Jorge Fonseca vai dizendo querer ir “combate a combate” em Paris2024, mas não esconde que gostava de se tornar no primeiro judoca português campeão olímpico ou no primeiro a ganhar duas medalhas, considerando-se o seu maior rival.
“Não penso em medalhas, penso em fazer combate em combate, Porque se eu pensar em medalhas, acho que vou-me desconcentrar e não vou conseguir lutar pelo meu objetivo. Então, quero divertir-me e fazer combate a combate e desfrutar do que é melhor para mim”, antecipou, em entrevista à agência Lusa.
Jorge Fonseca já tem a sua medalha olímpica – o bronze nos -100kg em Tóquio2020 – e, embora insista que prefere não pensar em somar mais uma ao seu palmarés, ao longo da conversa vai revelando que gostava de ser “o primeiro judoca a ser campeão olímpico” por Portugal.
“Acredito que tenho potencial para isso e queria muito. Eu quero fazer história, quero ser sempre diferente dos outros. Bronzes, quintos? Já não chega”, reconheceu.
Na capital francesa, onde compete em 01 de agosto, o duas vezes campeão mundial de -100kg (2019 e 2021) acredita que o seu maior adversário será ele mesmo.
“O meu maior rival sou eu. Eu é que assombro a mim mesmo, meto medo a mim mesmo. Tem uns atletas que são muito mais fortes do que eu e acredito que isso pode fazer a diferença, mas acredito que, se eu estiver bem fisicamente e mentalmente, as coisas podem ser completamente diferentes. Se não tiver lesões, as coisas estiverem a correr bem, o meu maior adversário sou eu mesmo. Acredito que se estiver bem consigo vencê-los”, garantiu.
Fonseca considera-se um ‘alvo a abater’, mas promete que serão os seus rivais a ser ‘destruídos’, até porque entrará em competição menos ‘exposto’ do que em Tóquio2020, Jogos a que chegou como número dois do ranking e bicampeão mundial em título.
“Acredito que, como não fui campeão do mundo antes dos Jogos Olímpicos, as coisas também vão favorecer-me um bocado. Acho que posso pôr as coisas por um lado bom e por um lado negativo. Entretanto, acredito que quem está com mais pressão são eles. Eu não, porque eu quero fazer estragos, eles querem proteger aquilo que eles conquistaram, que é aqueles que foram campeão do mundo, vice-campeão do mundo, os dois terceiros”, analisou.
Há outro aliciante nestes Jogos para o judoca do Sporting, que já há “um bom tempo não ganha uma medalha em Paris” e está “com uma grande azia”, porque há “três ou quatro” portugueses que conquistaram o ouro nesse Grand Slam, onde foi medalhado de bronze em 2017.
“O meu treinador [Pedro Soares] tem, acho que o João Neto também tem, o João Pina tem, a Telma [Monteiro] tem. Só me falta a mim É esse o objetivo. E em Paris[2024] vai ser diferente deles todos, porque é nos Jogos Olímpicos”, salientou.
Prestes a participar nos seus terceiros Jogos, Fonseca reconhece que não haverá outros como os do Rio2016, uma vez que tinha acabador de superar um osteossarcoma, um tumor ósseo maligno.
“Posso dizer que trabalhei imenso. E, depois, fiz o trabalho de quimioterapia, radioterapia, sofri imenso. Então, os primeiros Jogos ficaram marcados para mim. Estes Jogos Olímpicos vão ser completamente diferentes, porque eu vou estar a lutar por uma coisa que quero tanto, que é ser campeão olímpico. Nos outros, consegui realizar mais ou menos algum objetivo, ajustar alguma coisa. Nestes, espero fazer algo diferente”, antecipou.
Dos Jogos disputados há três anos – foram adiados devido à pandemia de covid-19 -, recorda ter vivido “grandes momentos”, ligados à perceção do que é conquistar uma medalha olímpica.
“Ser campeão do mundo é específico, mas uma medalha olímpica é completamente diferente, entras para a história de Portugal. Eu queria ter uma medalha olímpica para ser diferente. Essa medalha tem um sabor completamente diferente das outras”, distinguiu.
Jorge Fonseca admite que o bronze de Tóquio2020 “mudou muito” a sua vida, pois agora está lado a lado com “grandes atletas olímpicos”, como Nélson Évora, ouro no triplo salto em Pequim2008, Francis Obikwelu, vice-campeão olímpico dos 100 metros em Atenas2004, e os também judocas Nuno Delgado e Telma Monteiro, os outros medalhados (de bronze) da sua modalidade.
“Eu também queria fazer parte dessa elite. Incomodava-me muito, porque eu era campeão do mundo, mas não tinha medalha olímpica. Isto fazia-me uma mossa. […] Felizmente, eu tenho, agora quero uma diferente para poder superá-los, para poder estar na mesma elite que eles, mas com um estatuto mais diferente”, revelou aquele que se descreve como “o menino querido dos portugueses”.
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