Dorian Keletela e Farid Walizadeh são dois dos maiores exemplos de integração de refugiados em Portugal através do desporto. Os dois preparam o apuramento aos Jogos Olímpicos, onde poderão representar a equipa de refugiados, formada por 50 atletas. Graças ao programa 'Viver o desporto, abraçar o futuro', do Comité Olímpico de Portugal, o velocista natural da República do Congo e o pugilista nascido no Afeganistão conseguiram bolsas da Solidariedade Olímpica para ajudá-los a chegar a Tóquio2020. Mais do que formar atletas, este programa do COP pretende proporcionar uma melhor integração, através do desporto, aos refugiados que pediram asilo a Portugal.
Drama humano no Mediterrâneo
Nos últimos anos o Mar Mediterrâneo tornou-se num gigantesco monstro devorador de almas. De homens e mulheres, crianças e bebés, assustados, com fome, frio e sede. Chegam da Síria, Iémen, Iraque, Etiópia, Serra Leoa, Sudão, Sudão do Sul, Eritreia, Somália, Burundi, Afeganistão e outras paragens, fugindo da guerra, da fome, da miséria e da morte certa. Chegam provenientes dos campos de refugiados de Egito, Grécia e Turquia, em pequenas embarcações de boca aberta após a difícil travessia do Mediterrâneo.
Enquanto os agentes da Polícia Marítima de países como Espanha, Itália e Grécia tentam demovê-los de entrar na Europa, obrigando-os a dar a volta e regressar à origem, os navios humanitários procuram ajudar os que sobrevivem a uma morte quase certa nas águas do Mediterrâneo.
Frequentemente, os refugiados são notícias de abertura de jornais televisivos, tomam conta das manchetes principais dos jornais diários. Mas sempre longe da proporção do gigantesco drama humano vivido por milhões de pessoas que tentam alcançar a Europa, à procura do El Dorado, na fuga a perseguições, conflitos políticos e desastres naturais.
Em criança, na Turquia, vi todo o tipo de gente. Podia ser ladrão, traficante de droga ou humano. O desporto salvou-me das pessoas erradas, más. Salvou-me de muito, até para passar os traumas e stresses do passado
De acordo com dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), houve 79,5 milhões de pessoas deslocadas em 2019. A guerra na Síria foi responsável por 6,6 milhões de refugiados, segundo dados da ACNUR, só em 2018.
Para dar resposta a esta crise humanitária, a União Europeia criou o Programa de Recolocação de Refugiados onde cada membro se comprometeu a acolher um número de pessoas no seu território. Nos últimos anos, Portugal acolheu 2.674 de refugiados, ao abrigo dos vários programas em que o país participa, de acordo com números divulgados pelo Governo em março de 2021. Nestes números não estão as centenas de requerentes espontâneos de proteção internacional que continuam a chegar ao nosso país, todos os anos.
Portugal foi o 6.º país europeu que mais refugiados acolheu ao abrigo do Programa de Recolocação da UE, recebendo 1.550 refugiados vindos da Grécia (1.190) e Itália (360) entre dezembro de 2015 e março de 2018, distribuídos por 97 municípios. De acordo com dados de Bruxelas, de março de 2021, Portugal era o 4.º Estado-membro que mais menores não acompanhados acolheu, a seguir à Alemanha, França e Finlândia.
'Viver o desporto, abraçar o Futuro': COI lançou o desafio, o COP disse 'sim'
Este é um drama que sempre mereceu a preocupação por parte das entidades desportivas do mundo inteiro. O Comité Olímpico Internacional foi a primeira Organização Não Governamental a ser admitida como observadora das Nações Unidas.
Foi assim que, no meio da crise dos refugiados em 2015, o presidente do Comité Olímpico Internacional, Thomas Bach, anunciou na Assembleia-geral das Nações Unidas que os melhores atletas refugiados do Mundo inteiro podiam participar nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016, através da criação da primeira equipa olímpica formada por 10 atletas refugiados. Ao mesmo tempo, o COI desafiou os comités nacionais para se juntarem a ideia de utilizar o desporto para minimizar os efeitos da deslocação forçada de pessoas para fora do seu território.
