Juan Antonio Samaranch Jr. acredita ter a experiência para liderar a evolução “tremendamente necessária e urgente” do Comité Olímpico Internacional (COI), à presidência do qual é candidato, considerando que é premente reavaliar as fontes de receitas do organismo.
“Há muitos anos que estou no COI, acredito que entendo bem quais são as dinâmicas e as necessidades desta organização. Estamos num momento privilegiado, após uns grandes Jogos de Paris, mas os desafios e as exigências apresentadas pelo futuro são significativos e urgentes. Penso que tenho a experiência tanto no mundo olímpico, como fora do mundo olímpico, no setor dos negócios e das finanças, para poder liderar essa evolução tremendamente necessária e urgente”, afirmou, em entrevista à Lusa.
Vice-presidente do organismo olímpico internacional desde 2016, o espanhol de 64 anos é filho de Juan Antonio Samaranch, que presidiu ao COI entre 1980 e 2001, e um dos sete candidatos a suceder a Thomas Bach nas eleições de março de 2025.
“Temos o desafio permanente, que está muito bem abrangido pela administração de Thomas Bach, que é a universalidade e defender a independência do nosso movimento do mundo político e poder servir as nossas causas fundadoras, da paz, do respeito, da excelência e da amizade. Para isso, é preciso evitar tomar partido nos conflitos que há no mundo, porque se não formos universais, não teremos razão de ser”, defendeu.
À margem da assembleia geral da Associação dos Comités Olímpicos Nacionais (ANOC), a decorrer no Centro de Congressos do Estoril, Samaranch Jr. esclareceu a recente polémica suscitada pela declarações em que defendeu que o COI deveria trabalhar para acabar com a suspensão da Rússia assim que Moscovo voltasse a cumprir as regras, o que motivou uma reação indignada da Ucrânia.
“Neste momento, não estão reunidas as condições para reconsiderar as decisões que estão tomadas sobre a Rússia”, clarificou.
Além das tensões geopolíticas, o espanhol, membro do COI desde 2001, identificou como segundo grande desafio para o próximo presidente do organismo o facto de “as receitas que gera o movimento olímpico sustentarem grande parte do desporto mundial, através das federações e dos comités olímpicos nacionais”.
“Isso, num mundo em permanente transformação, faz com que tenhamos de reavaliar urgentemente os nossos sistemas fundamentais de receitas, que são os patrocinadores e os sistemas de ter patrocinadores, e, por outro lado, o tema das transmissões, com todos os direitos televisivos que temos, mas que neste mundo digital há que reformar urgentemente”, enumerou.
Depois de Paris2024 ter chegado a “mais de metade da população mundial”, Samaranch Jr. acredita que o valor dos Jogos Olímpicos “vai muito mais além da competição em si”.
“Creio que o mundo está desejoso, necessita de ter eventos como os Jogos Olímpicos, em que os valores de paz, de respeito – ao outro e a si mesmo -, de enaltecer o que nos une são tão necessários que acho que cada vez teremos mais influência e mais interesse por parte do público em geral”, argumentou.
Para o espanhol, não é “nenhuma responsabilidade” procurar ‘suceder’ ao pai como presidente do COI.
“Claro que estou orgulhoso do legado do meu pai, fez um grande trabalho num momento muito difícil na história do movimento olímpico, mas passaram 40 e tal anos desde que foi eleito, e mais de 20 desde que morreu. Portanto, não se trata de responsabilidade nem de legado. Ele teve o seu momento, as suas responsabilidades, os seus resultados, e eu espero ter feito um percurso meu, independente, completamente diferente e baseado nas minhas ideias. Nunca pensei que isso me deveria ajudar, mas também espero que não me vá prejudicar”, declarou.
Além do espanhol, são candidatos à liderança do COI quatro presidentes de federações internacionais: o antigo campeão olímpico britânico Sebastian Coe (atletismo), o francês David Lappartient, o japonês Morinari Watanabe (ginástica) e britânico Johan Eliasch (esqui).
Na lista há apenas uma mulher, a antiga nadadora Kirsty Coventry, do Zimbabué, com a campeã olímpica em Atenas2004 e Pequim2008 nos 200 metros costas a tentar terminar com o domínio masculino nos 130 anos de história do COI – foi a única candidata que não marcou presença no Estoril.
O príncipe Feisal al Hussein, da Jordânia, é o último candidato à presidência do COI, organismo do qual é membro desde 2010.
“É uma coisa sã que, de 115 membros, haja sete que tenham ideias suficientemente formadas para proporem aos nossos colegas a sua visão do futuro. Eu aguardo, com muito interesse, para conhecer quais serão as propostas de todos os candidatos, eu estou a trabalhar nas minhas. Creio que é sinal de grande dinamismo, de grande vontade de participar e de que muita gente dentro do nosso organismo quer dedicar toda a sua energia, tempo e capacidade para fazer isto melhor e passá-lo à geração seguinte”, concluiu.
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