Jorge Vieira deixou a Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) depois de 12 bem-sucedidos anos de presidência, outros tantos como Diretor Técnico Nacional (DTN), apontando, em entrevista à agência Lusa, como pináculo os ouros olímpicos alcançados.

Pedro Pablo Pichardo, no triplo salto em Tóquio2020, e Nelson Évora, em Pequim2008, ainda como DTN, foram os campeões olímpicos a que se referiu Jorge Vieira, quando questionado sobre o balanço da sua passagem pelo organismo que rege o atletismo em Portugal.

"No nosso caso, não tenho dúvidas nenhumas que, respondendo então muito concretamente, há mais sucessos do que insucessos, felizmente", começou por avaliar, reconhecendo que os "momentos em que se conquistam medalhas são os momentos em que culmina todo o trabalho".

Na pista do Estádio Nacional, em Oeiras, atribuiu o mérito destas 13 medalhas olímpicas (de 32 nacionais) à "família da modalidade", seguindo, por ordem: "atleta, treinador, clube, associações, federações, as famílias e as entidades financiadoras".

"Voltando à questão, são as medalhas olímpicas o nosso momento mais alto e, naturalmente, termos mais um campeão olímpico e uma medalhada de prata [Patrícia Mamona], com o Pedro Pichardo a conquistar uma segunda medalha [a prata, em Paris2024]. Mas também as sete medalhas paralímpicas são, obviamente, a cereja no topo do bolo e o resultado de toda uma dinâmica criada ao longo dos anos pela modalidade", recordou.

Jorge Vieira destacou as 44 medalhas conquistadas em grandes competições (Jogos Olímpicos e Paralímpicos, Mundiais e Europeus) desde 2012, reconhecendo a impossibilidade de "ter o meio-fundo do passado", com atletas como Fernanda Ribeiro, Rosa Mota e Carlos Lopes, simplesmente porque "o país é diferente e o mundo é diferente".

"Todos esses resultados foram conquistados no início do apogeu e do domínio do atletismo africano, que afetou não só Portugal, mas a generalidade dos países. Agora, vemos uma maioria africana esmagadora [...]. Naturalmente que eu gostaria de ter o meio-fundo ainda com mais sucesso, mas orgulho-me muito do atletismo que temos hoje, o atletismo mais global. Com sucesso em várias disciplinas e em quase todos os setores da modalidade", sublinhou, antes de apontar os nomes de várias esperanças e algumas certezas nacionais desta especialidade.

Tendo como meta deixar o mundo melhor do que o encontrou, Jorge Vieira assegura que a modalidade está melhor do que em 2012, quando derrotou Leonel Carvalho, ilustrando esta avaliação com os atuais números recorde de 713 clubes e 23.806 atletas federados, um "quadro competitivo invejável em todos os escalões etários em pista coberta, ao ar livre, no corta-mato, na estrada, na montanha e no trail", apresentando ainda bons resultados no processo de modernização federativa.

"Eu gostaria de terminar a avaliação do desempenho da modalidade com dois momentos também para mim muito importantes, um mais sentimental e o outro muito desportivo, que foi o honrosíssimo oitavo lugar do Campeonato da Europa de Nações, ao pé dos sete grandes […] e outro, já depois das eleições. No último dia 20 de novembro, Portugal foi apontado como uma das seis candidatas a federação do ano pela World Athletics. Este é o talvez o melhor prémio internacional de reconhecimento do desempenho da federação, escolhido pela European Athletics para este desafio mundial, entre 214 países", concluiu.

No sentido oposto, Jorge Vieira apontou como "dissabores" os momentos vividos, "sempre com grande emoção", por todos os atletas que ficaram à beira do pódio, nomeando apenas os casos de Naide Gomes, em Pequim2008, e do seu agora sucessor Domingos Castro, em Seul1988, que fizeram com que "outros atletas chegassem mais longe".

Instado a apontar uma "mágoa", o ex-líder federativo apontou uma, generalizando-a ao desporto português.

"Julgo que o desporto nacional necessita claramente de um desenvolvimento muito especial no desporto juvenil. É no que eu sinto que o desporto português pode crescer e desenvolver-se muito. É precisamente onde tem a maior margem de progresso. É na democratização da prática, mais jovens a terem acesso a uma prática desportiva com qualidade e, dentro desta qualidade, a uma prática multidesportiva, para que os nossos jovens não pratiquem apenas uma modalidade", descreveu.

Na despedida da presidência da FPA, em 16 de novembro último, Jorge Vieira passou literalmente o testemunho ao sucessor Domingos Castro, a quem desejou "o melhor, porque desejar o melhor ao Domingos Castro, é desejar o melhor à modalidade".