Assim, em fevereiro de 2016, nasceu o projeto 'Viver o desporto, abraçar a vida', do Comité Olímpico de Portugal, em parceria com o Conselho Português para os Refugiados (CPR) para integrar o desporto no plano de acolhimento dos refugiados como ferramenta de coesão e inclusão e proporcionar uma melhor qualidade, com oferta de bens e serviços desportivos.
"Na altura em que fizemos o projeto, pensámos sempre que estas ajudas não deveriam ser ações isoladas, mas concertadas com outras organizações envolvidas em acolhimento de refugiados. Fizemos protocolos com o Alto Comissariado para as Migrações, o Conselho Português para os Refugiados, a Plataforma de Apoio aos Refugiados criados na altura, a Câmara Municipal de Lisboa que tinha um projeto de acolhimento e mais tarde com a Cruz Vermelha", recorda Maria Machado, coordenada do projeto, ao SAPO Desporto.
A sua criação teve o apoio da Solidariedade Olímpica, algo que "permitiu criar uma série de estruturas que ainda hoje são a base deste programa".
A ideia não é criar equipas de refugiados, mas que estes se integrem em equipas, em colaboração com as federações, clubes, diversas instituições e parceiros
"Criámos uma plataforma com um questionário sobre os interesses e as necessidades desportivas de cada refugiado que chegava a Portugal, e dessa forma podermos ajuda-lo quer oferecendo o que chamamos de 'Mochila de Boas Vindas', com equipamento desportivo da modalidade que praticavam ou desejavam praticar em Portugal […] E essa é a primeira mensagem de inclusão: eles receberem algo adaptado a eles, de se sentirem que estão a fazer parte do sítio onde estão a viver", explica-nos Maria Machado.
Desde a sua criação, o COP já apoiou cerca de 1500 refugiados sendo que, destes, mais de duas centenas estão integradas em equipas locais. 75% são do sexo masculino; 6,5% são inferiores a seis anos; 7% entre os 7 e os 10 ano; 39% entre os 11 e 18 anos; 42% entre os 19 e 34; e 5,5% acima dos 35 anos.
A predominância dos refugiados do sexo masculino entre os que praticam desporto tem uma explicação: "Para a mulher que foge dos cenários de guerra e miséria e chegar a um outro país em segurança é muito difícil. São poucas as que chegam. Nestes 25 por cento do sexo feminino, as que fazem desporto em clubes é muito reduzida: há uma no futebol, outra no basquetebol, outra no andebol, uma da natação", conta-nos Maria Machado, justificando também estes números com a cultura de proveniência de cada um.
"Na religião não há nada que diga que não podem praticar desporto, a parte cultural diz-nos que elas precisam de zonas seguras onde o possam fazer. Muitas vezes estão em zonas onde se cruzam com homens e têm dificuldades por razões culturais. Elas gostam de fazer yoga, correr, caminhar, mas geralmente só com mulheres. Em Portugal não há muitos centros de acolhimento, há cinco, e nestes temos conseguido que haja professores que vão e façam atividades só com elas", garante.
O 'Viver o desporto, abraçar o futuro' não se destina exclusivamente a atletas, tem a intenção da integração na sociedade portuguesa. "Desde 2016, a ideia é que todos os refugiados, independentemente do género, idade, origem, participem. O objetivo era proporcionar-lhes atividade desportiva [..] A ideia não é criar equipas de refugiados, mas que estes se integrem em equipas, em colaboração com as federações, clubes, diversas instituições e parceiros".
O programa conta com a ajuda de federações, clubes, diversas empresas e instituições, que assim permitem aos refugiados uma melhor inclusão, na prática de basquetebol, andebol, natação, taekwondo, artes marciais e kickboxing e outras modalidades.
Dorian Keletela: fuga à perseguição política
Aos 17 anos, Dorian Keletela aterrou em Lisboa. Sozinho, assustado, sem saber falar a língua de Camões. Após perder os pais ainda muito novo, Dorian foi viver com uma tia, alvo de perseguição política (era um dos nomes da oposição ao governo da República do Congo de então). Cedo a tia percebeu que não havia futuro para o sobrinho, pelo que tinha de o tirar do país o mais cedo possível. Foi assim que o veloz Dorian chegou a Portugal, após pedir asilo.
