O treinador de atletismo Paulo Murta, que orienta a recordista nacional dos 20 quilómetros marcha, Ana Cabecinha, considerou “absurda” a troca da prova de 50 quilómetros por uma estafeta mista nos Jogos Olímpicos Paris2024.

“Esta é das decisões mais absurdas que pôde haver. Não encontro um ponto positivo: Não é boa a distância, não permite mais atletas nos Jogos, nem mais países em competição. É para nada! Quero pensar que foi alguém que acordou mal disposto e apresentou isto. Sim, foi votado pelos países, mas há uma centena deles que nem marcha têm”, explicou o técnico, em declarações à agência Lusa.

Em 08 de abril último, o Comité Olímpico Internacional (COI) e a World Athletics (WA) confirmou o desaparecimento da prova mais longa da marcha, que já havia sido substituída pelos 35 quilómetros nos Mundiais e Europeus, a favor de uma estafeta na distância da maratona (42,195 km), dividida por dois atletas.

“É aberrante! Era como meter os 5.000 metros a serem feitos por quatro atletas, mas, aqui [na marcha], é por dois, que vão ter uma paragem de cerca de 40 minutos. Isto não é biatlo, em que se para e faz um tiro, aqui não vão fazer nada e como é que fisiologicamente se prepara um atleta para uma paragem tão grande?”, questionou Murta.

Em Paris2024 vão estar 25 seleções em competição, cada uma composta por um atleta masculino e um feminino, que completarão a distância em quatro etapas de distância aproximadamente igual. Cada atleta completará duas etapas de pouco mais de 10 quilómetros cada, alternando masculino, feminino, masculino, feminino.

“Já estava preocupado e agora ainda fiquei mais, porque estamos a esgotar uma disciplina, quando basta um atleta por país por cada Jogos Olímpicos. Eu temo que seja uma forma de retirar a marcha das grandes competições e uma das desculpas deverá ser o número de desistências: Vão partir 25 mas dificilmente vão terminar, por questões fisiológicas, técnicas, de cansaço e, provavelmente, nem 10 acabam. Depois, concluem que é um fracasso e em Los Angeles2028 e Brisbane2032 fica um programa com duas provas de marcha, uma masculina e outra feminina”, advertiu.

Paulo Murta salientou que “todo o mundo da marcha está triste”, questionando ainda a coerência das duas entidades responsáveis pela decisão.

“Para Tóquio2020 não houve prova feminina de 35 quilómetros, porque só faltava um ano e meio. Então e agora? Estamos a um ano e meio e vamos ter a estafeta mista. É muito grave por estarmos a 16 meses dos Jogos e nunca termos experimentado isso, nem sabemos o processo de qualificação… devíamos estar focados nos Jogos e estamos preocupados com uma invenção”, rematou.

A peruana Kimberly García, campeã do mundo dos 20 e dos 35 quilómetros, que revalidar em Budapeste2023 os títulos conquistados no ano passado em Eugene, mesmo lamentando que não possa competir nas duas distâncias em Paris2024.

“Eu adorava fazer os 35 nos Jogos Olímpicos e há muitos marchadores que se estavam a preparar exclusivamente para isso, em quatro anos, e, de um momento para o outro, deixou de haver. Isso afeta muitos, não é só conversa. Eu também gostava de participar nos 35, mas esta decisão está tomada, não há nada a fazer e temos de acatar. Não sei se participarei na prova mista. Não estou conformada, mas não está nas nossas mãos”, lamentou a peruana, recordista mundial dos 35, em declarações à Lusa.

A estafeta da marcha será disputada na quarta-feira 07 de agosto de 2024, às 07:30 locais (06:30 em Lisboa), seis dias depois das provas individuais de marcha atlética de 20 quilómetros, o que permitirá que os marchadores compitam nas duas provas.