O bicampeão mundial Jorge Fonseca, eliminado nas repescagens dos Mundiais de judo em Tashkent, onde terminou em sétimo lugar, admitiu no final que quis "despachar" o combate que liderava e foi surpreendido.

“Posso dizer que aquilo foi ‘ganância’. Estava a sentir-me bem, estava bem, estava a ganhar por waza-ari. Acredito que cometi certos erros, já não tenho idade para cometer estes pequenos erros. Estava a ganhar por waza-ari, faltavam dois minutos, podia gerir de forma completamente diferente. Queria finalizar logo o combate, com a minha técnica forte, mas fui contra-atacado”, explicou o judoca.

Desiludido com o resultado, num dia em que era o principal favorito e terminou fora do pódio, após duas vitórias e duas derrotas, o judoca queixou-se dele próprio e dos momentos em que se distraiu ou não soube gerir a luta.

Primeiro, ainda nos quartos de final, perdeu com o azeri Zelym Kotsoiev, 11.º do mundo, que viria a ser medalha de bronze, e, depois, quando relegado para a repescagem, caiu diante do georgiano Ília Sulamanidze (sexto).

Se no combate com Kotsoiev viu-se perdido na indicação da arbitragem e foi surpreendido pelo azeri, no segundo deixou escapar uma vantagem que ele próprio tinha, alcançada ainda antes do meio do combate.

“Fiquei frustrado, da forma em como fui contra-atacado, quando dei por mim ele já estava a imobilizar-me e já não tinha como sair. Foi a gota de água, não estava à espera que fosse apanhado daquele jeito e não estava à espera que ele saísse da minha técnica favorita, porque ele estava bem encaixado, não tive a explosão necessária”, admitiu.

O judoca reiterou que foi a sua “ganância de querer despachar o combate”, reconhecendo que o deveria ter gerido de “forma diferente”.

No final, em que precisou de tempo para poder falar, Jorge Fonseca admitiu a enorme desilusão que sente, num momento em que a parte física está a 100 por cento, ao contrário daquilo que o envolveu antes da competição.

“Não sei o que aconteceu, estou um bocado perdido com as coisas que se passaram ultimamente, não entrar para a polícia, acho que não estava concentrado suficiente para este campeonato do mundo por certas situações que se passaram, mas não quero dar como desculpa. Este campeonato não foi feito para mim”, justificou.

Fonseca sublinhou que o assunto não serve de desculpa, mas não teve problemas em revelar a grande mágoa que sente por ter sabido que reprovou num exame de acesso à polícia através da televisão e de tudo o que foi noticiado.

“Estava um bocado perdido, queria calar isso tudo [no campeonato do mundo], e acabei por não entrar para a polícia, perder o campeonato do mundo, é uma bola de neve que nem sei ainda muito bem como gerir, mas acredito também que tenho uma carreira brilhante no judo”, acrescentou, explicando que seguir a via de professor pode ser um caminho após a carreira de atleta.

Para o judoca foram várias as situações que o abalaram, sem querer fazer disso uma justificação, lembrando que na vida há momentos melhores e outros piores, e que já deu provas de ser capaz de se levantar.

“Já passei por tantas coisas na vida, que não me vou abaixo. Superei um cancro, a seguir fui campeão do mundo, fui abaixo muitas vezes, levantei-me, isso é a vida de um atleta, altos e baixos. Não vou desistir, não sou de desistir tão rapidamente, tenho 29 anos, tenho muito andar para levar pancada e dar pancada, agora, é saber o que correu mal, tentar corrigir pequenos erros, e chegar ao próximo campeonato do mundo e ser melhor. Com ouro ou com bronze, mas quero estar no pódio”, adiantou.

Um caminho que o faz pensar qual a competição a seguir, embora gostasse de pausar um pouco.

“Se for convocado para uma prova, estarei pronto para lutar. Se for daqui a 15 dias, daqui a 20 dias, mas o meu grande objetivo é ganhar o Masters, fazer uma prova antes do Masters. A Federação fará a convocatória e verei com o meu treinador o que é melhor para mim”, disse, assinalando que a competição que anualmente junta os melhores de cada categoria seria a ‘chave’ para ajudar o “ego ferido” de hoje.