Foi num dos centros de refugiados em Lisboa que se deu o encontro com o projeto 'Viver o desporto, abraçar o Futuro', do Comité Olímpico português, através do Conselho Português dos Refugiados: "Quando cheguei a Portugal, não tinha ideia de praticar atletismo. Foi quando cheguei ao gabinete de refugiados que perguntei se podia praticar desporto e foi através deste gabinete que conheci o Carlos Silva", conta. Carlos Silva era, na altura, treinador de atletismo no Sporting.
Dorian Keletela: reportagem do Comité Olímpico de Portugal
Em Portugal, Dorian Keletela encontrou a paz e a felicidade de fazer algo que gosta. As suas qualidades - especializou-se nas provas de 60, 100 e 200 metros - e a ajuda dos que o acolheram, levaram-no ao Centro de Alto Rendimento do Jamor onde passou a treinar e a potenciar o seu talento, ao mesmo tempo que competia com as cores do Sporting, a partir de 2017.
A sua "determinação, vontade, para ir mais longe", como nos contou Maria Machado, levou-o a conseguir uma bolsa do Comité Olímpico de Portugal, através da Solidariedade Olímpica Internacional. O sonho de Dorian ganhava novas 'asas'.
"O programa mudou muito a minha vida. Esta bolsa olímpica ajuda-me muito. Neste momento, tenho condições para treinar e ser um atleta de alta competição", congratula-se, em declarações à Lusa.
Da sua evolução ganhou o direito de marcar presença nos Europeus de pista coberta em Torum, Polónia, onde chegou com o 61.º tempo (6,79 segundos) entre os 71 participantes, para representar a equipa de Refugiados e tentar um lugar em Tóqui2020. Foi 61.º em 63 participantes na prova dos 60 metros, com o tempo de 6,91 segundos, longe do seu recorde pessoal.
"Foi uma experiência boa apesar do resultado. É positivo estar na equipa de refugiados da World Athletics, a representar atletas que estão na mesma situação", disse no final o jovem atleta, de 22 anos.
O sonho, garante, "é ir aos Jogos Olímpicos". "É algo enorme. É um sentimento que não tem descrição. É algo imenso".
Farid Walizadeh: uma vida a travar combates
A vida de Farid Walizadeh dava um filme. Ou melhor, uma série de várias temporadas. É uma das poucas histórias de sucesso entre os refugiados. A história de Farid é de resiliência, sofrimento, persistência e coragem. É uma história de sobrevivência extrema.
Órfão de pai ainda bebé, Farid viu a mãe deixá-lo para trás para tentar salvar os irmãos. Perseguida por motivos religiosos, a mãe teve de fugir de um Afeganistão em guerra para o Paquistão, deixando para trás o pequeno Farid, com apenas um ano de vida. A viagem através das montanhas seria demasiado dura e muito dificilmente sobreviveria. Ficou à guarda de uns amigos, a sua família adotiva, em Puli Khumr, uma cidade devastada pela guerra.
Após perder a mãe adotiva, vítima de tuberculose, Farid Walizadeh foi vendido por um 'tio' a uma rede de tráfico humano, que lhe prometera a Europa. Aos sete anos, começou uma jornada de meses, juntamente com mais 200 pessoas, para tentar chegar à Turquia, passando por Paquistão e Irão. A fome, o frio, o calor e outras maleitas foram reduzindo o grupo, à medida que avançavam a pé pelas montanhas. Farid, a única criança do grupo, ia resistindo. Foi dos poucos a chegar ao destino.
Ao chegar à Turquia, foi detido com dois quilos de cocaína na mochila, entregues por quem lhe tinha prometido a Europa: "Pensei que era açúcar", contou à Lusa.
Com nove anos, apanhou-se sozinho, numa prisão turca. Ali, era agredido todos os dias por jovens mais velhos. Farid sabia que tinha de se defender.
Eu inspiro as pessoas e elas também me dão forças. Inspiram-me no sentido de que 'posso fazer'. Parece uma troca de forças
Após sair da prisão, esteve num centro educativo e, aos 14 anos, passou para um centro de refugiados, onde voltaram as agressões e os maus-tratos. Foi quando começou a aprender artes marciais para se defender.
