Os resultados da natação pura português nos Jogos Olímpicos Paris2024 ficaram “aquém do que era expectável”, admitiu hoje o presidente da federação da modalidade, admitindo que “faltou os atletas estarem no melhor pico de forma” para melhores resultados.
“O balanço da natação portuguesa não foi o esperado, como é de imaginar, e como eram expectáveis face ao caminho que foi percorrido e aos resultados obtidos nos últimos três anos, desde 2021”, disse António José Silva, em declarações à agência Lusa, lembrando os dois títulos mundiais de Diogo Ribeiro e o europeu de Camila Rebelo.
Segundo o presidente da Federação Portuguesa de Natação (FPN), em Paris2024, onde Portugal esteve representado por quatro nadadores na natação pura, “faltou os atletas estarem no pico de forma, no sentido de poderem obter os melhores resultados possíveis”.
“Quando os atletas não estão em forma alguma coisa falhou. E, se falhou, temos todos que assumir a responsabilidade. Portanto, é um processo de aprendizagem e de certeza que o futuro da natação portuguesa está muito bem entregue com a qualidade dos nadadores que temos e que já demonstramos que temos”, afirmou.
Alertando para “o talento dos nadadores, a qualidade técnica e o enquadramento que foi feito por parte dos treinadores”, António José Silva lembrou que “se os atletas tivessem conseguido nadar ao nível das suas melhores prestações, poderiam ser esperados outros resultados. Infelizmente não foi possível”.
O líder federativo, que destacou o 12.º lugar de Angélica André nas águas abertas, a melhor prestação portuguesa de sempre, aludiu à especificidade da competição olímpica e ao facto de os quatro nadadores da ‘pura’, que “tiveram todas as condições, quer por parte do Comité Olímpico de Portugal (COP), quer por parte da federação”, serem estreantes.
“São atletas com muita experiência internacional, mas sem experiência nos Jogos Olímpicos e os Jogos são uma competição completamente diferente de todas as outras. Por tudo, pelo ambiente que geram, pelos condicionalismos que tem, pelo nível de organização, por tudo. E, de facto, falhou estarem no momento certo e no tempo certo nas melhores condições para fazer o resultado desportivo. Foi isso que falhou”, disse.
António José Silva, que também preside à Liga Europeia de Natação (LEN), garantiu que se pudesse voltar atrás na preparação da competição nada mudaria.
“Os resultados não invalidam a qualidade técnica, o talento e o enquadramento que foi feito. Se tivesse que alterar alguma coisa, não alterava nada e manteria foi feito na expectativa de que o resultado fosse diferente”, garantiu.
O presidente da FPN considerou que Diogo Ribeiro, que admitiu não ter gostado da estreia olímpica e teceu críticas à organização, “sabe lidar muito bem com a pressão e com a expectativa do resultado”.
“[Diogo Ribeiro] É um talento que se supera, simplesmente todas as componentes têm que estar bem na altura do resultado, e não é componente psicológica só que determina, são todas as componentes, portanto não acredito que tenha faltado nenhuma parte do trabalho psicológico, o Diogo é acompanhado de uma equipa multidisciplinar, que a todo momento sabe perfeitamente quais são as condições de superação. Ele próprio o assumiu, e disse, a questão é que não estava em forma”, referiu.
De saída da FPN no final do atual ciclo olímpico, António José Silva deixa para o próximo líder federativo a eventual renovação de contrato com o brasileiro Alberto Silva ‘Albertinho’, o treinador de Diogo Ribeiro, que está em Portugal desde 2021.
“O Albertinho continua até final do meu ciclo, depois cabe à nova direção assumir a responsabilidade do que quer para o futuro da natação portuguesa relativamente ao Alto Rendimento”, afirmou.
O presidente da FPN disse ainda compreender e partilhar algumas das críticas feitas por Diogo Ribeiro relativamente à organização dos Jogos Paris2024.
“Eu próprio corroboro parte delas, a organização dos Jogos a nível daquilo que é o atleta não foi cuidado o suficiente, estamos a falar dos transportes, da alimentação, da falta de ar condicionado nos quartos. Mas isso é transversal a todos os atletas, portanto não é por aí, ele achou por bem dizer isto, como um alerta para todos os atletas, não assumindo ele, que isso foi a responsabilidade para o insucesso desportivo”, referiu.
Com um campeão mundial, Diogo Ribeiro, e uma campeã europeia, Camila Rebelo, numa seleção de quatro estreantes, em Jogos Olímpicos, que incluía ainda João Costa e Miguel Nascimento, a natação pura portuguesa deixou Paris sem finais nem recordes nacionais.
Nos Jogos Tóquio2020, Portugal esteve representado por sete nadadores na ‘pura’, que conseguiram um recorde nacional e uma inédita meia-final feminina, por Ana Catarina Monteiro, nos 200 mariposa, com várias marcas aquém do esperado.
Comentários