O que Tiger Woods, Andrés Iniesta, Kevin Love, Gianluigi Buffon, Michael Phelps e DeMar DeRozan têm em comum? Além de serem fantásticos desportistas, dos melhores nas suas modalidades, todos tiveram de lidar com a depressão.
Este continua a ser um tema tabu entre desportistas, apesar de muitos já terem admitido sofrerem da doença. São pessoas que levam a felicidade a milhões, todos os dias, e, no entanto, continuam tristes. Atletas que são autênticas lendas e que, de repente, se sentem incapazes de fazer os mesmos gestos que os levaram ao panteão nas suas modalidades, como são os casos dos golfista Tiger Woods, dos futebolistas Andrès Iniesta e Gianluigi Buffon e do nadador Michael Phelps.
"Construímos uma imagem do desportista que é falsa, mas que eles se apegam muito a ela: têm de mostrar que não são vulneráveis, são ganhadores, seguros. Quando se sentem mal, não contam a ninguém nem pedem ajuda. E isso só agrava o problema. Estamos na época do Mr. Wonferfull [Sr. Fantástico], tudo tem de ser bonito. A tristeza é mal vista, logo acaba por ser silenciada", explica o espanhol Rafael Mateos, psicólogo desportivo, em declarações ao diário 'El Mundo', que fez uma reportagem onde recordou vários casos de desportistas famosos que admitiram sofrer de depressão e ansiedade. Andrès Iniesta, ex-jogador do Barcelona e da Seleção espanhola, foi um deles.
"Caí num poço sem fundo. Só queria chegasse a noite para pode tomar uns comprimidos e dormir. Dei conta que, ou procurava ajuda ou então não sabia onde iria parar. Quando sofres depressão, não és tu", contou Iniesta.
Um dos casos mais conhecidos de depressão no desporto aconteceu com Robert Enke, antigo guarda-redes do Benfica e do Barcelona, entretanto já falecido. Enke lidou durante vários anos com uma depressão, que começou em 2003, após as passagens por Barcelona (sem sucesso, onde esteve um ano quase sem jogar) e Fenerbahçe, onde foi dispensado após 13 dias de empréstimo. Ao medo do fracasso, juntou-se o luto, com a morte da filha Lara, de apenas seis anos, em 2006. A 11 de novembro de 2009, o antigo guarda-redes do Benfica suicidava-se.
O caso mais recente em Portugal aconteceu com André Gomes. O médio internacional português confessou, em entrevista à revista 'Panenka', que o seu fraco rendimento em campo no Barcelona na época 2017/2018 estava relacionado com problemas psicológicos. O jogador confessou que tinha medo de sair à rua para não ser confrontado pelas pessoas.
"Eu fecho-me. Não me permito afastar esta frustração que tenho. O que eu faço não é falar com ninguém para não incomodar ninguém. É como se me sentisse envergonhado. Já me aconteceu em mais de uma ocasião não querer sair de casa. Penso que as pessoas podem olhar mim e dá-me medo de sair com vergonha", confessou o médio na altura, ele que defende as cores do Everton esta época, por empréstimo do Barcelona.
Nos Estados Unidos da América, o caso mais famoso é o de Michael Phelps, o melhor nadador de todos os tempos, (37 recordes mundiais, oito medalhas de ouro numa única edição de uns Jogos Olímpicos). A depressão quase tirava a vida à 'Bala de Baltimore', como Phelps ficou conhecido.
"Ficava fechado em casa. Não queria nada, nem mesmo viver. Em muitos momentos cheguei a pensar no suicídio", confessou, mais tarde, Michael Phelps, que sofreu de depressão em 2014.
Ainda nos EUA, muitos jogadores da NBA confessaram sofrer problemas de depressão, como é o caso de DeMar DeRozan: "Sofro de depressão desde muito jovem. Não importa o quão indestrutíveis possamos parecer, no fundo, somos todos humanos", confessou.
Kevin Love contou também que chegou a sofrer um ataque de pânico em pleno jogo: "Estava tudo a girar à minha volta. Era como se o meu corpo estivesse a dizer-me que estava quase a morrer", explicou, citando pelo jornal 'El Mundo'.
No futebol há ainda vários casos conhecidos de jogadores que tiveram de lidar com problemas de ansiedade e depressão, como Fábio Coentrão, Víctor Valdés, Iván Campo, Jonathan Woodgate, Jesús Navas, entre outros. O estudo mais recente sobre este problema foi feito em 2015 pela FIFPro, (associação mundial que representa os futebolistas). O estudo estimou, na altura, que 33% dos jogadores no ativo sofriam de perturbação no sono, 18% com sinais de stress e 43% com ansiedade ou sinais de depressão.
Apesar de poucos estudos, a pressão, o medo do fracasso, a exposição permanente à crítica, potenciado pelas redes sociais, são apontados como algumas das causas para a depressão no desporto de elite.
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