancou por ali, deixou toda a gente para trás e serviu o '8' leonino que, no coração da área, fez o 2-0. Aos 25, nova jogada pela esquerda com o sueco a encontrar o miúdo Quenda ao segundo poste, que fez o 3-0 com um grande golo.

O dragão não tinha antídoto para a fórmula do leão e parecia não ter armas para ameaçar as redes adversárias. Jogo resolvido? muitos diriam que sim, e com maior tendência para novo golo do Sporting do que propriamente uma reação do FC Porto.

Só que muitas vezes o futebol tem a tendência de atirar a lógica pela janela e, por muito que pareça o contrário, um jogo nunca termina aos 25 minutos. Mergulhados na lama, como disse o seu treinador, os jogadores do FC Porto aproveitaram a boia de salvação oferecida pelo adversário e regressaram ao jogo quando Galeno aproveitou o brinde de Debast.

Na segunda parte os leões pareciam querer controlar a partida, controlando a posse de bola e procurando chegar perto da baliza de Diogo Costa em busca de um golo que matasse de vez as pretensões azuis e brancas. Vítor Bruno viu a total inoperância ofensiva da sua equipa e resolveu mexer, e as entradas de Iván Jaime e Eustáquio tiveram efeito imediato, baralhando por completo as marcações do Sporting, e permitindo dois golos de rajada que levaram os adeptos portistas à completa loucura!

Até aos 90 foi o FC Porto quem esteve mais perto do golo, com Fran Navarro a obrigar Kovacevic a uma grande defesa, perante um Sporting totalmente atordoado pelo rumo que o jogo tomou na segunda metade da etapa complementar e sem capacidade de reação.

Essa pareceu surgir nos primeiros minutos do prolongamento. Já com algumas (tardias) alterações feitas por Amorim, o Sporting tentava responder ao ímpeto portista, voltando a assumir a iniciativa de jogo. Mas este agora estava mais dividido e os espaços eram maiores, muito devido ao natural desgaste físico, e numa transição, o FC Porto acabou por, com muita sorte à mistura, fazer a impensável reviravolta no marcador, garantindo assim certamente  uma das mais saborosas das 24 conquistas da Supertaça.

Perder uma final nunca é fácil, mas mais difícil se torna quando se perde após ter três golos de vantagem e o aparente domínio da partida.

As conquistas dos últimos anos ajudaram o Sporting no processo de fortalecimento mental e de espírito de luta que pareciam mortos e enterrados em Alvalade, contudo, tal não é algo que se mude do dia para a noite e que Amorim terá de continuar a cultivar, tirando uma página do livro do adversário deste sábado se for preciso.

O momento

O Sporting entrava com tudo e vencia por 3-0 ainda antes da meia-hora e a tendência do jogo parecia mostrar que o leão não se ia ficar por aqui. Contudo, uma má abordagem de Debast a um passe de Otávio deixou Galeno isolado na cara de Kovacevic para fazer o 3-1, dando assim ao FC Porto uma réstia de esperança, que acabou por se revelar decisiva.

O melhor

Galeno foi peça-chave para a épica vitória dos dragões. Foi o brasileiro que aproveitou o erro de Debast para reduzir a desvantagem portista para 3-1, e foi dele também o golo do empate. Para além de atacar, o '13' do FC Porto esteve também cumpridor na hora de defender, quando foi colocado a lateral esquerdo, conseguindo suprimir, como pode, os ímpetos ofensivos do adversário pelo seu corredor. Uma exibição completa.

O pior

Quando uma equipa como o Sporting sofre quatro golos da maneira que os sofreu, não é possível isolar apenas um elemento, mas antes todo o setor defensivo. Depois de uma entrada fulgurante, a zona mais recuada da equipa de Alvalade não teve a solidez e concentração necessárias para segurar um jogo que parecia ganho. Foram demasiados e graves os erros, que acabaram por ditar a derrota, notando-se ali a falta de uma voz de liderança nos momentos mais apertados. Não era suposto, mas sentiu-se muito a falta de Coates.

O que disseram os treinadores

Rúben Amorim, treinador do Sporting

Vítor Bruno, treinador do FC Porto