O tenista Pedro Sousa espera coroar a concretização de um sonho com a vitória na primeira ronda do quadro de singulares em Tóquio2020, lamentando, contudo, não poder acompanhar outras modalidades naquela que será a sua estreia olímpica.

Pedro Sousa estava em Londres, a preparar-se para a estreia no quadro principal de Wimbledon, quando recebeu a boa nova, pela voz do coordenador técnico nacional e ‘capitão’ da seleção portuguesa da Taça Davis, Rui Machado, acabado de aterrar na capital britânica.

“Foi inesperado, se calhar, entrar logo na primeira lista. Sabia que ia estar perto, achava que tinha chances de entrar, mas mais tarde. Mas foi bom que assim entrei logo e acabou-se o sofrimento”, confessou o número um nacional.

Qualificado, primeiro, através da vaga continental europeia e, depois, diretamente, devido à renúncia de vários tenistas, o lisboeta de 33 anos vai estrear-se em Jogos Olímpicos, um sonho muito seu.

“Para mim, sempre foi um objetivo chegar aos Jogos. Desde há dois anos que passou a fazer parte do meu dia a dia e nunca escondi que foi um objetivo, e felizmente consegui”, reforçou, assumindo que o processo foi “um bocado estranho”.

Pedro Sousa tinha feito “um grande resultado” no torneio de Buenos Aires, onde foi finalista, em fevereiro do ano passado, e ficou “numa boa posição” para garantir um bilhete para Tóquio2020, ao dar um ‘salto’ de quase 40 lugares na hierarquia mundial

“Entretanto, a covid atrasou tudo, não sabia bem se ia haver Jogos, que ‘ranking’ ia contar, como é que ia ser [a contabilização] os pontos. Ficou meio uma incógnita. Acabei o final do ano passado a jogar bastante bem e senti que tinha boas chances de entrar. Infelizmente, este ano não me estava a correr tão bem, mas senti que estava sempre perto. E, pronto, no final das contas, deu”, resumiu.

O tenista do Club Internacional de Foot-Ball acabou por beneficiar da pandemia de covid-19, que ‘assustou’ alguns jogadores, e também das numerosas desistências, de nomes como Rafael Nadal e Roger Federer, ambos com problemas físicos.

“Se calhar [os Olímpicos], não têm a importância que têm noutros desportos, mas ainda assim é um dos eventos mais prestigiados que há, e é ver pelos jogadores que vão disputar este ano, por exemplo, e que têm vencido as últimas edições - foram todos números um do mundo. Vai ser um torneio bastante forte”, perspetivou, salientando ainda que entrou no quadro olímpico, porque “há jogadores que dão prioridade aos pontos e ao dinheiro que nessa semana não há”.

O primeiro objetivo do 119.º jogador mundial é “passar a primeira ronda” em singulares, ‘imitando’ o feito inédito alcançado por João Sousa e Gastão Elias há cinco anos no Rio de Janeiro.

“Vou preparar-me da melhor maneira, tentar fazer um bom jogo e passar a primeira ronda. Depois a partir daí, logo se vê”, disse o tenista, ainda a recuperar de uma lesão abdominal sofrida em Roland Garros, no final de maio, e que “voltou uns passos atrás” em Wimbledon.

Estreante em Jogos Olímpicos, Pedro Sousa, que também vai disputar o quadro de pares ao lado de João Sousa, lamenta não poder assistir a outras competições, de outras modalidades, uma proibição decretada pelas estritas regras sanitárias impostas pela organização de Tóquio2020.

“É o pior. É uma semana diferente do que estamos habituados, era bom poder aproveitar dessa forma. Mas é o tempo em que estamos agora, e vamos aproveitar da maneira que der”, completou.

As restantes limitações não incomodam em demasia o português, que desde o ano passado tem enfrentado “bastantes restrições” nos torneios que disputou. “Já estamos, infelizmente, habituados a essas situações, não é o ideal mas é o que há, e não vale a pena queixarmo-nos muito”, defendeu, sem, contudo, deixar de reconhecer que ter de ficar em ‘bolhas’ e ‘fazer centenas de testes’ é “um bocadinho desgastante”.

A viver uma época agridoce, em que ascendeu a número um nacional e disputou a primeira ronda em Wimbledon, mas também somou mais derrotas do que vitórias, o lisboeta assumiu que “o ano não está a correr muito bem”.

“Mas estou a colher os frutos do que fiz o ano passado. Por isso, tenho alcançado esses pequenos objetivos. Pequenos que são grandes objetivos. Do mal o menos”, estimou.

No entanto, Pedro Sousa nega estar desanimado, preferindo ser otimista: “Não podemos ganhar sempre, são fases que acontecem e já estou habituado a lidar com elas. Toda a minha carreira tive fases menos boas, e fases a seguir que foram positivas, espero conseguir dar a volta o mais rápido possível e voltar a ter bons resultados”.

Até ao final da temporada, só espera “recuperar da lesão”, manter-se “saudável”, e “voltar a jogar bem”,

“Gostava de reentrar no ‘top 100’, mas com toda esta situação do ‘ranking’ – mudam as regras em janeiro, depois em março, depois mudam em agosto – é difícil e não se sabe bem ao que é que vamos, por isso é como digo: tentar voltar a jogar bem, voltar a ganhar jogos, e a partir daí logo se vê”, disse o jogador, que tem como melhor classificação na hierarquia mundial o 99.º lugar, ocupado em fevereiro de 2019.