A queniana Faith Kipyegon diferenciou-se no sábado como a primeira tricampeã olímpica dos 1.500 metros, num dia de contrastes para Portugal em Paris2024, que devolveu a China à liderança do medalheiro a 24 horas do encerramento.

Cinco dias depois de ter terminado a légua na segunda posição, a recordista e bicampeã mundial da milha reeditou os êxitos no Rio2016 e em Tóquio2020, com 3.51,29 minutos, retirando mais de 1,5 segundos ao anterior máximo, fixado na capital japonesa (3.53,11).

Kipyegon, de 30 anos, ficou à frente da australiana Jessica Hull (3.52,56), segunda, e da britânica Georgia Bell (3.52,61), terceira, num dia em que suplantou a soviética Tatyana Kazankina e o britânico Sebastian Coe no trono dos mais vitoriosos em Jogos nos 1.500.

Emmanuel Wanyonyi também ajudou o Quénia a isolar-se na vice-liderança da tabela de medalhas do atletismo em Paris2024, com quatro conquistas em 10 pódios, ao reforçar o domínio da sua nação nos 800 metros pela quinta edição seguida, com 1.41,19 minutos.

O canadiano Marco Arop, atual campeão mundial, gastou apenas mais um centésimo de segundo, sendo relegado para a prata, seguido do argelino Djamel Sedjati, terceiro, a 31.

Os 100 metros barreiras foram igualmente dramáticos: a norte-americana Masai Russell (12,33 segundos) bateu no limite Cyréna Samba-Mayela (12,34), obreira do único ‘metal’ francês na pista, e a porto-riquenha Jasmine Camacho-Quinn (12,36), ouro há três anos.

Volvida uma fracassada defesa do título nos 1.500, ao ser quarto colocado, o norueguês Jakob Ingebrigtsen redimiu-se nos 5.000, distância na qual é bicampeão mundial, e fez a melhor marca da época, ao gastar 13.13,66 minutos, longe do queniano Ronald Kwemoi (13.15,04) e do norte-americano Grant Fisher (13.15,13), igualmente bronze nos 10.000.

Em contraste com o triunfo em simultâneo de Mutaz Essa Barshim e Gianmarco Tamberi no salto em altura dos últimos Jogos, Hamish Kerr e Shelby McEwen não se entenderam para a repartição do primeiro lugar, que seria logrado pelo neozelandês em vez do norte-americano no desempate por ‘jump off’, após ambos terem superado 2,36.

Se Barshim, do Qatar, garantiu o quarto pódio olímpico consecutivo, ao ser terceiro, com 2,34, o italiano Tamberi, campeão mundial, foi apenas 11.º, com 2,22, atuando diminuído por problemas renais, que o conduziram às urgências hospitalares horas antes da prova.

Haruka Kitaguchi juntou o ouro olímpico ao troféu planetário no dardo, fruto de um ensaio máximo de 65,80 metros, contra os 63,93 da sul-africana Jo-Ane van Dyk e os 63,68 da checa Nikola Ogrodníková, atribuindo o primeiro êxito ao Japão no atletismo em 20 anos.

Dominadores da modalidade ‘rainha' dos Jogos em Paris2024, com 14 ouros, 11 pratas e nove bronzes, os Estados Unidos frisaram essa condição nas estafetas de 4x400 metros.

As mulheres triunfaram pela oitava vez consecutiva, com 3.15,27 minutos, 10 centésimos acima do recorde do mundo, num pódio encerrado por Países Baixos e Grã-Bretanha, ao passo que os homens asseguraram o ‘tri’ com uma nova marca olímpica, de 2.54,43, sob proximidade do inesperado Botswana (2.54,53), prata, e da ‘Team GB’ (2.55,83), bronze.

A derradeira sessão no Stade de France, em Saint-Denis, foi antecedida pela vitória com recorde olímpico do etíope Tamirat Tola na maratona (2:06.26 horas), ao comandar sem oposição durante mais de 12 quilómetros num percurso desnivelado pelas ruas de Paris.

Na véspera de celebrar 33 anos, o campeão mundial da distância em 2022 finalizou com 21 segundos de avanço sobre o belga Bashir Abdi, ‘vice’, e 34 face ao queniano Benson Kipruto, terceiro, para suceder a Eliud Kipchoge, vencedor no Rio2016 e em Tóquio2020.

Estados Unidos e China dividiam o topo do medalheiro à entrada para as derradeiras 48 horas da XXXIII Olimpíada, mas os asiáticos voltaram a destacar-se na frente cinco dias depois, com um ouro de vantagem (39 contra 38), mas menos 32 pódios (90 contra 122).

