Iúri Leitão e Rui Oliveira estavam quase tão felizes como incrédulos após a conquista da medalha de ouro em ciclismo de pista, na disciplina de madison, nos Jogos Olímpicos Paris2024.

Nas primeiras reações ao feito histórico para o desporto português, os ciclistas revelaram que ainda não lhes "caiu a ficha" do que ambos conseguiram em França.

Confira as declarações dos ciclistas portugueses:

Iuri Leitão

A conquista do ouro em madison: "Vou ser um pouco repetitivo, mas se eu ainda não consegui assimilar a medalha de quinta-feira, imagine esta. Não posso mentir, no início eu estava com ótimas sensações, mas depois do nosso primeiro arranque, senti-me vazio, com as pernas muito fracas. Avisei ao Rui que não estava num bom dia. Tentámos poupar-nos ao máximo porque sabíamos que a prova seria muito desgastante e que poderíamos tirar proveito da parte tática e da nossa paciência, que costumam ser um dos nossos pontos fortes. No final, conseguimos surpreendê-los".

A tática de enganar: "Acima de tudo, temos que lembrar que todos querem vencer a corrida. Todos têm muita energia para gastar, todos estão muito bem preparados para essa prova, e precisamos ter isso em mente: não somos os únicos que querem vencer. Quando há ataques de equipas fortes, não precisamos ser nós a responder diretamente, não precisamos nos desgastar, até porque dávamos a impressão às outras equipas de que estávamos mais fatigados, mais desgastados, o que acabou induzindo-as ao erro de pensar que estávamos piores do que eles. Eles acabaram fazendo um trabalho redobrado, e usando as palavras que o Rui usou, que ele suavizou um pouco, deixamos que se matassem, e depois atacamos. E foi isso que fizemos".

Os muitos anos de treino: "Mesmo tendo uma frieza na análise, isso deixa-me... Não quero parecer frio, apenas estou incrédulo. Ainda não consigo digerir o que está a acontecer. São tantos anos, tantos meses, tantas horas de esforço contínuo, tantos dias ruins, porque todos os desportistas atualmente sabem que 95% dos dias são ruins e apenas 5% são bons. Depois de tanto sofrimento, de tantos dias complicados, conseguir chegar aqui parece um pouco impossível".

Rui Oliveira

A primeira reação ao ouro: "Não, estou sem palavras. A verdade é que isso é... isto nem... não dá para... não dá para... não sei o que dizer, sinceramente".

A vitória histórica: "Não estávamos, provavelmente, entre as sete equipes favoritas. Essa é a verdade. Os italianos talvez não admitissem, mas eu vi muitas vezes eles de olho na nossa roda, com medo de um ataque. Sim, os italianos conhecem muito bem, mas arriscámos nas últimas 50 voltas. O Iuri, acho que nas últimas 60 ou 50 voltas, disse-me: "Vamos arrancar". Eu respondi: "Espera mais um pouco, vamos deixar criar mais fadiga- Acho que as últimas 30 voltas foram nossas. Não sei quantos sprints vencemos, mas senti que estávamos mais fortes. E isso me deu um déjà vu, porque há duas semanas fizemos uma simulação no velódromo da Anadia, em que nas últimas 25 voltas, fizemos 200 voltas atrás da moto, e as últimas 25 foram sozinhos. Eu sentia como se estivesse repetindo aquele treino na pista, e sabia que eram duas voltas no limite, depois descansar um pouco, mais duas, e eram pouco mais de 5 minutos. Nem olhei para o placard, só queria pontos, pontos, pontos. Acho que faltavam 7 voltas quando olhei e estávamos em segundo ou primeiro".

A chamada para a equipa UAE Emirates para celebrar: "Bem, eu tenho que viajar para a Dinamarca amanhã para correr na terça-feira, mas vou tentar falar com a minha equipa, porque acho que este é um momento único na vida, e acho que tenho que ir a Portugal e celebrar com a minha família, com os meus amigos, e espero que todos os portugueses estejam orgulhosos. Obrigado pelo vosso tempo, pela vossa alegria e pela nossa".