A ambição dos organizadores dos Jogos Olímpicos de Paris de reduzir a pegada de carbono e fazer dos Jogos uns Jogos mais ecológicos passou também pelo setor da restauração, mas deparou-se com um problema: o enorme apetite dos atletas amantes da carne.
Com o intuito de reduzir para metade as emissões médias de carbono por refeição em comparação com os Jogos Olímpicos anteriores, aumentou a oferta de comida vegetariana. Prometendo não desiludir os visitantes de um país famoso pela sua gastronomia, o comité organizador contratou também vários chefs com estrelas Michelin como conselheiros para trabalharem ao lado do seu fornecedor de alimentos, a multinacional francesa Sodexo.
Mas os primeiros dias na aldeia olímpica trouxeram pedidos por mais carne, ovos e porções maiores, com os atletas a procurarem reaver forças depois de competições desgastantes.
“O único problema tem sido a escassez de alimentos”, afirmou Julio Horrego, nadador das Honduras, à AFP na segunda-feira, quando questionado sobre como estava a correra a vida na aldeia olímpica. "É um pouco surpreendente."
Horrego, que afirma consumir até 5.000 calorias por dia, disse que apareceu para tomar o pequeno-almoço às 10h30 de domingo e descobriu que já não havia ovos. "Se chegar um pouco atrasado já não há o suficiente", disse.
Já o remador romeno Iulian Chelaru deu uma resposta clara quando questionado se faltava alguma coisa: "carne".
"Não havia carne suficiente, mas agora está resolvido", explicou.
O nadador alemão Lucas Matzerath, de 24 anos, disse que o tamanho das porções também estava a aumentar. "No início as porções não eram muito grandes, mas agora melhorou", disse.
O refeitório inclui seis áreas de refeições diferentes que oferecem refeições de todo o mundo, sendo que metade dos 50 pratos disponíveis todos os dias são 100% vegetarianos.
Quem não se mostra preocupada é a jogadora canadiana de voleibol de praia Sophie Bukovec à saída do complexo. "Nós gostamos de verduras por isso não é um problema. Alguns atletas são grandes apreciadores de carne. Estão a tentar resolver o problema. Há proteína, só é preciso saber onde encontrá-la", sublinha.
A Sodexo disse, em declarações à AFP na quarta-feira, que teve efetivamente de ajustar os menus. "Os ovos e os pratos de carne grelhada têm sido muito procurados, pelo que tivemos de aumentar significativamente o número colocado à disposição", disse um porta-voz do grupo. "Há já vários dias que as quantidades oferecidas estão agora em linha com a procura."
Falta de ar condicionado e camas de cartão também geram descontentamento
A oferta de comida vegetariana não é a única diferença na aldeia parisiense em comparação com as edições anteriores, com alguns críticos a apontarem essas diferenças como sendo uma moda 'woke'.
Recorde-se que o complexo habitacional da Aldeia Olímpica, que será convertido em apartamentos após os Jogos, foi construído sem ar condicionado e, em vez disso, tem um sistema de aquecimento e arrefecimento geotérmico subterrâneo renovável.
Algumas seleções como os EUA, a Grã-Bretanha, os Países Baixos ou a França optaram por instalar frigoríficos portáteis para os seus atletas, com temperaturas a ultrapassarem os 30 graus Celsius, com humidade elevada.
"Sofro com o calor. Até agora dormi bem apenas com uma ventoinha, mas ar condicionado seria melhor para a recuperação", disse a jogadora italiana de voleibol de praia Marta Menegatti.
Outra queixas deveram-se à adaptação às camas inovadoras fabricadas no Japão e utilizadas na Aldeia Olímpica, com bases feitas de cartão e colchões de plástico reciclado.
A minha cama é muito dura, não é das melhores", disse à AFP a andebolista espanhola Lysa Tchaptchet, palavras repetidas pela esgrimista polaca Martyna Swatowska-Wenglarczyk.
Ainda assim, outros mostraram-se entusiasmados com os esforços envidados pelo comité organizador de Paris 2024 para ser mais sustentável, nomeadamente reduzindo as emissões e garantindo que todos os equipamentos, incluindo as camas, possam ser reciclados ou reutilizados posteriormente.
"Gostei muito e gostei do que fizeram na aldeia”, afirmou em declarações à AFP o nadador dinamarquês Signe Bro. "Podem fazer-se algumas piadas sobre as camas agora, mas é ótimo para nós, atletas, saber que serão reutilizadas no futuro e que tudo foi construído de forma sustentável".
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