A certificação dos plenos na natação artística, nos saltos para a água e no ténis de mesa contribuiu para um recorde diário de seis sucessos chineses na capital gaulesa, que teve quase resposta semelhante da ‘Team USA’ (cinco), entre atletismo e desportos coletivos.

Com 24 pontos do ‘inevitável’ Stephen Curry, resultantes de oito ‘triplos’ marcados em 12 tentativas, os norte-americanos fortaleceram a tendência de vencer a França (98-87) nas finais dos torneios masculinos de basquetebol, tal como já tinham feito em Londres1948, Sydney2000 e Tóquio2020, para selarem o ‘penta’, num total de 17 ouros em 21 edições.

Depois de quase ter contrariado a equipa de Steve Kerr nas ‘meias’, a Sérvia controlou a campeã mundial Alemanha (93-83) rumo ao bronze, aproveitando um ‘triplo duplo’, de 19 pontos, 12 ressaltos e 11 assistências, de Nikola Jokić, eleito jogador mais valioso (MVP) da fase regular da Liga norte-americana (NBA) nas edições 2020/21, 2021/22 e 2023/24.

Os Estados Unidos interromperam um ‘jejum’ de 12 anos no futebol feminino, após terem reforçado o estatuto de recordistas de ouros (cinco) e pódios (sete) frente ao Brasil (1-0), que já tinha vacilado com o mesmo oponente em Atenas2004 e Pequim2008, sempre na presença de Marta, seis vezes Bola de Ouro, que disse adeus à ‘canarinha’ aos 38 anos.

No voleibol masculino, a França tornou-se o primeiro país em 36 anos a repetir o troféu e o quarto a triunfar em casa, ao derrotar a Polónia (3-0), líder do ranking mundial, campeã continental e ‘vice’ planetária, num pódio culminado na sexta-feira pelos Estados Unidos.

Destino inverso conheceram os anfitriões no andebol feminino, já que foram destronados pela bicampeã europeia Noruega (29-21), que tinham vencido na final do último Mundial, com as nórdicas a festejarem no palco olímpico 12 anos depois, num total de três êxitos.

O bronze ficou para a Dinamarca, tricampeã entre Atlanta1996 e Atenas2004, ao bater a Suécia (30-25), que repetiu o quarto lugar de Tóquio2020 e continua sem subir ao pódio.

Na véspera de Estados Unidos e Itália medirem forças pelo troféu de voleibol feminino, o Brasil, ouro em Pequim2008 e Londres2012 e finalista derrotado há três anos, derrotou a Turquia (3-1), vencedora do último Europeu, para voltar ao terceiro lugar 24 anos depois.

Além de consagrar campeões nas principais modalidades coletivas, Paris2024 reforçou o estatuto de alguns ‘heróis’ individuais, entre os quais Lisa Carrington, que logrou o oitavo sucesso e igualou a alemã Birgit Fischer como mulher mais bem-sucedida na canoagem.

Recém-vencedora em K2 e K4 500 metros, a neozelandesa, de 35 anos, renovou o cetro em K1 500 com novo recorde olímpico (1.47,36 minutos) e elevou a ‘lenda’ em Jogos, ao juntar-se a Fischer, à cavaleira alemã Isabell Werth e à nadadora norte-americana Jenny Thompson no segundo lugar das desportistas mais laureadas de sempre, atrás dos nove triunfos da ginasta russa Larissa Latynina e da nadadora norte-americana Katie Ledecky.

O dia com mais títulos atribuídos (39) trouxe ainda o êxito da taiwanesa Lin Yu-ting, uma das duas pugilistas no centro da polémica sobre questões de género, na classe feminina de 57kg de boxe, replicando o feito da argelina Imane Khelif, outra das visadas, em 66kg.

Prata no omnium na quinta-feira, o ciclista Iúri Leitão tornou-se o primeiro português a ter duas medalhas numa edição dos Jogos, ao ladear Rui Oliveira na conquista do madison para o sexto título olímpico - após cinco no atletismo - e o 32.º pódio da história nacional.

Portugal igualou o recorde de quatro ‘metais’ alcançado em Tóquio2020 e chegou aos 14 diplomas em França, mas lamentou a manhã infeliz do canoísta Fernando Pimenta, que poderia ter sido o primeiro luso a integrar três pódios olímpicos, mas acabou em sexto a final de K1 1.000 metros, distância na qual é campeão mundial e foi bronze há três anos.