Tentou, juntamente com outros refugiados, chegar à Grécia de barco umas "três ou quatro vezes", mas estas tentativas acabaram sempre com a embarcação a virar ou a polícia a deter o grupo.
Em 2012, a sua vida viria a mudar: uma carta do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) informava-o que Portugal estava disposto a acolhê-lo. Do nosso país, confessa, só sabia que ficava ao lado de África e tinha um jogador de futebol chamado Cristiano Ronaldo, que jogava no Real Madrid. Aterrou em Lisboa a 28 de dezembro de 2012.
Finalmente, Farid podia viver em paz. As memórias da guerra, da fuga pelas montanhas, das agressões e dos maus tratos, da fome, do frio e do calor, eram isso mesmo, memórias do passado.
Foi assim que em Lisboa iniciou-se no boxe, como forma de lidar com os traumas do passado. Com apenas seis meses de treino, sagrou-se campeão nacional de cadetes na categoria dos 57 kg, em 2013. Em 2016 esteve perto de ir aos Jogos do Rio de janeiro, mas uma operação roubou-lhe o sonho.
Aos poucos, o pugilismo deixou de ser algo para esquecer os stresses do passado para fazer parte da vida de Farid. Com ajuda do treinador Paulo Seco, o afegão, agora com 23 anos, está a lutar para integrar a equipa de Refugiados que vai competir nos Jogos Olímpicos de Tóquio no próximo verão.
Com o apoio do projeto 'Viver o desporto, abraçar o Futuro', Farid conseguiu uma bolsa através da Solidariedade Olímpica. Neste momento está em estágio com a seleção de boxe da Federação Espanhola, a preparar-se para uma competição da Federação Internacional de Boxe em Belgrado. O 'bilhete' para Tóquio já podia estar assegurado, mas a pandemia da COVID-19 trocou-lhe as voltas.
"No ano passado esteve muito perto da qualificação: estava inscrito, tinha tudo pronto para ir a um torneio de qualificação olímpica em Londres, mas com o Brexit e por ser refugiado, não teve autorização para se deslocar a Londres e não pode competir", explica-nos Maria Machado, gestora do projeto do Comité Olímpico de Portugal.
Para já, lutas, só no ringue. Fora dele, Farid vive em paz consigo mesmo e com os seus. A 26 de setembro de 2018 conseguiu reunir a família biológica em Portugal, nomeadamente a mãe, três irmãs e dois irmãos, depois de anos de procura.
"Já relaxou parte da minha cabeça […] Eles estão muito bem. Muito felizes. Há paz, não há perigo de vida. Conseguem estudar sem ter medo todos os dias da morte, sem ter medo de, a qualquer dia, cair uma bomba ou um homem forte aparecer para matar por dinheiro, por um terreno ou casa. Ou mulheres não terem direitos, porque não rezaram… Aqui são muito felizes, com paz e saúde. E já têm um futuro à frente", contou à Lusa. Depois de anos de separação, continua o processo de conhecimento mútuo.
"O desporto salvou-me das pessoas erradas"
Dorina Keletela e Farid Walizadeh são o orgulho do programa 'Viver o desporto, abraçar o futuro'. Os dois têm muitas hipóteses de entrar na equipa de refugiados que vai competir nos Jogos Olímpicos de Tóquio no próximo verão. "Não é fácil, mas eles continuam determinados e esta resiliência e determinação demonstradas vão permitir que possam vir a ser qualificados", diz-nos, convicta, esta professora de Educação Física, responsável por este projeto do COP.
Para os Jogos Olímpicos de 2024, o programa conta levar mais dois atletas no atletismo, em provas de meio fundo.
"Provavelmente, no final deste ano, vamos propor para que possam estar a treinar no projeto de preparação para Paris2024. Houve um atleta do Karaté que seguimos durante algum período, mas o tempo em que ele estevem sem conseguir competir na fase de transição até chegar a nós, não lhe permitiu estar em condições físicas para poder participar com algum sucesso nos torneios de qualificação", confessa Maria Machado.
