A judoca Telma Monteiro reiterou hoje, em audição em sede parlamentar, que o presidente destituído da Federação Portuguesa de Judo (FPJ), Jorge Fernandes, não tem condições para liderar o organismo, no qual continua a ter palavra.
“Não acho que tenha condições para ser presidente, não tem ética e moralmente condições. Continua a estar presente e a mandar nos funcionários, continua a marcar os voos em cima da hora”, começou por ilustrar a judoca.
Telma Monteiro compareceu na Comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, juntamente com os também judocas Rodrigo Lopes, Rochele Nunes, Anri Egutidze e Patrícia Sampaio, e em representação de Bárbara Timo, após requerimento do Bloco de Esquerda e no âmbito no conflito existente na modalidade.
A judoca lusa mais medalhada de sempre respondia às questões dos deputados, sendo que Joana Mortágua foi a primeira a intervir, como representante do partido que requereu a presença dos judocas que escreveram em agosto a carta aberta de ‘descontentamento’ ao atual estado da modalidade e ao papel do ex-presidente.
Apesar de destituído em dezembro, Jorge Fernandes compareceu na Assembleia da República no carro da Federação Portuguesa de Judo (FPJ), um cenário que o mesmo, posteriormente, justificou com autorização do organismo, e depois de Telma Monteiro também ter denunciado o facto nos momentos iniciais da audição, além de motivar a estupefação do presidente o Instituto Português da Juventude e do Desporto (IPDJ), Vítor Pataco, o último a ser ouvido hoje pela comissão.
Questionada em relação à preparação olímpica, pela deputada Cristiana Ferreira (PSD), Telma Monteiro sublinhou que os judocas continuam a ser prejudicados por várias decisões da Federação e alertou que o presidente destituído continua a ter um papel central.
“O filho do presidente na Federação, os funcionários continuam a referir-se como presidente, e, sim, continuamos a ser prejudicados e não vemos nenhum plano de ação”, alertou a judoca, dando exemplos com voos marcados em cima da hora ou a apontar a existência de problemas com o seguro, que já a obrigaram a pagar despesas médicas que não lhe competiam.
Para a judoca, é claro que o ex-presidente continua a ter um papel ativo na federação e que existe medo de outros darem a cara.
“Recebemos várias mensagens de outros atletas e treinadores, muitas das pessoas não falam por medo, continua [Jorge Fernandes] a ter acesso aos recursos. Há muitos modos de exercer represálias”, acrescentou a judoca, dando como exemplo as não convocatórias para a Taça Europa de cadetes, penalizando clubes.
Em termos de preparação, Telma Monteiro revelou que desde que se abriu o diferendo que todos os judocas afetados sentem necessidade de acompanhamento, perante a grande instabilidade que existe, com reflexos no plano emocional.
“Fomos ameaçados de ser processados e de não termos verba. Teve grande impacto. A pessoa que não tem moral e ética e continua a mandar. Tudo tem grande impacto, não temos grande esperança – mas queremos ter. Vamos continuar a sofrer represálias e os recursos financeiros a ser mal gastos”, disse ainda, em resposta às questões colocadas por Patrícia Vaz, da Iniciativa Liberal.
No aspeto financeiro, a judoca sublinhou aquilo que diz ser a forma negligente na gestão de recursos da FPJ – que gere a verba de preparação olímpica -, e disse não se admirar caso o organismo venha a afirmar daqui há uns meses que não há dinheiro.
“Quem lá está gere de forma negligente e não me admira que daqui a uns meses venha dizer que não temos recursos. Afeta a saúde mental, não nos conseguimos focar no que é a nossa profissão”, frisou.
Um cenário que foi quase de imediato apresentado à Comissão, com o ex-presidente Jorge Fernandes, ouvido logo após os judocas, a dizer que alguns estão a começar a ficar a mais de metade do que têm disponível em verbas para todo o ano.
"No final do mês de março há atletas que já têm 17.000 euros, de 28.000 disponíveis, gastos. O dinheiro não chega, o financiamento. O problema que aconteceu em agosto, este ano vai acontecer o mesmo. Há atletas que já gastaram mais de metade das verbas que têm direito o ano todo", alertou o ex-dirigente, explicando que se documentou e pediu dados antes de se apresentar à comissão.
Na audição, Jorge Fernandes admitiu também ter-se deslocado até à Assembleia da República no carro da Federação, autorizado pela mesma, mas garantiu que está fora do organismo desde a sua destituição, em dezembro, quando cumpria o segundo mandato.
"Não tenho nada a ver desde o dia 18 de dezembro. Não lhe posso responder como é que ela está a ser gerida. Está uma direção, está um grupo de pessoas que está a gerir e que está a manter a Federação. Não posso responder a isso", respondeu quando questionado pela deputada Inês Barroso (PSD) em relação à gestão atual da FPJ, de que forma é que a mesma está a ser processada.
Na audição, o ex-dirigente voltou a avaliar os resultados obtidos enquanto esteve à frente do judo como os melhores de sempre, em medalhas, títulos, presença olímpica, resultados, crescimento da modalidade (acima dos 17.000 praticantes) e continuou a defender ter condições de elegibilidade para nova candidatura - em eleições marcadas para 29 de abril.
"O tribunal não diz que não posso ser candidato, desculpe o mau jeito. Se acho ou não, é uma decisão minha. Se vou ser treinador, ou se vou ser candidato. Compete-me a mim, naturalmente. Depois de sanadas as irregularidades? Não tenho direito? A lei não diz nada sobre isso. Volto a dizer, não perco o mandato por idoneidade, mas por duas incompatibilidades [contratação do filho e cargo de treinador no Judo Clube de Coimbra]. Corrigi e tenho o mesmo direito dos outros, desculpe o mau jeito", disse, em resposta a nova interpelação da deputada do BE.
Em fevereiro, o Tribunal de Loures desconvocou o ato eleitoral – a que concorriam duas listas - previsto para 19 desse mês, considerando que a eleição se deveria proceder apenas para o cargo de presidente e não para todos os órgãos sociais, como tinha indicado o IPDJ, em ofício à FPJ.
De acordo com o juiz, as eleições para todos os órgãos iriam ferir a legitimidade democrática, tendo em linha de conta que os membros dos órgãos não tinham sido destituídos, nem tinham apresentado a demissão, e, por isso, estavam em funções.
Um cenário que já levou a Mesa da Assembleia Geral, presidida por Carlos Andrade, a marcar eleições para 29 de abril, apenas para o cargo de presidente.
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