A vingança é um prato que se serve frio e foi isso que o FC Porto deu para jantar ao Vitória de Guimarães. Após a derrota sofrida no campeonato, os dragões tinham obrigação de responder ao desaire e cumpriram a missão, carimbando um lugar na final da Taça de Portugal, onde vão encontrar o Sporting.
Longe de ser uma exibição perfeita, valeu alguma desinspiração vimaranense e a capacidade desequilibradora de Francisco Conceição para contornar uns vitorianos que só se encontraram na segunda metade.
O jogo explicado
No terceiro duelo em poucas semanas entre as duas equipas, já havia pouco que os treinadores pudessem fazer para surpreender o adversário. Resumidamente, os dragões foram mais dominadores e os vimaranenses procuraram aproveitar o espaço nas costas para chegar o mais rapidamente possível à baliza guardada por Cláudio Ramos. Isto poderia ser a versão rápida da análise, mas o jogo teve muitas mais nuances interessantes de perceber.
Qualquer estratégia que os técnicos tivessem para a partida foi longo alterada ao primeiro minuto. Afonso Freitas surgiu no sítio certo para apanhar o ressalto de dois desvios consecutivos e só teve de empurrar a bola para dentro da baliza, deixando a eliminatória empatada sem que houvesse tempo para todos os adeptos se sentarem nos respetivos lugares.
Este lance podia ter tido um impacto anímico forte no Vitória e representado o contrário para o FC Porto, mas, na prática foi como se não tivesse existido.
Os azuis e brancos impuseram desde cedo um futebol assente na posse de bola e que tinha nas variações rápidas de flanco a maior arma, uma vez que o objetivo era deixar os talentosos extremos dos dragões em situações de 1x1 contra os defesas adversários. Já os vimaranenses, satisfeitos com a boa entrada, relaxaram um pouco e viram os dragões 'montarem a tenda' no seu meio-campo, enquanto tentavam perceber a melhor forma de contrariar a tendência.
A insistência azul e branca começou a dar frutos a meio do primeiro tempo, quando Charles tentou ser mais rápido do que Francisco Conceição a chegar a uma bola perdida, mas o extremo chegou mesmo primeiro e acabou a ser tocado pelo guarda-redes vitoriano dentro da área. Inicialmente, Artur Soares Dias considerou que não seria lance para grande penalidade, mas após consultar o VAR reverteu a decisão e Taremi (que por estes dias não é muito popular no Dragão), empatou a partida.
De novo em vantagem na eliminatória, o FC Porto conseguiu respirar mais tranquilamente e continuou a impor o seu jogo, que o Vitória de Guimarães nunca conseguiu contrariar no primeiro tempo e ia dando sinais de que precisava mesmo do intervalo. A poucos minutos de ver satisfeito o desejo, chegou o segundo balde de água fria da noite: Francisco Conceição tabelou com o colega João Mário e, já dentro da área, rematou rasteiro para o 2-1, que deitou por terra Charles e as esperanças vimaranenses.
No entanto ainda havia 45 minutos para jogar e tudo era possível. No segundo tempo a equipa de Álvaro Pacheco surgiu mais destemida e, por consequência, conseguiu dividir melhor o jogo, ficando a dúvida se Sérgio Conceição mandou a equipa baixar o bloco defensivo estrategicamente ou se a mudança de chip do adversário forçou o recuo.
Os vitorianos iam tentando furar a defesa adversária (com sucesso em algumas ocasiões), mas não estavam a ser eficazes na cara do golo e iam desperdiçando hipóteses para empatar o jogo. Como quem não marca sofre, Romário Baró - que mostrou uma intensidade refrescante - conquistou uma segunda bola perto do meio-campo e, num gesto belo de tão simples que foi, isolou Pepê que não tremeu na cara do guarda-redes e sentenciou a eliminatória.
Um resultado justo, de um FC Porto que está longe da melhor forma, mas mesmo assim cumpriu perante um Vitória de Guimarães que começa a sentir o peso dos minutos nas pernas e nunca teve a chama que já mostrou noutras partidas para ir atrás do resultado.
O momento - O timing é tudo
Quando as equipas já só pensavam no descanso de 15 minutos que iriam ter para acalmar o coração e refrescar as ideias, surgiu o golo do FC Porto. Francisco Conceição rematou com classe para o lado direito de Charles e trocou as voltas a qualquer estratégia que Álvaro Pacheco tivesse pensado para a segunda parte. Um golo que surgiu num momento decisivo, uma vez que os vimaranenses viram a montanha da reviravolta ficar mais alta e começaram a acreditar um bocadinho menos que era possível escalá-la.
O melhor - Ainda há dúvidas?
Se leu esta análise até aqui não terá muitas dúvidas sobre quem foi o melhor em campo. Francisco Conceição finalmente parece ter domado a irreverência que era penalizada por falta de objetividade e já começa a olhar com outros olhos para a baliza. Quando tem a bola nos pés, os adversários não sabem para que lado irá e, apesar de jogar maioritariamente com o pé esquerdo, explode em qualquer direção e é o jogador que mais evoluiu nesta temporada. Atualmente ninguém imagina o onze inicial sem o camisola 10 e as bancadas do Dragão cantam o seu nome em qualquer ocasião possível. Um penálti conquistado e um golo importante chegam para merecer esta distinção.
Menção honrosa ainda para Otávio que revela uma calma assustadora a sair a jogar e em momento defensivo é uma parede intransponível. Quando é ludibriado pelos adversários, recorre à velocidade para resolver o problema.
O pior - Não se vê em campo
Quando se falou do regresso de Nélson Oliveira a Portugal, os vimaranenses acreditaram que tinham um substituto à altura de André Silva, que deixou marca no clube. No entanto, Nélson Oliveira parece longe do auge, embora tenha apenas 32 anos, e nunca tem realmente grande impacto no jogo. é verdade que foi da sua cabeça que saiu o golo de Afonso Freitas mas, tirando isso, não foi capaz de incomodar a defesa portista e parece uns furos abaixo daquilo que o Vitória de Guimarães tem sido como equipa. Saiu ao intervalo e, curiosamente, a partir daí os vitorianos começaram a ser mais perigosos.
O que disseram os treinadores
Sérgio Conceição, do FC Porto: "É uma vitória que não dá nada. Não festejamos vitórias, festejamos títulos, então estamos satisfeitos q.b."
Álvaro Pacheco, do Vitória de Guimarães: "Merecíamos mais, mas o nosso sonho acabou, mas ainda há coisas que podemos conquistar: mais cinco vitórias e fazer história pelo clube"
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