Marcados pela guerra e pela miséria, muitos deixam de acreditar nas suas capacidades. Quem aterra em Portugal já começa a ver o país como ponto de chegada e não apenas de passagem. Até abril de 2018, dois em cada três requerentes de asilo fugiram para outros países da Europa. Com as melhorias no processo de integração, estes números baixaram drasticamente e só 6% deixou o país após a chegada.
O Comité Olímpico de Portugal espera que o sucesso de Farid e Dorian possa inspirar outros refugiados.
"[Os outros refugiados] têm de acreditar nos seus talentos. Não há impossíveis na vida. Basta estarem focados nos seus objetivos. O programa facilitou a minha integração em Portugal. Por exemplo, neste momento estou a aprender a falar português e já o compreendo muito bem", contou Dorian à Lusa em abril de 2020.
O mesmo se passa com o afegão de 23 anos, pugilista de profissão e futuro arquiteto.
"Não sabia uma palavra de português e já está no primeiro ano na Faculdade de Arquitetura. É um orgulho. História de resiliência e vida incríveis. Mesmo que não vá a Tóquio2020, já é uma história de sucesso e o desporto já tem uma quota parte importante de contributo para isso", conta-nos, entusiasmada, Maria Machado.
Após uma vida a ultrapassar obstáculos, na cabeça de Farid só ecoa Tóquio2020, o seu "maior sonho".
"Sempre quis marcar o meu nome na história. [Ser] alguém motivador para todas as pessoas, inspirar. Dar força e mostrar que, se eu consigo, também tu consegues. Nada é impossível e até provar isso para mim próprio", contou à Lusa em abril de 2020, assumindo que o desporto lhe salvou a vida.
"Em criança, na Turquia, vi todo o tipo de gente. Podia ser ladrão, traficante de droga ou humano. O desporto salvou-me das pessoas erradas, más. Salvou-me de muito, até para passar os traumas e stresses do passado".
Convidado muitas vezes para dar palestras e contar a sua história a outros refugiados, Farid Walizadeh quer inspirar outros a sonhar alto.
"A salvação mental é sempre 'vou tentar outra vez', cair e levantar, amanhã há outra vez luz […] Eu inspiro as pessoas e elas também me dão forças. Inspiram-me no sentido de que 'posso fazer'. Parece uma troca de forças", conta.
[Os outros refugiados] têm de acreditar nos seus talentos. Não há impossíveis na vida
Em dezembro de 2013, com 16 anos, recebeu a medalha de ouro do Prémio Direitos Humanos, pela sua história de persistência e coragem.
Entre treinos e combates, Farid vai dando asas a outro sonho. Em 2020 entrou no ensino superior, no curso de arquitetura. "Sempre gostei de desenhar e criar coisas novas. E, como vi muita destruição durante guerra, até com crianças, ficou sempre o trauma e pensei ‘um dia quero criar, construir em vez de destruir'", sonha.
Para os outros refugiados em Portugal, Farid aconselha a prática de desporto, "pela saúde física e mental, e para melhor integração na sociedade".
A procura aumenta e o dinheiro nem sempre chega
Desde a sua criação, o Comité Olímpico de Portugal investiu 500 mil euros no programa, mas as ajudas escasseiam. O COP vai contando com a rede de parceiros formada por clubes e federações desportivas.
"Nestes cinco anos, só por duas vezes tivemos financiamento: da Solidariedade Olímpica e em 2019 da Comissão Europeia. É um esforço muito grande para o COP fazer a compra destes equipamentos. Queremos no futuro que o Governo português olhe para este esforço e que nos possa apoiar para que isto possa prosseguir. Em época de pandemia, em junho de ano passado chegaram 25 jovens com menos de 18 anos, acolhidos pela Cruz Vermelha. Conseguimos dar uma bicicleta a cada um dos miúdos, eles dizem que foi a grande felicidade deles. Não podiam andar de transportes, de fazer nada, ao menos podiam andar de bicicleta na zona onde estavam. Agora chegaram mais 50 jovens. E as bicicletas custam dinheiro", recorda Maria Machado.
"Gostaríamos de inspirar empresas e outras pessoas a ajudar nesta boa vontade. Com muito pouco podemos fazer a diferença. Não haver financiamento é uma limitação", lamenta.
Comentários