Jasper Philipsen chorou na televisão, por estrear-se finalmente a vencer na Volta a França em bicicleta, após oito lugares no ‘pódio’, numa 15.ª etapa cruel para a Jumbo-Visma, que perdeu dois ‘escudeiros’ do amarela Jonas Vingegaard.

Há muito que o belga de 24 anos procurava um triunfo que lhe escapou por pouco até agora – em duas participações no Tour, foi quatro vezes segundo e quatro terceiro em etapas –, e que até festejou sem o ser, mas, ao contrário do que aconteceu na quarta tirada, hoje o ciclista da (Alpecin-Deceuninck) foi mesmo superior ao compatriota Wout van Aert, segundo pela quarta vez nesta edição da ‘Grande Boucle’.

“Não queria chorar na televisão”, declarou na ‘flash interview’, sem conseguir, apesar de tentar, evitar as lágrimas: “Foi uma procura tão grande por esta vitória, trabalhámos muito duro para isto. Estou super orgulhoso por podermos finalmente ganhar após um Tour difícil. Tivemos de esperar até à 15.ª etapa, mas toda a gente continuou a acreditar”.

O sonho de uma vida de Philipsen foi ainda mais especial porque o talentoso ‘sprinter’ bateu no risco de meta Van Aert, mas também Mads Pedersen (Trek-Segafredo) e Peter Sagan (TotalEnergies), respetivamente terceiro e quarto, encabeçando um pelotão, com todos os principais nomes da geral, que chegou a Carcassonne após 04:27.27 horas a pedalar sob um sol escaldante e com temperaturas a rondar os 40 graus Celsius.

O dia em que a Bélgica se tornou a nação com mais triunfos neste Tour (quatro) foi também o do sobressalto para a Jumbo-Visma, que, em menos de sete horas, perdeu dois ciclistas (os ‘portentos’ Primoz Roglic e Steven Kruijswijk) e ainda viu Jonas Vingegaard cair, aparentemente sem consequências – o dinamarquês vai para o terceiro e último dia de descanso com os mesmos 02.22 minutos de vantagem para Tadej Pogacar (UAE Emirates).

A 15.ª etapa da 109.ª ‘Grande Boucle’ começou com várias más notícias: a desistência de Roglic, finalmente ‘derrotado’ pelas mazelas provocadas pela queda na quinta etapa, os abandonos de Magnus Cort (EF Education-EasyPost) e Simon Clarke (Israel-Premier Tech), apanhados pela covid-19, e o alerta de calor extremo, que levou a organização a ‘ajustar’ as regras, nomeadamente do descarte de bidons, para os 202,5 quilómetros entre Rodez e Carcassonne.

A canícula, no entanto, não intimidou os ciclistas, com van Aert, libertado das suas funções como super-gregário de Vingegaard, a ser um dos primeiros a tentar formar uma fuga, na companhia de Nils Politt (BORA-hansgrohe) e Mikkel Honoré (Quick-Step Alpha Vinyl), logo ao quilómetro cinco.

As movimentações no pelotão provocaram cortes e ‘vice’ da geral ficou mesmo num segundo grupo, sem companheiros de equipa, conseguindo reentrar metros mais adiante, quando os fugitivos já iam lançados – o trio consolidou a diferença nos dois minutos.

A fuga inicial ficou irremediavelmente condenada quando a Jumbo-Visma mandou parar o camisola verde, e, perto do quilometro 150, Politt e Honoré foram alcançados por ‘obra’ de BikeExchange-Jayco, Alpecin-Deceuninck e Trek-Segafredo.

Cientes de que esta seria uma das derradeiras oportunidades de levarem os seus ‘sprinters’ à vitória nesta edição, as três equipas mantiveram o duo a uma distância controlada, de modo a evitar que novas fugas se formassem caso a escapada fosse anulada demasiado cedo.

Numa jornada sem história, foram os novos azares da Jumbo-Visma a grande notícia do dia: após ficar sem Roglic, a equipa neerlandesa perdeu também Kruijswijk, retirado em maca depois de ter sofrido uma queda a 63 quilómetros da meta – e, de repente, o camisola amarela ficou com apenas cinco companheiros para defender a sua liderança, o mesmo número de ‘escudeiros’ com que conta Pogacar.

Ainda mal refeitos do abandono do terceiro classificado do Tour2019, os homens da Jumbo-Visma sofreram novo susto: Tiesj Benoot caiu e arrastou o dinamarquês, que, depois de mudar de bicicleta, retomou a marcha, com a amarela suja, mas sem mazelas visíveis.

O compasso de espera pelo líder da geral serviu para os franceses Benjamin Thomas (Cofidis) e Alexis Gougeard (B&B Hotels-KTM) se distanciarem do pelotão, numa aventura que acabou por durar mais do que o esperado após alguns dos ‘sprinters’ descolarem na última contagem de terceira categoria da jornada.

O pelotão facilitou e só a 400 metros da meta é que alcançou Thomas, no momento exato do lançamento do ‘sprint’, que permitiu o quarto triunfo em grandes Voltas (tem três na Vuelta) e a “mais bela vitória” de Philipsen.

Após a 15.ª etapa, na qual Nelson Oliveira (Movistar) cedeu 24 segundos para o vencedor, para ser 68.º na geral, Vingegaard manteve intactas as distâncias para os perseguidores, nomeadamente para o terceiro classificado, o britânico Geraint Thomas (INEOS), que está a 02.43 minutos, e vai procurar agora recuperar as forças, antes de regressar à estrada, na terça-feira, para o primeiro de três dias nos Pirenéus.

A 16.ª etapa, uma ligação de 178,5 quilómetros entre Carcassonne e Foix, não tem chegada em alto, mas sim duas contagens de primeira categoria, a última das quais a menos de 30 quilómetros da meta.